Empreendedora que fundou a Theranos, healthtech que prometia centenas de exames a partir de uma gota de sangue e chegou a ser avaliada em US$ 9 bilhões (cerca de R$ 45 bilhões) em 2014, Elizabeth Holmes vai nesta terça-feira (30) para a cadeia. Exaltada pela mídia e apontada como um “novo Steve Jobs”, deve começar a cumprir a pena de 11 anos a que foi condenada.
Holmes foi considerada culpada por quatro acusações de fraude eletrônica e conspiração para cometer fraude eletrônica. O juiz recomendou que ela cumprisse sua pena em um presídio feminino do Texas.
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O tribunal federal do Distrito Norte da Califórnia também ordenou que Holmes e o ex-COO da empresa, Ramesh “Sunny” Balwani, pagassem cada um US$ 452 milhões (R$ 2,25 bilhões na cotação atual) como restituição aos investidores afetados pela fraude.
Veja 10 fatos para entender a trajetória da empreendedora, de 39 anos, e sua startup.
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Largou a faculdade e se destacou no Vale do Silício
Holmes tornou-se conhecida ao abandonar a faculdade de Stanford aos 19 anos, em 2003, depois de alguns meses, e fundar a Theranos, startup de exames de sangue que ela dizia que revolucionaria a indústria da saúde.
Ela se inspirou na carreira médica do seu avô e em um estágio de verão que fez no mesmo ano no Genome Institute of Singapore para criar a empresa, à época chamada Real-Time Cures.
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Atraindo grandes personalidades
Para levantar o financiamento inicial, Holmes (na foto, em encontro em 2015 com o ex-presidente dos EUA Bill Clinton, à esquerda, e o fundador do Alibaba, Jack Ma) procurou conexões na sua família. Os dois primeiros investidores na Theranos foram o bilionário Tim Draper, seu ex-vizinho e investidor de empresas como Tesla e Skype, e Victor Palmieri, amigo de longa data de seu pai.
No final de 2004, Holmes havia levantado quase US$ 6 milhões (R$ 29,9 milhões) usando private placements, ou seja, sem registro na SEC (a CVM dos EUA).
Entre os principais investidores estavam Rupert Murdoch, acionista majoritário da News Corporation, e Henry Kissinger, ex-Secretário de Estado e Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA.
Graças à quantidade de capital que Holmes levantou, a Theranos entrou no seleto grupo de startups “unicórnio” – empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão (R$ 4,9 bilhões).
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Ícone empreendedor
Inspirada em Steve Jobs, Holmes tornou-se conhecida por sua marca registrada: gola alta preta e voz profunda. Como uma das poucas mulheres no Vale do Silício, ela foi aclamada como uma figura aspiracional para outras empreendedoras da área de tecnologia. Estampou a capa de grandes veículos, como Forbes, Fortune e New York Times. Holmes foi até mesmo nomeada pelo ex-presidente dos EUA Barack Obama como embaixadora do empreendedorismo global.
Holmes estava vivendo seu auge como a mais jovem bilionária self made, que construiu sua própria fortuna. Em 2014, a empresa de investimentos Partner Fund comprou 5,6 milhões de ações da Theranos a um preço de US$ 17 por ação. A Theranos foi avaliada em US$ 9 bilhões e Elizabeth Holmes tinha um patrimônio líquido de quase US$ 5 bilhões.
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Controvérsias da Theranos
Em novembro de 2006, o diretor financeiro da Theranos, Henry Mosley, foi demitido após questionar a confiabilidade da tecnologia e a honestidade da empresa.
Outras pessoas também começaram a desconfiar da tecnologia da empresa. Um tenente-coronel abordado por Holmes sobre a implantação de um dispositivo da Theranos nas forças armadas demonstrou preocupação com a empresa, assim como o cientista chefe da própria companhia.
Em meio a questionamentos, a Theranos obteve sua primeira aprovação do FDA, em julho de 2015.
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Começo do fim
Os delitos foram expostos pela primeira vez em uma série de reportagens do Wall Street Journal em 2015 e 2016 e tornaram-se conhecidos por meio do documentário da HBO de 2019, “A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício”.
Em 2016, a empresa perdeu parcerias importantes que havia feito, com as redes de farmácia e supermercado Walgreens e Safeway.
No mesmo ano, a agência do governo americano que regula laboratórios demonstrou preocupação com a segurança da Theranos. Em maio, Sunny Balwani, ex-namorado e executivo, deixou a empresa, deixando Holmes sozinha.
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Acusações de todos os lados
A Theranos precisou responder ações judiciais de parceiros como a rede de drogarias Walgreens, investidores e pacientes.
Em 2018, a SEC acusou Holmes, Balwani e a empresa de fraude. Holmes e a Theranos fizeram um acordo que envolveu uma multa e a proibição de atuar como diretora de uma empresa de capital aberto por 10 anos.
Em junho do mesmo ano, Holmes e Balwani foram acusados de fraude eletrônica. Antes da acusação, ela deixou o cargo de CEO da Theranos.
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Julgamento e condenação de Elizabeth Holmes
Em novembro de 2022, Holmes foi condenada a 11 anos de prisão por fraudar investidores. No julgamento, os promotores argumentaram que Holmes estava “bem ciente” de que as máquinas da Theranos não podiam realizar dezenas de testes usando apenas algumas gotas de sangue. Apesar disso, ela falsificou a receita da empresa e usou máquinas de terceiros para enganar investidores e organizações parceiras.
O ex-controlador corporativo da Theranos disse no julgamento que a empresa estava registrando perdas recordes, enquanto Holmes exagerava as projeções de receita para alguns investidores.
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Família de Holmes
Holmes começaria a cumprir sua pena em 27 de abril, mas a data foi adiada enquanto se considerava a apelação. Os advogados dela apresentaram para que 30 de maio fosse a data para o início da sentença, dizendo que ela precisava de tempo para se preparar com “arranjos médicos e cuidados infantis em antecipação do início de sua sentença de 135 meses”, segundo a CBS San Francisco. Holmes tem dois filhos com seu parceiro William Evans.
Antes disso, os promotores federais fizeram oposição a seus pedidos, considerando que havia um risco de fuga depois que ela comprou uma passagem só de ida para o México após ter sido condenada por fraude, levando os promotores a alegar que ela “tentou fugir do país”.
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GETTY IMAGES Ex-COO e ex-namorado
Ramesh “Sunny” Balwani, ex-COO da Theranos e ex-namorado de Elizabeth Holmes, também foi condenado por 12 acusações de fraudar investidores e pacientes da Theranos e começou a cumprir sua sentença de quase 13 anos em abril de 2022. Procuradores da Justiça Federal dos EUA abriram processos contra os dois em 2018, mas eles foram julgados separadamente.
Holmes e Balwani começaram a namorar em 2003, quando ela abandonou os estudos em Stanford para fundar a empresa. Balwani começou a trabalhar oficialmente no negócio em 2010.
Holmes acusou Balwani de ser fisicamente e psicologicamente abusivo durante seu relacionamento – ele nega.
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True Crime
Os delitos de Elizabeth Holmes e da sua empresa foram expostos pela primeira vez em uma série do Wall Street Journal em 2015 e 2016 e tornaram-se conhecidos por meio do popular documentário da HBO de 2019, The Inventor: Out for Blood in Silicon Valley. Em 2022, a história virou minissérie do Star+, baseada no podcast homônimo The Dropout e estrelada por Amanda Seyfried. Em entrevista ao “New York Times” no início de maio deste ano, prestes a ser presa, ela apareceu com um visual mais neutro, cabelos soltos e sem os tradicionais batom vermelho e gola preta. “Eles não estão me interpretando. Estão interpretando uma personagem que eu criei”, disse ela sobre as produções cinematográficas baseadas na sua história.
Largou a faculdade e se destacou no Vale do Silício
Holmes tornou-se conhecida ao abandonar a faculdade de Stanford aos 19 anos, em 2003, depois de alguns meses, e fundar a Theranos, startup de exames de sangue que ela dizia que revolucionaria a indústria da saúde.
Ela se inspirou na carreira médica do seu avô e em um estágio de verão que fez no mesmo ano no Genome Institute of Singapore para criar a empresa, à época chamada Real-Time Cures.