Na tarde desta terça-feira (27), a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) anunciou as 23 jogadoras escolhidas – com mais três na lista de espera – pela técnica Pia Sundhage para jogar a Copa do Mundo, que terá início em 20 de julho e será disputada na Austrália e na Nova Zelândia. O Brasil, que faz parte do grupo F, faz sua estreia no dia 24, contra o Panamá.
Proibido no Brasil por um decreto de 1941 expedido durante do governo de Getúlio Vargas, o futebol feminino voltou a ser permitido no país em 1979. Apesar de dispor de bem menos recursos e visibilidade que o masculino, a seleção brasileira segue há anos como a melhor da América do Sul e algumas de suas principais jogadoras históricas, como Marta, Formiga e Cristiane, já bateram recordes na modalidade – inclusive em comparação com homens.
Leia também
- CBF e Animale ouvem opinião de jogadoras para criar 1ª alfaiataria para a Copa
- Os feitos das brasileiras indicadas para os prêmios de melhores do ano da Fifa
- Futebol Feminino dos EUA tem acordo de equidade salarial aprovado
A seguir, confira 10 curiosidades sobre a seleção brasileira para conhecer a história do time e a evolução do futebol feminino no país.
-
Primeira geração da Seleção Brasileira na China (Acervo Museu do Futebol/Rosilane Motta) 1. Seleção feminina jogou sua primeira partida em 1988
A primeira partida que a Seleção Feminina jogou foi para o primeiro campeonato mundial, em 1988, na China, organizado pela Fifa para testar uma possível Copa do Mundo feminina. Até 1979, o futebol era proibido às mulheres no Brasil por um decreto de Getúlio Vargas em 1941 que proibia a prática da modalidade por elas. “As mulheres nunca pararam de jogar, a despeito da proibição”, diz Aira Bonfim, pesquisadora sobre a história do futebol feminino no Brasil e curadora da exposição Rainha de Copas, no Museu do Futebol. “No entanto, não tinha o mesmo tratamento para o desenvolvimento da modalidade, seja ela de forma oficial ou de profissionalização das mulheres que jogavam.”
Os primeiros jogos aconteceram em 1940 no estádio do Pacaembu, com São Paulo contra Flamengo e Casino do Realengo contra Sport Club Brasileiro, dois times do subúrbio carioca que fariam uma partida de abertura. O jogo gerou controvérsia de boa parte da sociedade da época e juntou cerca de 65 mil pessoas nas arquibancadas. Um ano depois, em 1941, Getúlio Vargas baixou o decreto proibindo a prática do futebol pelas mulheres por ser “contra a natureza feminina”.
Quando voltou a ser permitido, clubes de futebol feminino voltaram a surgir, mas a Seleção ainda não tinha investimento. Por isso, em 1988, quando o Brasil foi convidado a participar de um campeonato mundial feminino – ainda experimental – pela FIFA, a Seleção foi composta pelas jogadoras do clube carioca Radar. O clube, de propriedade do empresário Eurico Lyra, se diferenciava dos demais por ter um maior desenvolvimento e investimento no futebol feminino. As brasileiras terminaram a competição em terceiro lugar, após a vitória contra as anfitriãs chinesas nos pênaltis.
-
Seleção Brasileira convocada para a primeira Copa do Mundo Feminina, em 1991 (Acervo Museu do Futebol) 2. Foi convocada para todas as Copas do Mundo
A Seleção Brasileira participou de todas as edições da Copa do Mundo desde 1991, quando a disputa teve início. Apenas outras duas seleções estiveram em todas as edições: Estados Unidos e Canadá.
-
Marta comemora gol na Copa do Mundo de 2019 (Getty Images) 3. Está em 8º lugar no ranking da Fifa
A Seleção Brasileira subiu do 9º para o 8º lugar do ranking das seleções femininas da Fifa no início deste ano, ficando acima de países como Austrália, Holanda e Itália. “Essa geração sob o comando da Pia [Sundhage] tem se arriscado mais e enfrentado seleções importantes nos últimos dois anos”, diz Aira Bonfim, pesquisadora do futebol feminino. “São esses combates de impacto que ajudam a mudar o ranqueamento da Seleção na Fifa”.
O Top 3 do ranking da Fifa fica com as seleções dos Estados Unidos, da Alemanha e da Suécia, respectivamente.
-
Brasileiras conquistam segundo lugar na Copa do Mundo de 2007 (Getty Images) 4. Já conquistou o 2º lugar em uma Copa do Mundo
A melhor performance da Seleção em Copas do Mundo foi em 2007, quando conquistou o segundo lugar na competição. Surpreendendo em uma semifinal contra as melhores do mundo, as norte-americanas, as brasileiras perderam para a Alemanha na final do campeonato em Xangai. “Quando fomos para a China, o grupo se fecha e combina: ‘A gente não vai sair daqui sem subir no pódio”, disse Rosana Augusto, ex-jogadora da Seleção e atual treinadora do Red Bull Bragantino.
Poucos meses antes, o mesmo time foi campeão dos jogos Pan-Americanos, sediados no Rio de Janeiro, goleando os Estados Unidos por 5 a 0 na final. Apesar disso, ainda havia pouco investimento no futebol feminino brasileiro. Para quem queria ser jogadora, a alternativa a jogar poucas partidas regionais durante o ano era ir atuar fora do país – porque não havia qualquer competição nacional de futebol feminino.
-
Anúncio publicitário -
Jogadoras protestam em pódio da Copa do Mundo de 2007 (Getty Images) 5. O primeiro campeonato de futebol feminino só foi criado após protesto das jogadoras
“Falaram para a gente: ‘Se vocês não ganharem nada, acabou o futebol feminino no Brasil’, disse Rosana Augusto, ex-jogadora da Seleção e atual treinadora do Red Bull Bragantino, a respeito da cobrança da CBF para que as brasileiras tivessem um bom resultado na Copa do Mundo em 2007. Ao ficarem em segundo lugar, as jogadoras brasileiras foram ao pódio com um cartaz escrito “Brasil, precisamos de apoio”, como um apelo à CBF por maior investimento no futebol feminino. O resultado imediato não foi positivo: não fomentou investimento nas jogadoras e Daiane Reis foi punida e deixou de ser convocada para a Seleção durante quatro anos.
Mas com uma visibilidade cada vez maior da mídia, junto da pressão das jogadoras, a CBF criou a Copa do Brasil de Futebol Feminino, uma competição nacional de dois meses de duração, com o patrocínio da Caixa Econômica. Foi apenas em 2013 que o Campeonato Brasileiro, competição nacional que dura quase todo o ano, começou.
-
Seleção Brasileira comemora a vitória do seu oitavo título da Copa América em 2022 (Amada Perobelli/Reuters) 6. Seleção Feminina ganhou oito de nove edições da Copa América
Quase invicta na competição classificatória para a Copa do Mundo, a Seleção Brasileira venceu oito das nove edições da Copa América, que teve início em 1991. As brasileiras só perderam para as argentinas em 2007, quando a CBF impediu a convocação das jogadoras mais velhas da Seleção para a competição por considerá-las as mais “reclamonas”.
-
Marta recebe o troféu de Melhor Jogadora do Mundo pela FIFA em 2009 (Getty Images) 7. A Seleção tem Marta, uma das melhores do mundo, que joga sua última Copa do Mundo
A melhor artilheira de todos os tempos da Seleção e seis vezes vencedora do título da FIFA de melhor jogadora do mundo, Marta joga neste ano sua última Copa. Como uma das jogadoras mais longevas do time feminino, ela é a única do mundo, mesmo entre jogadores homens, a marcar em 5 Copas do Mundo, e a maior artilheira da história da competição, com 17 gols marcados. Marta também foi escolhida, em 2019, como uma das mulheres mais poderosas do Brasil pela Forbes.
-
Formiga joga sua última Copa do Mundo pela Seleção em 2019 (Getty Images) 8. Formiga, ex-jogadora da Seleção, é a única no mundo a jogar 7 Copas
Formiga é a jogadora, entre homens e mulheres, com o maior número de participações na Copa do Mundo, tendo jogado em sete edições. Também é a atleta com mais jogos pela Seleção, incluindo a masculina, com 158 partidas. Foi na sua última participação pela amarelinha, na Copa do Mundo de 2019, que quebrou o recorde de jogadora mais velha a participar e marcar gol no campeonato.
-
Cristiane em partida nas Olimpíadas de 2016 (Getty Images) 9. A Seleção conta com a maior artilheira da história das Olimpíadas
Cristiane fez história nas Olimpíadas de 2016 ao fazer seu 14º gol na competição, tornando-se a maior artilheira da história do torneio entre jogadores homens e mulheres. Nesta edição, o Brasil terminou em 4º lugar após uma derrota para as canadenses.
-
Último jogo da Seleção Brasileira, contra a França, na Copa do Mundo de 2019 (Getty Images) 10. A Copa do Mundo feminina só foi transmitida integralmente pela 1ª vez em televisão aberta em 2019
Até 2019, os jogos da Copa do Mundo feminina, inclusive os que tiveram a participação da Seleção Brasileira, eram transmitidos em canais por assinatura, como o SportTV. Foi somente na última edição do campeonato que a Globo passou a transmitir em TV aberta todos os jogos da Copa do Mundo com a participação das brasileiras, o que rendeu números expressivos. A derrota do Brasil para a França nas oitavas de final teve 35 milhões de espectadores, sendo o jogo de uma Copa do Mundo feminina com maior visualização na história, enquanto a estreia contra a Jamaica teve 19 milhões.
1. Seleção feminina jogou sua primeira partida em 1988
A primeira partida que a Seleção Feminina jogou foi para o primeiro campeonato mundial, em 1988, na China, organizado pela Fifa para testar uma possível Copa do Mundo feminina. Até 1979, o futebol era proibido às mulheres no Brasil por um decreto de Getúlio Vargas em 1941 que proibia a prática da modalidade por elas. “As mulheres nunca pararam de jogar, a despeito da proibição”, diz Aira Bonfim, pesquisadora sobre a história do futebol feminino no Brasil e curadora da exposição Rainha de Copas, no Museu do Futebol. “No entanto, não tinha o mesmo tratamento para o desenvolvimento da modalidade, seja ela de forma oficial ou de profissionalização das mulheres que jogavam.”
Os primeiros jogos aconteceram em 1940 no estádio do Pacaembu, com São Paulo contra Flamengo e Casino do Realengo contra Sport Club Brasileiro, dois times do subúrbio carioca que fariam uma partida de abertura. O jogo gerou controvérsia de boa parte da sociedade da época e juntou cerca de 65 mil pessoas nas arquibancadas. Um ano depois, em 1941, Getúlio Vargas baixou o decreto proibindo a prática do futebol pelas mulheres por ser “contra a natureza feminina”.
Quando voltou a ser permitido, clubes de futebol feminino voltaram a surgir, mas a Seleção ainda não tinha investimento. Por isso, em 1988, quando o Brasil foi convidado a participar de um campeonato mundial feminino – ainda experimental – pela FIFA, a Seleção foi composta pelas jogadoras do clube carioca Radar. O clube, de propriedade do empresário Eurico Lyra, se diferenciava dos demais por ter um maior desenvolvimento e investimento no futebol feminino. As brasileiras terminaram a competição em terceiro lugar, após a vitória contra as anfitriãs chinesas nos pênaltis.