Com o início do ano letivo nos Estados Unidos neste mês de agosto, seis dos oito presidentes das universidades Ivy League – grupo composto por algumas das mais conceituadas instituições de ensino dos EUA – agora são mulheres. Esse dado é significativo, pois essas universidades geralmente são referência no mundo acadêmico e geram um efeito cascata, podendo abrir as portas para mais mulheres no cargo mais alto da diretoria do ensino superior.
As seis presidentes de universidades da Ivy League são: Claudine Gay (Harvard), Nemet Minouche Shafik (Columbia), Sian Leah Beilock (Dartmouth), Christina Paxson (Brown), Martha Pollack (Cornell) e Mary Elizabeth Magill (Universidade da Pensilvânia).
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Uma pesquisa sobre o perfil dos presidentes das universidades americanas, conduzida pelo American Council of Education, descobriu que apenas um terço das presidências das instituições são ocupadas por mulheres, uma taxa que está estagnada há anos. Esse número vai na contramão do contexto atual: 60% dos universitários dos EUA são mulheres e elas concluem a graduação em maior porcentagem do que os homens.
As mulheres só começaram a ocupar o cargo mais importante das universidades Ivy League em 1994, quando Judith Rodin foi nomeada como presidente da Universidade da Pensilvânia. Desde então, o avanço rumo à equidade de gênero tem sido lento.
O momento é de inclusão
Antes de se tornar presidente de uma universidade, o profissional precisa ocupar cargos sêniores de liderança em uma instituição, como ser reitor ou diretor acadêmico. As chances de chegar a essas funções ficam mais limitadas para pessoas de grupos sociais sub-representados.
A nomeação de seis mulheres como presidentes de universidades Ivy League é uma prova do esforço feito para alcançar a paridade de gênero nos mais altos níveis da academia. Essa nova liderança reforça o fato de que os tempos estão mudando e as mulheres são cada vez mais reconhecidas por sua capacidade intelectual e habilidades de liderança.
O efeito cascata da equidade em cargos de poder
A cardiologista Bernadine Healy foi a primeira mulher a ser nomeada para a presidência dos Institutos Nacionais de Saúde, um dos mais renomados centros de pesquisa em saúde dos EUA, em 1991. Até então, os cientistas não incluíam mulheres em estudos clínicos. E não porque alguém fez questão de mantê-las fora das pesquisas, mas porque ninguém tinha pensado em incluí-las. Como mulher, a Dra. Healy estava ciente da necessidade de ter diversidade nos estudos clínicos e, no seu mandato, fez pressão para tornar isso uma realidade.
Se todos que têm poder para tomar decisões pertencem a um mesmo grupo social, as coisas continuarão a ser feitas da mesma maneira. Para ser realmente inovador, novas ideias e perspectivas devem ser ouvidas e levadas em consideração. É quase impossível fazer isso se lideranças de contextos diversos não estiverem na sala quando essas discussões ocorrerem. As experiências, perspectivas e estilos de liderança dessas novas presidentes das Ivy League sem dúvida vão inserir novas ideias e energia no cenário acadêmico, levando a políticas e práticas mais inclusivas. Ter mulheres nessas posições de influência e decisão envia uma mensagem poderosa para meninas e mulheres que desejam se destacar no meio acadêmico, inspirando-as a perseguir seus sonhos sem medo.
Referência para a próxima geração
Você não pode ser o que não consegue visualizar. O teste “Desenhe um Cientista” é uma maneira de descobrir como as crianças veem o perfil de um cientista a partir de ilustrações delas. Esse teste foi feito com 20 mil crianças por mais de 50 anos, e os desenhos representando esses profissionais sempre foram predominantemente masculinos.
Mas desde a década de 1980, isso mudou. Enquanto os estudos originais mostraram que apenas 0,6% dos cientistas desenhados eram mulheres – que eram sempre desenhadas por meninas –, nos últimos 40 anos, 28% das ilustrações são de cientistas mulheres. Essa estatística não é surpreendente, pois houve um grande esforço nesse período para retratar mais mulheres no ramo da ciência.
Da mesma maneira, a visibilidade das mulheres presidentes das universidades Ivy League abre caminho para uma nova geração que pode se imaginar como futuras líderes.
Mudança de paradigma
Ter apenas uma mulher como presidente pode ser problemático, pois ela não teria nenhum par e representaria um grande grupo sozinha. A presença de seis mulheres na presidência das Ivy League muda o paradigma na percepção de papéis de liderança tradicionalmente dominados por homens, desafia estereótipos ultrapassados e abre caminho para uma sociedade mais igualitária. As realizações dessas mulheres irão catalisar a quebra dos preconceitos de gênero e criar um ambiente onde as pessoas sejam valorizadas com base em suas habilidades, e não em seu gênero.
A nomeação de seis mulheres representa um novo cenário no ensino superior dos EUA. Elas quebraram o teto de vidro, exemplificando o poder da perseverança e dedicação e estão abrindo caminho para as futuras gerações que desejam liderar pessoas e organizações.
* Dr. Ruth Gotian é colaboradora da Forbes USA. Ela pesquisa sobre sucesso profissional e é consultora de carreira para lideranças.
(Traduzida por Gabriela Guido)