Executiva na Siemens, conglomerado industrial alemão, Claudia Massei vive no país sede da empresa há dois anos. Mas essa estabilidade é algo um tanto incomum para a brasileira, que depois de iniciar sua carreira na companhia, só passou mais tempo em um mesmo lugar entre 2018 e 2021, quando foi CEO da Siemens em Omã, no Oriente Médio. “Foi meu primeiro cargo de liderança e já no primeiro ano assinei o maior contrato da história da empresa no país, de 200 milhões de euros”, lembra Claudia, que foi reconhecida pela Forbes como uma das executivas mais poderosas da região.
Antes disso, rodou entre a própria Alemanha, Portugal, China e Dinamarca pelo CEO Program da Siemens, que permite que os colaboradores escolham os países e projetos em que querem trabalhar.
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Foi a possibilidade de fazer carreira internacional – e de se reaproximar da engenharia depois de empreender e ter uma experiência em consultoria – que fez a jovem de 29 anos escolher a companhia alemã, depois de fazer um intercâmbio na França enquanto estudava engenharia aeronáutica no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e concluir um MBA em Wharton, nos EUA. “Estava com menos de R$ 1 mil na conta no dia em que fui para a Alemanha e com US$ 200 mil de dívida do MBA.”
Hoje investidora-anjo, com um portfólio de 14 empresas, Claudia havia investido suas economias na criação de uma startup de educação, a Eduqo, adquirida pela Arco Educação em 2021 por R$ 30 milhões.
Transformação cultural acompanha a digital
Depois da experiência como CEO, Claudia, que já havia passado por diferentes áreas da gigante de tecnologia, decidiu que queria se envolver com automação industrial, na unidade de Motion Control, uma das mais bem-sucedidas da Siemens. Hoje, é head de transformação da área, liderando uma mudança cultural para garantir maior colaboração entre os 14 mil funcionários da unidade de negócios e seus parceiros – e, consequentemente, mais resultados.
Nessa função, trabalha com todos os níveis da empresa, e especialmente com os embaixadores culturais de cada departamento e um grupo de 40 executivos do alto escalão, responsáveis pelas decisões. “O desafio é explicar por que o negócio de cultura é importante para todo mundo em uma empresa em que o que importa realmente é quanto você vendeu.”
Além disso, atua como assessora do CEO global de Motion Control, unidade que fatura 5 bilhões de euros e, segundo ela, envolve tudo aquilo que controla movimento. “Qualquer coisa que gire no mundo pode ter nossa tecnologia”, diz Claudia, que tem um olhar ao mesmo tempo técnico e voltado para sustentabilidade.
Inquieta, sente falta de viajar e conseguir ver o impacto da tecnologia nas pessoas. “Provavelmente quando voltar de licença-maternidade devo tentar ir para algum outro país porque quero estar mais perto do cliente, onde você sente uma energia muito maior”, diz. Aos 39 anos, está prestes a ter seu primeiro filho ou filha – já que só saberá o sexo do bebê no nascimento, em menos de dois meses.
Embora tenha diminuído o ritmo de trabalho durante a gravidez, Claudia é workaholic assumida e, na sua última semana antes de sair de licença, está no Brasil para participar de um congresso de inovação. “Eu trabalho bastante quando sinto que as pessoas precisam de mim”, afirma ela, que, como CEO, trabalhava mais de 12 horas por dia.
Primeira mulher CEO
Na faculdade, Claudia era uma das 12 alunas em uma classe de 120 pessoas. Foi a única mulher na sua turma de formandos em engenharia aeronáutica. Entre as outras engenharias, eram mais cinco. “Ouvia comentários machistas, mas aprendi a ignorar”, diz a executiva, que antes disso sofria bullying na escola por ter cabelo cacheado e ser estudiosa. “Existe uma cultura de conseguir o máximo com o mínimo de esforço, mas eu sempre dei tudo de mim para alcançar meu 100%”, diz a poliglota, que fala sete línguas, incluindo mandarim.
As mulheres são historicamente sub-representadas nas áreas de STEM – sigla em inglês para ciências, tecnologia, engenharia e matemática. Mas foi justamente seu perfil pouco tradicional dentro de uma empresa alemã – mulher e brasileira – que a levou ao cargo mais alto. “Eles queriam colocar a primeira mulher CEO da empresa no Oriente Médio, e a cultura árabe exige a flexibilidade que o brasileiro tem”, diz ela, que estava à frente de 70 pessoas espalhadas não apenas por Omã, mas pelo Kuwait, Catar e outros países da região. “É um número grande o suficiente para fazer 200 milhões de euros, mas pequeno o suficiente para conseguir conhecer todo mundo e conversar em um grupo de WhatsApp.”
Claudia também já havia passado por diferentes áreas dentro da empresa – da automação ferroviária à energia eólica – e estampava no currículo sua capacidade de adaptação e agilidade de aprendizado. Para além disso, sua biografia no LinkedIn destaca seu “entusiasmo e atenção únicos”.
Apesar de não se considerar ativa no marketing pessoal, foi beneficiada por demonstrar suas aspirações e lembrada por sua energia ao longo da carreira, combinada a um perfil técnico e orientado a resultados.
Brasileira no sultanato
Claudia assumiu a Siemens em Omã depois de comunicar a sua vontade de trabalhar no Oriente Médio a um superior da empresa, que a indicou aos tomadores da decisão.
Como CEO, conduziu negócios em geração e distribuição de energia, rede e edifícios inteligentes, controle e automação e soluções digitais para aplicações industriais. Além de ter assinado um contrato histórico no início da sua gestão, foi responsável por feitos inéditos no país: o primeiro projeto de eficiência energética, o primeiro programa de jovens talentos de uma multinacional em Omã e o primeiro projeto de microrede, um sistema de distribuição de eletricidade, da empresa no Oriente Médio. “A liderança era como um problema de matemática. Você resolve, olha a resposta e vai dando check na lista.”
A jornada de Claudia Massei, head de transformação da Siemens
Primeiro cargo de liderança
“Foi na minha startup, e fora dela como CEO da Siemens em Omã. Fui de individual contributor a CEO.”
Turning point da carreira
“Foi ser CEO. Porque quando era CFO e COO da startup eu tinha investido na empresa, estava pagando por aquilo. O momento em que me dei conta que tinha virado CEO foi quando todo mundo ficou em silêncio antes de uma reunião e eu percebi que era eu quem teria que começar a falar. A partir daí, qualquer momento em que eu estava descontente, eu pensava que a culpa devia ser minha e que quem deveria resolver era eu.”
Quem me ajudou
“Tem um lado de inspiração e suporte que vem da família e do meu marido, especialmente quando você se questiona e pensa que não é boa o suficiente, e acho que mulher tem muito disso. Teve o meu chefe do Oriente Médio que foi quem me deu a oportunidade de virar CEO em Omã. Tenho um coach que me ajuda a perceber o que eu realmente quero e quais são as circunstâncias. E na época que estava construindo minha startup tive muitos mentores que ajudaram com conexões, conselhos e sendo os primeiros clientes.”
O que ainda quero fazer
“Eu penso em ser integrante de algum conselho de empresa e em ajudar o Brasil no lado do governo, ligado a algum ministério, como tecnologia ou relações exteriores, mas não sei se teria estômago para entrar nesse mundo.”
Causas que abraço
“Tem um lado de sustentabilidade. Temos nossa proposta de usar a tecnologia para reduzir a pegada de carbono e otimizar emissões, mas eu também acredito muito na redução do consumo de recursos. E a outra parte é a questão do desenvolvimento de talentos, principalmente femininos, mentorando jovens. A última coisa é fazer o Brasil se destacar mais no resto do mundo, principalmente em relação à educação. Eu estou em dois conselhos de Ongs, uma delas de ex-alunos do ITA, e nós captamos recursos para ajudar nos projetos acadêmicos, viagens e competições.”
Formação
Engenharia Aeronáutica no ITA, mestrado em Estudos Internacionais no Lauder Institute da Universidade da Pensilvânia e MBA na Wharton School.
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Quinzenalmente, a Forbes publica a coluna Minha Jornada, retratando histórias de mulheres que trilharam vidas e carreiras de sucesso.