Há dois anos, a economista Isabella Wanderley deixou o grupo O Boticário, onde era vice-presidente de uma área movimentada, a de novos canais, para assumir o cargo de general manager da farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk. Hoje a empresa é conhecida por ser a fabricante do medicamento Ozempic, que se transformou em febre entre quer perder peso (apesar de ser recomendado para diabetes).
Na semana passada, a Novo Nordisk se tornou a empresa mais valiosa da Europa, entre as negociadas na bolsa, passando o grupo LVMH, valendo US$ 431 bilhões. O Brasil está entre os 5 maiores de seus mercados no mundo. Apesar da visiblidade que isso traz, Wanderley mantém a postura low profile que é costume na indústria (mais ainda em uma empresa dinamarquesa). “Empresa nórdica é mais quieta. Somos cobrados para ir lá e fazermos nosso trabalho. É isso.”
E ela fez. Localmente, esse crescimento esteve sob sua responsabilidade, mas a empresa já vinha apresentando resultados importantes antes mesmo de os efeitos do Ozempic virarem assunto em rodas de conversa. Em parte por conta da visão ampla que Isabella Wanderley aprendeu em anos do mercado de beleza. “Como venho de fora, minha proposta foi desenvolver um novo olhar para o cliente, ou paciente no caso, e ter uma visão da jornada completa.”
No ano em que ela começou, 2021, a Novo Nordisk faturou R$ 2,4 bilhões – contra os R$ 1,4 bilhão de 2020. Em 2022, foram R$ 3,7 bilhões (mercado privado. A empresa não divulga as vendas para o governo). E esse número deve ser muito maior ao final desse ano, depois da febre do injetável que reduz o apetite. Hoje, os remédios fabricados pela empresa chegam a 4,3 milhões de brasileiros que consomem medicamentos para diabetes e outros injetáveis para doenças crônicas.
Nova visão na indústria farmacêutica
Essa visão, a de enxergar o paciente como um cliente que tem demandas, foi uma mudança de paradigma implementada por Wanderley. Ainda mais porque chegou durante o isolamento causado pela pandemia de Covid e teve que repensar novas formas de comunicação com pacientes e médicos. “Mas isso era algo que eu já fazia no Boticário, então eu tinha essa experiência de multicanais e trouxe provocações para a minha equipe.”
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Nesse período, a executiva liderou também a transformação digital da empresa. “Precisávamos falar com os médicos mas não tinha mais como mandar um representante ao consultório, então criamos eventos on line, achamos uma maneira de chegar a eles”, diz. A compreensão da tal jornada do cliente que ela domina também trouxe mudanças para essa parcela de clientes da empresa. “Para os médicos, no passado a informação ficava restrita aos eventos, mas a gente tinha que mudar esse canal e ampliamos a relação ao criar uma academia para eles com informação do que há de mais recente, estudos, congressos, notícias. É um jeito de ser relevante.”
Mulheres na alta liderança
Ao lado de Isabella Wanderley na alta liderança há 10 diretores sendo 5 mulheres e a executiva vem trabalhando pela representatividade também nos outros escalões. “Há dois anos eram 45% de mulheres em cargos de liderança, hoje são 61% e estamos trabalhando para crescer”, diz ela.
Wanderley faz parte de importantes grupos de lideranças femininas como o LeaderShe, que reúne mulheres CEOs da indústria farmacêutica em nome da diversidade, e o Womens Corporate Director (WCD), de alta liderança em diferentes mercados. “Quando cheguei, eu via esse mercado como algo de homens brancos de 50, 60 anos”, lembra. Hoje, as mulheres estão crescendo em diversos níveis, mas fica mais difícil no topo. “O tal telhado de vidro existe. As mulheres entram na base, mas não conseguem subir e queremos ajudar a abrir esse espaço.”
A trajetória de Wanderley
Primeiro emprego
“Comecei como trainee da Gillette no México. Foi minha primeira experiência e estava em outra cultura, longe de tudo e de todos que eu conhecia. Aprendi a respeitar e entender as diferentes visões culturais que influenciam nossos comportamentos. Uso isso até hoje para tentar trazer mais empatia nos meus relacionamentos.”
Turning point da carreira
“A volta para o Brasil em 2011, vinda da Body Shop no México, para assumir a diretoria de produtos do Boticario, que estava passando por uma grande transformação. Participei da implementação da estratégia de expansão e diversificação do negócio. Foi um grande aprendizado.”
Formação
Bacharel em Economia pela PUC-RJ, pós em marketing pelo ITAM, no México, e Advanced Management Program pelo IESE.
Quem me apoiou
“Tive colegas, chefes, amigos e minha família, especialmente meu marido e minha filha, que sempre me incentivaram e que também são meus grandes críticos para me trazer de volta ao meu eixo. Hoje tenho o privilégio de trabalhar com um time super talentoso que me acolheu nessa nova indústria.”
Causas que abraço
“Acredito na equidade e no direito de todos alcançarem seus sonhos mesmo que o ponto de partida não seja o mesmo. Hoje me dedico a ajudar outras mulheres a acelerarem seu desenvolvimento profissional em diversos programas de mentoria, dentro da Novo Nordisk e no mercado farmacêutico.”
O que ainda quero fazer
“Eu gostaria de ver o mundo corporativo sendo um retrato da nossa sociedade na agenda de diversidade e inclusão.
Conheça a jornada de sucesso de outras executivas:
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Divulgação/Sympla Tereza Santos, CEO da Sympla
“Empresa cresceu quase 5 vezes sob minha liderança”Em 2021, a então diretora de operações aceitou o convite do cofundador e CEO da Sympla Rodrigo Cartacho para assumir seu cargo. Hoje, Santos está à frente de 250 colaboradores e cerca de 30 mil eventos simultâneos à venda na plataforma.
Leia a história completa aqui.
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Divulgação/Amazon Elis Rodrigues, CFO da Amazon no Brasil
Elis Rodrigues vem de uma família humilde, estudou em escola pública a vida toda e teve sua vida transformada pela educação. Hoje, a CFO da Amazon é conhecida por sua risada alta. Mas essa abertura toda nem sempre existiu. Como profissional de finanças, quase sempre rodeada de homens, queria passar despercebida.
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Divulgação Isabel del Priore, CEO da Animale
“Fui convidada pelo dono para assumir papel que era dele”Roberto Jatahy, fundador e CEO do Grupo Soma, chamou a executiva que fez carreira na área de moda e trabalhou com grifes internacionais para fazer parte do grupo de gestores que está levando a empresa a ocupar um espaço entre as maiores do mercado de moda brasileira.
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Ângela Assis, presidente da Brasilprev
“Assumi no meio de uma crise”Quando Ângela Assis deixou a cadeira de diretora de marketing da Brasilprev para assumir a presidência da seguradora, em novembro de 2020, ela encontrou, como gosta de dizer, ” a tempestade perfeita” no cenário econômico. O foco foi em manter as pessoas calmas e, em seu primeiro ano de atuação, o lucro líquido pulou de R$ 885 milhões para R$ 970 milhões.
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Maurino Borges Cíntia Barcelos, CTO do Bradesco
Ainda criança, quando ia à feira com seu pai, Cíntia Barcelos impressionava os feirantes ao fazer contas de cabeça. Cíntia seguiu o conselho do pai e buscou a independência financeira. Se formou em engenharia eletrônica, com uma única colega mulher em sua classe, e, hoje, é líder de tecnologia do Bradesco, um dos maiores bancos do Brasil. “Nunca tentei parecer homem para me encaixar no meio. Eu sempre fui quem eu sou.”
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Tereza Santos, CEO da Sympla
“Empresa cresceu quase 5 vezes sob minha liderança”
Em 2021, a então diretora de operações aceitou o convite do cofundador e CEO da Sympla Rodrigo Cartacho para assumir seu cargo. Hoje, Santos está à frente de 250 colaboradores e cerca de 30 mil eventos simultâneos à venda na plataforma.
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