Os esportes femininos estão surfando uma onda de crescimento, e essa maré finalmente começa a elevar o salário das atletas. Caitlin Clark, fenômeno do Indiana Fever, ajudou a WNBA (a liga de basquete feminino dos EUA) a alcançar recordes de público e audiência e ganhou cerca de US$ 8,1 milhões (quase R$ 50 milhões) este ano, igualando o recorde do basquete feminino estabelecido no ano passado por Candace Parker, agora aposentada.
A golfista tailandesa Jeeno Thitikul levou para casa um cheque de US$ 4 milhões (R$ 24,6 milhões) no CME Group Tour Championship, o torneio de golfe profissional feminino, em novembro – o maior prêmio da história desse esporte – enquanto sua rival no LPGA Tour, Nelly Korda, encerrou o ano com uma estimativa de US$ 12,5 milhões (R$ 77 milhões) em rendimentos totais, a melhor marca de uma golfista nos 17 anos em que a Forbes acompanha os ganhos de atletas mulheres.
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Recordes de ganhos
Enquanto isso, a estrela do tênis Coco Gauff, de 20 anos, acumulou US$ 34,4 milhões (R$ 212 milhões), registrando um dos melhores anos já alcançados por uma atleta mulher. Ficou atrás apenas de Naomi Osaka e Serena Williams, que atingiram picos de US$ 57,3 milhões (R$ 353,4 milhões) e US$ 45,9 milhões (R$ 283,1 milhões), respectivamente, na lista da Forbes de 2021.
Juntas, as 20 atletas mais bem pagas de 2024 arrecadaram mais de US$ 258 milhões (R$ 1,59 bilhão). Esse valor supera ligeiramente os US$ 257 milhões (R$ 1,58 bilhão) das 20 maiores de 2022, quando Osaka e Williams representaram mais de US$ 92 milhões (R$ 567 milhões) desse total, e também representa um aumento de 15% em relação aos US$ 226 milhões (R$ 1,39 bilhão) de 2023.
Desigualdade no esporte
Ainda assim, o total combinado das mulheres equivale a menos de 12% dos ganhos dos 20 atletas homens mais bem pagos, que arrecadaram cerca de US$ 2,23 bilhões (R$ 13,75 bilhões), de acordo com a lista da Forbes de 2024, que analisa os ganhos nos 12 meses encerrados em maio. Nenhuma mulher apareceu entre os 50 atletas mais bem pagos dessa lista.
Historicamente, as mulheres tiveram e continuam tendo menos oportunidades de patrocínio e recebem valores menores em comparação aos homens.
As 20 atletas mais bem pagas arrecadaram cerca de US$ 191 milhões (R$ 1,17 bilhão) fora dos campos e das quadras este ano, enquanto os homens alcançaram US$ 624 milhões (R$ 3,84 bilhões).
Mas a maior diferença está nos ganhos dentro de campo, incluindo salários, bônus e prêmios. Na WNBA, a liga de basquete feminino dos EUA, por exemplo, o salário máximo (“supermax”) foi de US$ 241 mil (R$ 1,48 milhão) nesta temporada. Já na NBA, 41 jogadores ultrapassaram os ganhos totais de Coco Gauff (a mulher mais bem paga deste ano) apenas com seus salários, segundo o banco de dados de contratos Spotrac.
Em esportes individuais, a disparidade é menor, mas ainda existe. No golfe, Thitikul quebrou o recorde de prêmios do LPGA Tour, que já durava 17 anos, com US$ 6,1 milhões (R$ 37,6 milhões) em 2024 – menos do que 33 homens do PGA Tour e do LIV Golf ganharam neste ano. No tênis, embora os quatro torneios do Grand Slam ofereçam prêmios iguais para homens e mulheres, torneios menores não têm a mesma política.
No total, apenas 4 das 20 atletas mais bem pagas ganharam mais dentro de campo do que fora dele. Os US$ 68 milhões (R$ 419 milhões) em ganhos no campo representaram 26% do total das mulheres, a maior parte vindo de jogadoras de tênis. Em comparação, os 20 atletas homens mais bem pagos ganharam 72% de seus ganhos dentro de campo – uma proporção quase inversa.
A maré está virando
A disparidade salarial começa pela receita – as ligas femininas simplesmente têm menos recursos para distribuir. Mas essa matemática pode estar mudando. Segundo a Sportico, a WNBA deve receber US$ 200 milhões (R$ 1,23 bilhão) por ano em um novo contrato de TV nacional dos EUA como parte dos acordos de mídia de 11 anos e US$ 76 bilhões (R$ 468,7 bilhões) assinados pela NBA, um aumento de seis vezes em relação ao contrato anterior com a ESPN.
O LPGA Tour oferecerá US$ 131 milhões (R$ 807,9 milhões) em prêmios em seus 33 torneios no próximo ano – um aumento de 90% desde 2021 – e a WTA Tour prometeu alcançar a igualdade de prêmios entre homens e mulheres em eventos de nível 500 e 1000 até 2033.
Enquanto isso, a NWSL, liga profissional de futebol feminino dos EUA, que tem atraído investimentos de grandes nomes, como o CEO da Disney, Bob Iger, eliminou o draft e implementou um sistema de agentes livres como parte de um acordo coletivo anunciado em agosto.
Novas ligas femininas também estão surgindo no hóquei (Professional Women’s Hockey League), softbol (Athletes Unlimited Softball League) e basquete (Unrivaled), entre outros esportes.
Outro sinal promissor da crescente viabilidade financeira dos esportes profissionais femininos é a maior diversidade entre as modalidades na lista. Embora o tênis ainda domine o ranking, outros esportes começam a ganhar espaço.
Este ano, a lista inclui três golfistas, duas jogadoras de basquete, uma jogadora de futebol, uma ginasta, uma esquiadora de estilo livre e uma jogadora de badminton. Há cinco anos, o top 10 era composto inteiramente por tenistas.
Em 2024, 11 atletas ultrapassaram US$ 10 milhões (R$ 61,67 milhões) em ganhos, segundo estimativas da Forbes – o maior número já registrado – e 17 das 20 mais bem pagas têm menos de 30 anos. A idade média é de apenas 26 anos, o que significa que os melhores anos dessas atletas ainda podem estar por vir.
Veja quem são as 10 atletas mais bem pagas do mundo em 2024
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Getty Images 10. Simone Biles – US$ 11,2 milhões (R$ 69 milhões)
Esporte: Ginástica | Nacionalidade: EUA | Idade: 27 anos
No esporte: US$ 0,2 milhão • Fora do esporte: US$ 11 milhõesApós lutar com os “twisties” em Tóquio, Biles fez um retorno triunfante nas Olimpíadas de Paris, conquistando três ouros e uma prata. Sua volta foi documentada na série da Netflix “O Retorno de Simone Biles” e celebrada em uma turnê chamada Gold Over America Tour.
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Getty Images 9. Venus Williams – US$ 12,1 milhões (R$ 74,6 milhões)
Esporte: Tênis | Nacionalidade: EUA | Idade: 44 anos
No esporte: US$ 0,1 milhão • Fora do esporte: US$ 12 milhões
Williams participou de apenas dois eventos competitivos, perdendo na primeira rodada em ambos. No entanto, ela continua ativa como palestrante, ganhando seis dígitos por evento, e como empresária, lançando projetos como a plataforma de design de interiores Palazzo.
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Getty Images 8. Nelly Korda – US$ 12,5 milhões (R$ 77 milhões)
Esporte: Golfe | Nacionalidade: EUA | Idade: 26 anos
No esporte: US$ 4,5 milhões • Fora do esporte: US$ 8 milhões
Korda empatou um recorde do LPGA Tour ao vencer cinco torneios consecutivos e, apesar de uma lesão no pescoço, terminou 2024 com sete títulos. Fora do campo, ela adicionou a empresa de bagagens Tumi ao melhor portfólio de patrocínios do golfe feminino.
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Getty Images (Empate) 6. Emma Raducanu – US$ 12,9 milhões (R$ 79,5 milhões)
Esporte: Tênis | Nacionalidade: Reino Unido | Idade: 22 anos
No esporte: US$ 0,9 milhão • Fora do esporte: US$ 12 milhões
Apesar de lidar com lesões e doenças, Raducanu ainda conta com contratos lucrativos firmados após sua vitória no US Open de 2021, incluindo parcerias com a British Airways, Dior e HSBC. Em busca de consistência, ela contratou Yutaka Nakamura, ex-preparador físico de Maria Sharapova e Naomi Osaka.
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Getty Images (Empate) 6. Naomi Osaka – US$ 12,9 milhões (R$ 79,5 milhões)
Esporte: Tênis | Nacionalidade: Japão | Idade: 27 anos
No esporte: US$ 0,9 milhão • Fora do esporte: US$ 12 milhões
Após ficar fora do esporte em 2023 devido ao nascimento de sua filha, Osaka voltou às quadras no primeiro dia do ano. Ela enfrentou desafios e compartilhou no seu Instagram: “Meu maior problema é que não me sinto no meu corpo.” Mesmo assim, participou de 19 eventos, elevando sua posição no ranking de 833 para 58. Osaka mantém mais de uma dúzia de patrocinadores e é cofundadora da produtora Hana Kuma, que desenvolve uma série de anime com sua participação como dubladora.
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Getty Images 5. Aryna Sabalenka – US$ 18,7 milhões (R$ 115,3 milhões)
Esporte: Tênis | Nacionalidade: Belarus | Idade: 26 anos
No esporte: US$ 9,7 milhões • Fora do esporte: US$ 9 milhões
Sabalenka superou Iga Świątek para conquistar o posto de número 1 do tênis e recebeu o prêmio de Jogadora do Ano da WTA, vencendo o Aberto da Austrália e o Aberto dos EUA, além de outros dois torneios. Ela liderou o circuito com US$ 9,7 milhões em prêmios. Fora das quadras, fechou contratos com Audemars Piguet (relógios), Master & Dynamic (fones de ouvido) e Oakberry (açaí).
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Getty Images 4. Qinwen Zheng – US$ 20,6 milhões (R$ 127 milhões)
Esporte: Tênis | Nacionalidade: China | Idade: 22 anos
No esporte: US$ 5,6 milhões • Fora do esporte: US$ 15 milhões
Nos últimos dois anos, Zheng venceu os prêmios de Revelação do Ano e Jogadora que Mais Evoluiu do WTA Tour, mas em 2024 ela elevou seu nível, alcançando a final do Aberto da Austrália e conquistando o ouro em simples na Olimpíada de Paris. O sucesso a tornou uma grande estrela na China, com marcas como Audi, a rede de chá Chagee, a Lancôme e a Vivo assinando com ela. As comparações com Li Na, vencedora de dois Grand Slams, já começaram.
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Getty Images 3. Eileen Gu – US$ 22,1 milhões (R$ 136,3 milhões)
Esporte: Esqui estilo livre | Nacionalidade: China | Idade: 21 anos
No esporte: US$ 0,1 milhão • Fora do esporte: US$ 22 milhões
Gu tem contratos lucrativos com marcas ocidentais como Louis Vuitton, Tiffany & Co. e Porsche, além de empresas chinesas como Anta (roupas esportivas), Bosideng (jaquetas) e Mengniu Dairy. Com sua 16ª vitória no Campeonato Mundial este mês, ela empatou o recorde de vitórias em freeskiing. Contudo, nas redes sociais chinesas, Gu foi acusada de ser “não patriota” por representar a China apesar de ter nascido em São Francisco, nos EUA. Em resposta, ela declarou no app Douyin: “Nos últimos cinco anos, representei a China em 41 competições internacionais e ganhei 39 medalhas. O que você fez pelo país?”
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Getty Images 2. Iga Świątek – US$ 23,8 milhões (R$ 146,7 milhões)
Esporte: Tênis | Nacionalidade: Polônia | Idade: 23 anos
No esporte: US$ 8,8 milhões • Fora do esporte: US$ 15 milhões
Świątek liderou o ranking de 2023 com US$ 23,9 milhões e termina este ano a apenas US$ 100 mil desse total, com Lancôme e Lego se juntando ao seu robusto portfólio de patrocinadores. No entanto, a atleta de 23 anos enfrentou turbulências, separando-se de seu treinador e perdendo o posto de número 1 no ranking após 50 semanas consecutivas no topo. O episódio mais marcante veio em novembro, quando foi revelado que ela testou positivo para uma substância proibida três meses antes. A Agência Internacional de Integridade no Tênis determinou que o resultado foi causado por contaminação de melatonina que ela tomava para dormir, resultando em uma suspensão de apenas um mês.
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Getty Images 1. Coco Gauff – US$ 34,4 milhões (R$ 212,1 milhões)
Esporte: Tênis | Nacionalidade: EUA | Idade: 20 anos
No esporte: US$ 9,4 milhões • Fora do esporte: US$ 25 milhões
Gauff foi a porta-bandeira da equipe dos EUA na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris em julho. Embora seu desempenho tenha oscilado, ela voltou com força, vencendo o China Open e as Finais da WTA em Riad, na Arábia Saudita. Esta última vitória rendeu-lhe um cheque de US$ 4,8 milhões, mas a estrela de 20 anos ganha ainda mais fora das quadras. Recentemente, ela adicionou a Carol’s Daughter (marca de cuidados capilares), Fanatics e Naked Juice à sua longa lista de patrocinadores, que agora inclui 11 parcerias de longo prazo. Ela também apareceu na embalagem de cereais Wheaties durante o US Open, em homenagem ao seu título no ano anterior em Flushing Meadows.
10. Simone Biles – US$ 11,2 milhões (R$ 69 milhões)
Esporte: Ginástica | Nacionalidade: EUA | Idade: 27 anos
No esporte: US$ 0,2 milhão • Fora do esporte: US$ 11 milhões
Após lutar com os “twisties” em Tóquio, Biles fez um retorno triunfante nas Olimpíadas de Paris, conquistando três ouros e uma prata. Sua volta foi documentada na série da Netflix “O Retorno de Simone Biles” e celebrada em uma turnê chamada Gold Over America Tour.
Veja a lista completa aqui.
Metodologia
O ranking da Forbes das atletas mais bem pagas do mundo reflete os ganhos do ano de 2024. Os valores dos ganhos on-field (em campo, ou no esporte) incluem salários-base, bônus, prêmios e contratos de patrocínio, arredondados para a casa dos US$ 100 mil mais próximos.
As estimativas dos ganhos off-field (para além do esporte), que são arredondadas para a casa dos US$ 500 mil mais próximos, são determinadas por meio de conversas com especialistas da indústria e refletem receitas anuais provenientes de patrocínios, licenciamentos, aparições e memorabilia, assim como retornos financeiros de negócios nos quais a atleta tem participação significativa.
A Forbes não inclui rendimentos de investimentos, como juros ou dividendos, mas considera pagamentos provenientes da venda de participações acionárias pelas atletas. Também não desconta impostos ou taxas de agentes. A lista inclui atletas que estiveram ativas em qualquer momento durante o período de 12 meses.