Nos créditos de “Moana 2”, que chegou aos cinemas na última semana e já é um sucesso de bilheteria e a 2ª maior estreia de um filme de animação na história do Brasil, está o nome de uma brasileira. Stefanie Zorub é coordenadora de produção da Walt Disney Animation Studios no Canadá e trabalhou com a equipe de iluminação do longa, à frente de uma equipe de mais de 50 profissionais. “Sou a ponte entre os diretores e os artistas para contar a história por meio da iluminação de cada cena. É bem específico, mas, no fim, tem um grande impacto.”
Desde o início do ano nessa posição, a jornalista mergulhou nos estúdios da gigante de filmes depois de trabalhar em outras empresas de animação no Canadá. “No primeiro dia em que eu sentei na minha mesa de trabalho, pensei: ‘Gente, isso é real? Eu estou aqui mesmo?’ Parecia um sonho.”
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Para chegar até a Walt Disney Animation Studios, habilidades como o trabalho em equipe, uma boa comunicação e saber o momento de liderar e de ser liderado foram fundamentais. “As soft skills são muito importantes quando criamos um filme, porque é um trabalho extremamente colaborativo.”
No dia a dia, Stefanie Zorub vivencia uma das melhores partes do seu trabalho ao lado de diversos profissionais que fizeram história com outros filmes da Disney. “Ter contato com essas pessoas é uma inspiração diária e dá essa vontade de crescer, melhorar e buscar a sua melhor versão.”
Entre os próximos projetos, Stefanie também estará à frente da equipe de animação da nova série “Tiana”, do Disney Plus, que estreia em 2025. “Falo que a Stephanie criancinha está muito feliz de poder fazer parte desses projetos.”
O trabalho full time, porém, é dividido com outra paixão. A jornalista também é criadora e apresentadora do primeiro podcast de true crime totalmente focado em casos brasileiros, o “Café com Crime”. “O true crime tem esse lado jornalístico que eu amo, de apurar e investigar, e o formato do podcast me dá liberdade de criar uma narrativa e transformar a história em uma estrutura de cinema.”
Só no Spotify, o podcast tem mais de 18 milhões de plays e 380 mil seguidores, além de ocupar a quinta posição no Brasil na categoria dentro da plataforma. Neste ano, o Café com Crime também se tornou embaixador do Instituto Sou da Paz, organização que produz um relatório anual sobre a falta de Justiça no Brasil. “O podcast começou como um hobby, mas hoje é um trabalho que consegue trazer o peso dessa mensagem e impactar muitas pessoas.”
A trajetória até aqui, na Disney e à frente do podcast, foi repleta de curvas. Até se encontrar no mercado, Stefanie buscou diferentes trabalhos que contribuíram, de alguma forma, para sua profissão. A jornalista por formação já foi roteirista e supervisora criativa de conteúdo editorial – como campanhas de séries e vídeos de redes sociais – para a Netflix, produziu e roteirizou o programa “Vai Dar O Que Falar”, apresentado pela também jornalista Ana Paulo Padrão na Band, trabalhou em uma sorveteria em Los Angeles enquanto fazia um curso na UCLA e também se formou como comissária de bordo. “Por mais diversa que a minha carreira tenha sido, sinto que tudo agrega para o lugar onde cheguei.”
“Todas as voltas te ajudam a amadurecer. Não mudaria o que eu fiz, mas gosto de olhar para esse caminho como um lembrete para seguir meus instintos.”
O que une toda a trajetória é um objetivo que sempre correu na sua veia. “Meu sonho sempre foi contar histórias, não importa o formato. Esse chamado nunca saiu de mim.”
Confira, abaixo, destaques da entrevista com Stefanie Zorub, coordenadora de produção da Walt Disney Animation Studios
Forbes: Como foi sua trajetória até a Disney?
Stefanie Zorub: Tenho formação em jornalismo, estudei roteiro de cinema e depois me mudei para o Canadá para estudar gerenciamento de projetos e produção. No país, tive a oportunidade de começar a trabalhar com animação. Antes da Disney, eu já era coordenadora de produção em outros estúdios, mas decidi arriscar a posição de assistente em junho de 2023 para, depois, tentar subir para o cargo. E deu certo: no começo desse ano, fui promovida como coordenadora de produção da Walt Disney Animation Studios.
Como funciona o seu trabalho hoje?
A minha função é basicamente coordenar uma equipe de artistas. Em “Moana 2”, eu estava especificamente cuidando da equipe de iluminação, que tem 50 profissionais. Sou a ponte entre os diretores e os artistas para contar a história por meio da iluminação de cada cena e fico de olho para que a gente consiga chegar no cronograma final e fazer a entrega com a maior qualidade possível.
A iluminação tem um papel muito importante no filme, porque ela é usada de diferentes maneiras para contar a história. Em um momento mais triste ou tenso, por exemplo, você vai ver uma luz mais escura. É bem específico, mas, no fim, tem um grande impacto.
Você está em uma posição de liderança nessa gigante de animação. Como foi trabalhar com as equipes de “Moana 2”?
Não diria que é necessariamente um trabalho de liderança, porque ainda é muito comunitário. Existe uma colaboração enorme para que cada mínimo detalhe do filme possa sair dentro do planejado.
É incrível poder estar cercada por pessoas tão talentosas no trabalho. Profissionais da equipe trabalharam no “Moana” original ou em outros filmes da Disney. Ter contato com essas pessoas é uma inspiração diária e dá essa vontade de crescer, melhorar e buscar a sua melhor versão.
Qual conselho você daria para quem quer seguir a mesma carreira?
Além da qualificação mais técnica de estudar e buscar um aprofundamento no que quer que seja sua paixão, vejo que, dentro da Disney, uma das coisas mais importantes é o seu desenvolvimento pessoal e social.
Para fazer um filme desses, é muita gente. Cada nome que passa nos créditos do longa é uma pessoa que teve que colaborar de alguma forma para que isso acontecesse. Algumas das qualidades mais importantes são: saber trabalhar em equipe, se comunicar bem, se colocar na frente das pessoas, saber o seu momento de liderar e o seu momento de ser liderado. Essas soft skills são muito importantes quando criamos um filme, porque é um trabalho extremamente colaborativo.
Qual o impacto de trabalhar em “Moana 2”?
Desde que eu comecei a estudar jornalismo e depois roteiro, meu sonho sempre foi contar boas histórias. Acho que a Disney marcou a infância de todo mundo, então muitas das minhas referências de filmes, memórias e nostalgia sempre vieram desse estúdio. Lembro que no primeiro dia que eu sentei na minha mesa de trabalho, falei: “Gente, isso é real? Eu estou aqui mesmo?” Parecia um sonho.
A história de “Moana 2” traz uma temática de conexão e colaboração, além de ter uma mulher liderando. Para mim, foi muito especial poder ver que algo que está na tela também acontece por trás das cenas. A Disney inspira a gente a trazer histórias de dentro de nós mesmos para o dia a dia do nosso trabalho.
Você também tem um outro lado da sua carreira com o “Café com Crime”. Como surgiu essa paixão pelo podcast?
O “Café com Crime” começou como um hobby em 2018. Quando fui para os EUA estudar roteiro na UCLA, escutei muitas produções de true crime e fiquei curiosa para conhecer os casos brasileiros. Na época, não tinha nada sobre o tema além do programa de TV “Linha Direta”, então decidi fazer o meu próprio podcast.
Comecei a gravar no celular no meu quarto. Os primeiros episódios não fizeram tanto sucesso, eram uns 200 ou 300 ouvintes. Mas o feedback que eu tinha das pessoas era tão legal que eu não me sentia esquisita por gostar desse tema. Viramos uma comunidade.
Fiz sete episódios e precisei parar, porque foram surgindo outras coisas e não consegui continuar com o podcast. Mas, quando chegou a pandemia e me vi em casa sem nada para fazer, decidi voltar.
Desde então, o gênero true crime tem ganhado muita força. Como foi ver esse crescimento?
Quando voltei com o “Café com Crime” em 2020, existiam uns 15 podcasts do gênero no mercado brasileiro e o tema já tinha virado uma tendência. Quando saiu “A Mulher da Casa Abandonada”, do Chico Felitti, meu gráfico de audiência do Spotify subiu muito, porque foi uma série que viralizou e as pessoas queriam mais histórias de casos brasileiros.
Nessa época, o podcast fechou um acordo de exclusividade com o Spotify por um ano e acabou tomando proporções que eu jamais imaginaria. Apesar do contrato ter acabado, o crescimento continua constante.
Como você faz para equilibrar o trabalho na Walt Disney Animation Studios com o podcast?
Hoje, o podcast não é mais um hobby, e sim um trabalho. Tenho uma equipe de apoio para dar conta dos episódios quinzenais, com um editor, uma jornalista e uma profissional que cuida de comunicação e redes sociais.
Mesmo trabalhando full time na Disney, todo dia estou revendo algum conteúdo ou fazendo pesquisas. É um trabalho constante, mas ainda bem que eu amo o que eu faço.
Muita gente consome os podcasts como entretenimento, mas existe uma responsabilidade por trás de cada caso e de cada história que a gente conta. Conseguir trazer isso com o “Café com Crime” tem sido a minha maior recompensa.
Antes de se encontrar nesses dois trabalhos, você teve uma carreira bem diversa. Como você avalia essa trajetória até aqui?
Eu tive os meus momentos de não saber o que ia fazer da minha vida que foram me levando para diferentes lugares. Se eu tivesse acreditado em mim desde o começo, talvez eu tivesse chegado antes onde estou hoje. Mas as coisas acontecem no seu tempo. Todas as voltas perdidas te ajudam a amadurecer.
Não mudaria o que eu fiz, mas gosto de olhar para essa trajetória como um lembrete de seguir meus instintos. Hoje, sinto que me encontrei profissionalmente fazendo o que eu amo, que é contar boas histórias.