Ao assistir ao musical “Capiba, Pelas Ruas Eu Vou”, em homenagem ao músico pernambucano Lourenço da Fonseca Barbosa (Capiba, 1904-1997), é possível perceber o impacto do trabalho de Maria Cecília Brennand, 64 anos, diretora-geral do espetáculo e presidente do Aria Social. Ela sobe ao palco no final da apresentação, ao lado de um coro de 45 bailarinos-cantores e 19 músicos, mas sua atuação principal acontece nos bastidores, liderando a organização que fundou há 20 anos.
Bailarina desde os 16 anos, Cecília criou uma escola de dança em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife, em 1991, já com o nome de Aria. “Na música, Aria representa um momento de elevação pela beleza do canto”, explica. Em 2004, transformou o espaço em um projeto social voltado à educação e profissionalização por meio da dança e da música. Desde então, mais de 10 mil pessoas passaram pelo Aria Social. “Não buscamos quantidade, mas qualidade na transformação dos jovens por meio da arte”, afirma.
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O projeto atende crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social, moradores de bairros próximos à sede e matriculados em escolas públicas. Os resultados são expressivos: cerca de 500 alunos por ano frequentam o Aria, e 60% ingressam no ensino superior, muitos deles seguindo carreiras nas áreas de educação, dança e música. Desde 2002, o Aria oferece o primeiro curso técnico em dança reconhecido pelo MEC em Pernambuco. Para Cecília, o diploma é um divisor de águas, e, por isso, ela planeja lançar um curso técnico em música em breve.
Preocupada com a comunidade e as famílias dos alunos, Cecília criou, em 2017, a Casa de Maria, um projeto que capacita mães, avós e cuidadoras na produção de artesanato, gerando renda e promovendo autonomia.
A paixão de Cecília pela dança começou na sua primeira aula, quando foi aluna da bailarina Mônica Japiassú, pioneira nos anos 1970. Ela precisou equilibrar o amor pela dança com a vida de casada e de mãe. “Casei aos 18 anos e tive meu primeiro filho aos 20”, conta Cecília, esposa de Ricardo Brennand (filho do fundador do Instituto Ricardo Brennand), com quem tem três filhos.
Hoje, apesar de mais focada na gestão do projeto, Cecília sente falta de dançar. “A dança me realiza. Por meio dela, aprofundo minha capacidade de amar.” Após 35 anos à frente do Aria, entre escola e projeto social, ela continua envolvida com os alunos e o espaço. “A casa é linda e eu cuido dela como se fosse a minha. Alguns alunos passam 15 anos aqui, e é uma alegria ver suas conquistas.”
Matéria publicada na edição 123 da revista, em setembro de 2024, disponível nos aplicativos na App Store e na Play Store e também no site da Forbes.