Antes de assumir como CEO da Esfera Brasil, Camila Camargo trabalhou em agência de comunicação e no marketing do JK Iguatemi e da Vivara, com equipes majoritariamente femininas. Quando chegou à frente da organização, que tem entre os seus 50 associados alguns dos maiores executivos e empresários do país, soube que precisava fazer algo para mudar o cenário que encontrou. “Ainda são poucas as mulheres que têm a caneta na mão quando falamos de alta liderança. Precisei sentir isso na pele para ser mais ativa.”
Camila lançou então a primeira edição do prêmio Mulheres Exponenciais, que em março terá sua quarta edição, premiando sete mulheres em diferentes áreas de atuação. Nos dois primeiros eventos, era possível contar nos dedos a quantidade de homens na plateia. Na última edição, com o dobro do tamanho, os associados queriam até participar entregando os prêmios. “As mulheres já entenderam quais são os problemas e não vão mais aceitar desigualdades. Agora sou a favor de trazermos os homens para esse diálogo.”
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A CEO da Esfera Brasil defende furar a bolha e ampliar as conversas. É isso que a organização faz ao atuar como uma ponte entre empresários e políticos brasileiros. “Brasília e São Paulo são dois polos extremamente importantes para o crescimento do Brasil, mas existe muita falha de comunicação”, diz Camila, que é casada com o presidente do Tribunal de Contas da União e se divide entre as duas cidades.
Fórum Esfera Internacional em Roma
Para articular esses universos, a Esfera promove eventos, fóruns e seminários dentro e fora do Brasil. Em outubro deste ano, reuniu mais de 200 empresários brasileiros na segunda edição do Fórum Esfera Internacional, desta vez em Roma, na Itália, celebrando os 150 anos da imigração italiana. “O Fórum é uma oportunidade de fomentar pautas em comum para os dois países, principalmente no momento em que o Brasil preside o G20 e a Itália, o G7.”
O evento reuniu representantes do governo italiano, integrantes do setor privado e autoridades brasileiras dos Três Poderes, como o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco, e os ministros do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso e Dias Toffoli.
Entre os destaques dos painéis, que mesclavam personalidades dos setores público e privado, a CEO da Esfera Brasil enfatiza o otimismo dos presentes, um sentimento que ela compartilha. “Todos os empresários dizem estar muito positivos com relação ao Brasil. Como são os CEOs e presidentes das maiores empresas do país, isso acalma todo mundo.”
Além dos eventos, a partir do próximo ano o Instituto Esfera vai oferecer bolsas para doutorandos e pós-doutorandos realizarem pesquisas sobre temas estratégicos para o progresso do país, começando por economia, tecnologia e sustentabilidade. “A ideia é que as discussões da Esfera alimentem o Instituto e as pesquisas tornem essas discussões cada vez mais ricas.”
Início da Esfera
A organização, que hoje se posiciona como um “think tank”, promovendo discussões relevantes para o desenvolvimento do país, nasceu na pandemia, com o impulso do empresário João Camargo, pai de Camila, atual presidente do conselho da CNN Brasil, sócio da gestora de recursos 89 Investimentos e acionista das rádios Alpha, BandNews FM, Disney, Nativa e 89 FM.
No primeiro lockdown, em 2020, o empresário convidou colegas de diferentes setores para debater a situação, trocar informações e discutir o futuro do Brasil em uma videoconferência semanal. “As discussões estavam muito profundas e começamos a pensar em como transformar aquilo em um negócio”, lembra Camila. À época, ela era empreendedora e cofundadora da Cór, agência digital focada em educação, além de participar informalmente da Esfera.
As calls semanais viraram negócio em julho de 2021 e, seis meses depois, Camila vendeu a participação na Cór para se dedicar ao think tank. “O que eu fazia [na Cór] era basicamente marketing digital e produção de cursos. Quando a gente começou a Esfera, estávamos falando de economia, projetos de lei, futuro das eleições e eu, curiosa que sou, quis me aprofundar nisso.”
Camila se tornou CEO em outubro de 2022, quando seu pai – o João, como ela mesma o chama –, recebeu a proposta para assumir a CNN. “Oficializamos pela primeira vez como seria trabalhar em família. Foi aí que comecei a chamá-lo de João.”
Mulher e CEO
O background em comunicação e o fato de ter crescido em uma casa que recebia pessoas “de A a Z” ajudou a desenvolver uma habilidade valiosa para o seu trabalho hoje. “Existem muitas estratégias que podemos usar para sermos ouvidas. Não acredito em bater de frente, falando a língua deles a gente ganha muito mais respeito.”
A “língua deles”, ela aprendeu, é a dos números. “Quando entrei na Esfera, uma ministra me disse: ‘Se você quiser ser respeitada nesse meio, precisa aprender sobre economia e dados’.”
Os dados hoje mostram que para alcançar a paridade de gênero ainda deve levar 134 anos, segundo o Fórum Econômico Mundial, mas Camila defende olhar o copo meio cheio. “O caminho é longo, mas não tão longo. As novas gerações estão vindo mais fortes e com muitos bons exemplos.”