Em 2024, apenas 5% das posições de CEO no Brasil são ocupadas por mulheres (um aumento de apenas 1% em relação a 2023), segundo levantamento da Vila Nova Partners, que mapeou 83 empresas com ações listadas na B3.
Tarciana Medeiros, CEO do Banco do Brasil, Jeane Tsutsui, do Fleury, Cristina Betts, do Iguatemi, e Magda Chambriard, da Petrobras, são as únicas CEOs mulheres à frente de companhias que compõem o Ibovespa, índice que reúne as ações das empresas mais negociadas na bolsa brasileira. A última assumiu em 2024, assim como Paula Harraca, da Ânima Educação, e Magali Leite, da Espaçolaser, que chegaram ao topo de companhias listadas na B3 no último ano.
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Os avanços existem, embora de forma lenta. As mulheres ocupam 39,1% dos cargos de liderança no país, segundo levantamento da CNI (Confederação Nacional da Indústria) feito com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2023.
Isso representa um aumento de menos de quatro pontos percentuais em uma década. Em 2013, elas ocupavam 35,7% das posições de liderança, que incluem funções de diretores, dirigentes, gerentes ou supervisores.
Mulheres são mais eficazes em posições estratégicas e de decisão, como apontam diversos estudos, e representam mais de 40% do quadro de funcionários nas empresas, mas ainda estão subrepresentadas na liderança. “Elas conquistaram representatividade na alta liderança, mas o movimento ainda é lento”, afirma Lina Nakata, professora da FIA Business School.
Abaixo, conheça 10 executivas que quebraram o teto de vidro e assumiram como CEOs em 2024 ou foram anunciadas para a posição ao longo do último ano:
Livia Chanes, CEO do Nubank Brasil
Até então country manager do Nubank no Brasil, Livia Chanes assumiu em janeiro como CEO do banco. O cargo foi criado para ela: antes, era Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, que fazia o papel de liderança no país.
Chanes chegou ao banco como vice-presidente de operações no início da pandemia, em 2020. “A gente pisca aqui e a coisa cresce”, diz a executiva, que se encantou com a possibilidade de criar produtos e serviços do zero em uma empresa em construção. “É um trabalho quase de empreendedorismo. O Nubank cresceu lançando novos produtos.”
Antes disso, liderou a construção das áreas digitais do banco Itaú e chegou a ser sócia da McKinsey, onde iniciou a carreira e ficou por 10 anos.
“A gente pisca aqui e a coisa cresce”, diz Chanes, que se encantou com a possibilidade de criar produtos e serviços do zero em uma empresa em construção. “É um trabalho quase de empreendedorismo. O Nubank cresceu lançando novos produtos.”
Conheça a trajetória de Livia Chanes
Magali Leite, CEO da Espaçolaser
Com mais de 30 anos de carreira, Magali Leite atuava como CFO da rede de depilação desde junho de 2023. Leite construiu sua carreira no mercado financeiro, muitas vezes sendo a única mulher da sala, e hoje é presidente do IBEF-SP (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças), com mais de 1000 associados, sendo cerca de 400 mulheres.
“Sou uma pessoa improvável nessa posição”, diz a executiva ao falar da sua carreira. Improvável porque a carioca, de origem humilde e que fez curso técnico em secretariado, não teve grandes referências corporativas. Mas foi incentivada a estudar e galgou posições até conquistar um espaço como uma das cinco mulheres que lideram empresas listadas na B3.
A executiva é a primeira mulher à frente da empresa, que tem cerca de 6 mil funcionários, sendo 96% mulheres, que também representam 80% do C-Level. “Estamos conseguindo conquistar um espaço que a gente brigou bastante para ter.”
Conheça a trajetória de Magali Leite
Magda Chambriard, CEO da Petrobras
A executiva foi aprovada pelo conselho da Petrobras como CEO em maio de 2024, trazendo uma longa trajetória no setor de energia e petróleo.
Chambriard, também nomeada conselheira de administração, é mestre em Engenharia Química e Engenheira Civil pela UFRJ. Iniciou sua carreira na Petrobras em 1980, como estagiária, atuando na área de produção, e foi cedida à ANP (Agência Nacional do Petróleo) em 2002.
Assumiu a diretoria da ANP em 2008 e a diretoria geral em 2012, tendo liderado a criação das Superintendências de Segurança e Meio Ambiente, TI, os estudos técnicos que culminaram na primeira licitação do pré-sal, entre outros. Foi responsável por diversas áreas dentro da entidade.
É a segunda presidente mulher da história da Petrobras – a primeira foi Maria das Graças Foster, que liderou a empresa entre 2012 e 2015.
Cristina Hegg, CEO da Bayer Consumer Health
Hegg é a primeira mulher a liderar a divisão de medicamentos isentos de prescrição da multinacional alemã no Brasil. Com mais de 20 anos de carreira, os últimos 7 na Bayer, a paulistana se destacou e chegou à cadeira mais alta não apenas por trazer experiência e resultados, mas por se comunicar com segurança e deixar claras suas ambições. “Aprendi que precisamos falar o que queremos. Pelo menos para mim, as coisas nunca caíram no colo.”
A executiva de marketing alternou passagens entre farmacêuticas, como a Boehringer Ingelheim, e gigantes de bens de consumo, como Unilever e Johnson & Johnson. Na Bayer, liderou a área de produtos dermatológicos e agora é responsável por liderar o crescimento da divisão de consumer health, com um portfólio de 170 produtos, como Aspirina, Bepantol e Redoxon, no mercado brasileiro.
Conheça a trajetória de Cristina Hegg
Paula Harraca, CEO da Ânima Educação
Depois de 20 anos de carreira na ArcelorMittal, de trainee ao C-Level, Paula Harraca assumiu este ano como CEO da Ânima Educação. A executiva argentina é a primeira mulher no cargo e também a primeira que não faz parte do grupo de sócios-fundadores da companhia. “Por onde eu passei, fui a primeira, mas garanti que não seria a última.”
A executiva já ocupava desde 2019 um assento no conselho consultivo da Una, onde começou a história da Ânima em Belo Horizonte. Em maio de 2023, foi convidada pelos fundadores da empresa a participar do processo para se tornar CEO. E, no final do ano passado, passou a fazer parte do conselho de administração da Ânima para conhecer melhor a empresa. “Minha conexão com a educação é profunda. Minha mãe foi professora universitária 50 anos e posso dizer que a única e melhor herança que eu tive na minha vida foi a educação.”
Conheça a trajetória de Paula Harraca
Juliana Pereira, CEO da Montblanc
Há 13 anos na Montblanc, Juliana Pereira se tornou a primeira mulher e brasileira à frente da companhia no país.
A executiva começou no marketing, há mais de 10 anos, e chegou à cadeira número um da empresa, que faz parte do grupo Richemont, dono da Cartier e de outras marcas de luxo. Ganhou projeção ao não se restringir ao job description e criar e liderar o e-commerce da marca no Brasil. “Se você tem ambição de chegar na liderança, precisa ir além e fazer a diferença no resultado do negócio.”
Conheça a trajetória de Juliana Pereira
Ana Karina Bortoni, CEO do Grupo Silvio Santos
Em dezembro, foi nomeada CEO do Grupo Silvio Santos, conglomerado que engloba Jequiti Cosméticos, Hotel Jequitimar, Liderança Capitalização, Sisan Empreendimentos Imobiliários e TQJ.
A executiva faz parte do grupo desde 2015, inicialmente como consultora de governança e gestão, e desde 2023 integra o conselho de administração.
Antes disso, Ana Karina foi a primeira mulher a assumir a presidência de um banco brasileiro, liderando o Banco BMG de 2020 a 2023, além de ter construído uma carreira de quase 20 anos na McKinsey, sendo sócia por 9 anos.
Leia a entrevista com Ana Karina Bortoni, publicada em dezembro de 2020
Priscyla Laham, CEO da Microsoft Brasil
Priscyla Laham, atual vice-presidente da Microsoft na região das Américas, é a nova CEO da big tech no país. A executiva acumula mais de 25 anos de experiência nos setores de tecnologia, eletrônicos de consumo e serviços online e sucede Tânia Cosentino, que liderou a operação brasileira nos últimos seis anos e agora será gerente-geral especializada em vendas para o setor de segurança da companhia na América Latina.
Laham passou pela IBM antes de chegar à Microsoft pela primeira vez, em 2000. Ocupou diferentes posições no Brasil, América do Sul e EUA em mais de 10 anos na companhia. Passou um ano como diretora de vendas no Facebook antes de voltar à Microsoft como vice-presidente de vendas, há oito anos.
Poliana Sousa, CEO da General Mills no Brasil
A executiva assumiu em setembro como presidente da gigante de alimentos, dona das marcas Yoki, Kitano e Häagen-Dazs, entre outras.
Administradora de formação com MBA em marketing, em mais de 25 anos de carreira a executiva passou por multinacionais como P&G, onde ficou quase 20 anos, Coca-Cola e Unilever. Nesta última, atuava como general manager de Personal Care no Brasil desde fevereiro de 2023, à frente das categorias de sabonetes, desodorantes e saúde bucal, com marcas como Rexona, Dove e Lux.
Poliana assumiu diferentes posições de liderança no país dentro do marketing, mas começou sua trajetória profissional como estagiária de pesquisa de mercado no escritório da 3M em Iowa, nos Estados Unidos, onde também estudou administração de empresas. Na P&G, também teve posições em solo americano.
Ana Bógus, CEO da Nivea Brasil
A administradora Ana Bógus foi anunciada em janeiro como a nova presidente da Beiersdorf Brasil, dona de marcas como Nivea e Eucerin. Bógus deixou a liderança da Havaianas na América Latina, empresa em que passou os últimos dois anos, para ser a primeira mulher a ocupar o cargo na Nivea.
A executiva também trabalhou em outras grandes empresas como Nestlé, Kimberly-Clark, liderando a operação chilena e uma divisão no Brasil, foi diretora geral e líder global da Rappi e atualmente também é conselheira de administração da Ânima Educação.