Era sexta-feira 13 do mês de março e Carolina Kia Takada já tinha refletido bastante para tomar as decisões necessárias que formariam a resposta à pandemia da rede de estúdios de inovação Weme, do qual é sócia e CEO. Passado o choque inicial das medidas de isolamento social, Carolina e os sócios-fundadores Maurício Bueno e Wagner Foschini, que lideram uma empresa que ajuda outras a se reinventarem, precisaram fazer o mesmo em suas próprias operações.
Sediada em Campinas (SP), a Weme tem estúdios em Florianópolis, Ribeirão Preto e São Paulo. As metas para este ano eram ambiciosas: um novo escritório seria lançado em Uberlândia, e a expectativa era triplicar o faturamento. A Covid-19 forçou a revisão dos planos e a uma série de mudanças em como a empresa administra os projetos de inovação junto a seus clientes.
“Assim como outras empresas começamos 2020 com muitos planos, fizemos grandes investimentos para a expansão em termos de recursos, talento, e escritórios – demorei um tempo para aceitar e digerir o que estava acontecendo, bem como os impactos para a nossa operação, mas nos movimentamos muito rápido”, diz a empreendedora.
A Weme conduz projetos de inovação por sprints que podem durar de cinco dias até 12 meses, tratando a inovação do ponto de vista de design, tecnologia ou dando tração à iniciativas existentes. Cerca de 95% dos projetos de consultoria eram conduzidos de forma presencial, e a transição foi desafiadora: “Nossa proposta de valor está muito ligada ao olho no olho, na co-criação presencial. Nossos espaços físicos propiciam muito isso e são importantes para as abordagens criativas e colaborativas que utilizamos”, explica Carolina.
VIRANDO A CHAVE
A Weme já vinha monitorando o alastramento do coronavírus desde o início de março e naquela sexta-feira 13, dois dias depois que a Organização Mundial de Saúde declarou a pandemia, a chave virou e a consultoria de inovação não olhou para trás. Um hackathon de 48 horas foi feito com a própria equipe, que analisou os 50 projetos de consultoria em andamento, e encontrou formas digitais de atender os diversos clientes, que incluem a Bosch, McDonald’s, Unilever, Natura e DHL.
“Olhamos para todas as nossas propostas de valor e as jornadas de nossos clientes para entender o impacto do isolamento social [no andamento dos projetos de inovação] e, a partir daí, ajustamos nossa oferta, que está sempre em beta e em constante evolução”, explica. Nestes dois dias de brainstorming, as primeiras versões das plataformas online da Weme foram desenvolvidas e melhorias frequentes acontecem com base no feedback dos clientes.
Segundo a CEO da Weme, os sprints foram adaptados para acontecer em sessões mais breves – a jornada presencial era de oito horas, e as sessões online duram três horas, em média. A empresa lança mão de diversas ferramentas para conduzir os trabalhos, como as plataformas de colaboração Miro e Mural, além de outros recursos para dar leveza às sessões e trazer estímulos, como o Snap Camera para filtros, o Canva para fundos de tela e o Loopback, que permite que todos os participantes ouçam a mesma música durante os trabalhos.
Apesar de a mudança não ter sido fácil, os resultados do esforço para seguir operando online têm sido positivos. O braço de educação da empresa, o Innovation Room, que tem cursos focados em áreas como criatividade, já treinou mais de 1 mil pessoas nos 50 dias desde a estreia da plataforma.
Quanto aos projetos de inovação, a empreendedora diz que o trabalho não perdeu em qualidade durante a pandemia. Segundo Carolina, o Net Promoter Score (NPS) da empresa continua em 80%, mesmo no modelo remoto. “Nossa proposta de valor foi mantida mesmo com tudo rodando de forma remota”, afirma. A satisfação dos clientes gerou benefícios também para os 80 colaboradores da empresa, que farão “anywhere office”, ou seja, trabalharão remotamente de onde quiserem, até o final do ano.
LIÇÕES DA PANDEMIA
Refletindo sobre os desdobramentos da crise para si própria, Carolina, que é instrutora de yoga e adepta da meditação, tem se beneficiado destas práticas para navegar o momento atual, e ser uma líder melhor.
“A yoga e a meditação me ajudam a conter a ansiedade, que é inevitável, aceitá-la como parte da vida e ressignificar alguns pensamentos que vêm sem serem convidados – acabo levando isso para a Weme, pois nossos sentimentos refletem nas outras pessoas”, ressalta, acrescentando que as práticas de bem estar e saúde mental fazem parte do ethos da empresa.
Sobre o que fica depois da pandemia para a Weme, bem como para seus clientes, Carolina acredita que a crise atua como um catalisador para organizações que nasceram em outros contextos e agora precisam passar por esta transição digital para sobreviver. Segundo ela, centros de inovação continuarão sendo um grande aliado nessa jornada.
“Os diversos atores do ecossistema serão muito importantes para ajudar estas empresas a solucionarem suas dores, e centros de inovação oferecem um ponto de encontro entre estes atores, que podem colaborar para construir produtos e serviços relevantes”, aponta.
Outra tese da empreendedora que foi reforçada pelas atuais circunstâncias é a relevância do lado humano da inovação: “Infelizmente, pela dor estamos aprendendo sobre a importância da colaboração, da cultura, das experiências. No fim, a tecnologia é só um meio para a inovação, mas é tudo sobre as pessoas e isso nunca esteve tão evidente.”
Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC e outros.
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