Pelo segundo ano consecutivo, a plataforma de dados BigDataCorp e o Movimento Web para Todos, iniciativa que tem o propósito de mobilizar, educar e transformar a sociedade para a construção de uma web acessível a todas as pessoas, inclusive os mais de 45 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência, realizaram um levantamento para avaliar o nível de acessibilidade desses usuários.
Para fazer essa análise, foram visitados os 14,65 milhões de endereços ativos da web brasileira. A conclusão do levantamento é que, embora a situação tenha tido uma leve melhora em relação ao ano passado, a internet no Brasil ainda é muito inacessível para cidadãos com algum tipo de deficiência, seja ela de visão, audição, motora ou outras. A variação no total de sites que tiveram sucesso em todos os testes de acessibilidade aplicados foi mínima: de 0,61% em agosto de 2019 para 0,74% em abril de 2020.
“Esse é um crescimento pequeno, mas equivale, proporcionalmente, a um aumento superior a 21%”, diz Thoran Rodrigues, CEO e fundador da BigDataCorp. “Outra forma de enxergar uma tendência positiva é o fato de que, se no ano passado havia 5,6% de sites que falharam em absolutamente todos os testes aplicados, hoje apenas 0,01% ‘zeraram’”, compara.
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Para o executivo, analisados em conjunto, esses dois dados apontam para uma tendência em prol da redução de barreiras. “Mas o fato é que ainda temos 99,26% dos sites com pelo menos um problema a ser solucionado em termos de acessibilidade.”
MOMENTO OPORTUNO
Para Simone Freire, idealizadora do Movimento Web para Todos, o momento é muito oportuno para a conscientização da sociedade sobre o problema de exclusão digital. “Estamos há dois meses isolados em nossas casas por conta do novo coronavírus. A web, mais do que nunca, tornou-se o nosso principal meio de comunicação com o mundo externo: para comprar, fazer reuniões virtuais, buscar informação, estudar e se divertir. Esses resultados evidenciam ainda mais o isolamento que esta parcela da população enfrenta todos os dias de suas vidas.”
Os dados apurados apontam uma leve melhora na acessibilidade nos sites governamentais. No primeiro monitoramento, 99,66% deles acusavam algum problema de acessibilidade contra 96,71% da análise atual. Visto por outro ângulo, apenas 0,34% dos sites governamentais não continham falhas, índice que hoje está em 3,29%.
O levantamento analisou três recursos das páginas web: os links, as imagens e os formulários. Quando não aplicados corretamente, esses itens acabam se tornando barreiras para pessoas com algum tipo de deficiência. “Imagens sem descrição são empecilhos para pessoas cegas conseguirem compreender o conteúdo da foto ou figura publicada. Formulários com problemas de acessibilidade dificultam o alcance de pessoas cegas e de pessoas com mobilidade reduzida que não conseguem usar o mouse”, exemplifica Reinaldo Ferraz, especialista em desenvolvimento web do W3C Brasil e do Ceweb.br/NIC.br, entidade que tem como missão disseminar e promover o uso de tecnologias abertas na web e que também participou da iniciativa.
Veja, no infográfico, os recursos analisados e as principais diferenças entre os dois levantamentos:
Esta segunda edição do estudo constatou que os sites de educação lideram o ranking de eliminação de barreiras de navegação para pessoas com deficiência – 3,88% deles não apresentaram problemas para este público, um resultado mais de cinco vezes maior do que o índice geral. Na sequência estão os sites de notícias, com 3,03% de sites aprovados, os corporativos, com 2,81%, e os e-commerces, com 1,30%.
Para Vagner Diniz, gerente geral do W3C Brasil e do Ceweb.br/NIC.br, a mudança da web brasileira em prol das pessoas com deficiências depende, principalmente, da adesão das empresas e instituições à causa. “A transformação seria muito mais rápida se a legislação especificasse quais critérios de acessibilidade um site deve atender. Por enquanto, isso não passa de uma declaração de boa vontade do legislador, mas sem nenhuma aplicação prática.”
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