À zero hora de ontem (28), Dia Internacional do Orgulho LGBTI, o Grupo Croma, criado há uma década pelo publicitário e filósofo Edmar Bulla, anunciou o Rainbow, uma plataforma construída para conectar prestadores de serviço e usuários principalmente da comunidade formada por lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersex.
A ideia já vinha sendo maturada há um ano e meio por Bulla, que fez uma especialização em marketing na Universidade de Harvard e trabalhou como executivo da área em empresas do porte de Pepsi e Nokia, inclusive em cargos de atuação regional. “Se eu disser que nunca sofri preconceito ou que nunca fui preterido para um cargo superior por ser gay, estaria mentindo”, diz. O insight, no entanto, veio quando, durante uma reunião de trabalho, seu celular exibiu um pop up com a notícia sobre um casal homossexual que havia sido agredido. “Aquilo me despertou o interesse em desenvolver algo que oferecesse um nível maior de segurança aos usuários”, lembra.
A partir daquele momento, o executivo começou a desenhar o que seria o Rainbow e passou o desenvolvimento à Cromatech, braço tecnológico do Grupo Croma, especializado em consultoria, pesquisa e capacitação de profissionais com foco em inovação. Para começar, a equipe envolvida no projeto desenhou um processo capaz de garantir o maior nível de segurança possível. Isso inclui o preenchimento de um cadastro e o envio de documentos pelo candidato a prestador, que, em seguida, é devidamente checado pela empresa.
O passo seguinte é informá-lo que, para trabalhar na plataforma, ele precisa estar de acordo com o Código de Conduta Ética elaborado para esta finalidade, que incluiu, entre outros princípios, uma postura sem preconceito, ética, responsável, íntegra, transparente e de respeito em relação à dignidade humana em todas as relações comerciais promovidas pelo app e que a individualidade de cada pessoa seja mantida em sigilo durante a prestação do serviço.
“O aplicativo foi moldado para a comunidade LGBT+, mas eu costumo dizer que ele serve para qualquer pessoa que goste de ser respeitada”, diz Bulla, explicando que as regras valem para os dois lados: prestadores e usuários. “Podemos ter um ótimo prestador de serviço, mas se ele não respeitar a diversidade, não está apto a trabalhar pelo Rainbow. Se já é ruim enfrentar o preconceito numa loja ou mercado, a coisa fica muito mais séria quando abrimos a porta da nossa casa para quem não sabemos se respeita ou não o que cada um é, do jeito que é.”
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Uma vez em operação, a plataforma contará com um ranking, baseados nas notas dadas aos prestadores pelos usuários – e vice-versa –, e com serviço de ouvidoria. “Além disso, cada um dos profissionais recebe treinamento e capacitação, inclusive com regras claras de comportamento, e precisa ter uma nota mínima para receber autorização para começar a operar.”
Nessa primeira fase, o aplicativo, disponível para Android e iPhone, vai estar aberto para o cadastramento dos profissionais. Até ontem, cerca de 8.000 deles já estavam na plataforma, em 24 áreas diferentes, como motoristas, coaches, passeadores e adestradores de cães, personal trainers, DJs, técnicos em manutenção de computadores, tradutores e intérpretes, decoradores e professores, entre outros. “O objetivo é chegar a 32 categorias de serviços e dobrar o número de prestadores até meados de julho.”
Em seguida, o app será aberto aos usuários. Tudo isso, inicialmente, na área metropolitana de São Paulo. “As legislações são muito específicas de acordo com a cidade, por isso temos que trabalhar cada uma individualmente”, diz Bulla, explicando que novas cidades – e até novos serviços – vão exigir integrações adicionais. Por enquanto, os usuários podem começar fazendo o cadastro no app.
“Decidimos antecipar o lançamento em função da pandemia. O número de desempregados está muito alto”, diz o empreendedor. E ele tem razão. No fim de maio, eram perto de 13,2 milhões de brasileiros desocupados segundo o IBGE. Já a conta que junta profissionais desempregados, subocupados e força de trabalho potencial (aqueles que não procuram mais emprego) bateu o recorde da série histórica, iniciada em 2012, e chegou a 28,4 milhões de pessoas. Uma pesquisa da UFMG e Unicamp, divulgada pouco antes, revelou que a população LGBT+ está ainda mais suscetível ao desemprego. “Meu objetivo é que, em breve, esses profissionais já possam gerar renda”, diz Bulla, explicando que a plataforma será remunerada com uma taxa de 15% a 20%, dependendo do serviço executado, mas só depois que o prestador receber o pagamento.
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O próximo passo, diz o executivo que investiu cerca de R$ 600 mil para a criação do Rainbow, é reverter uma porcentagem da receita para entidades que atuem em prol da causa. “Essa é uma comunidade que, constantemente, é alvo de preconceitos que, além de ferir sua integridade, podem matar. É preciso trabalhar pela segurança e pela dignidade de seus integrantes.”
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