Dez anos atrás, Luiz Henrique Didier Júnior deixou sua carreira na área de pagamentos construída em bancos tradicionais e empresas de serviços financeiros para assumir o negócio da família. Na época, o Bexs Banco tinha acabado de deixar de ser uma corretora de câmbio para se transformar em um pequeno banco, e o país vivia a efervescência do comércio eletrônico. Só que comprar qualquer coisa do outro lado do mundo não era algo tão simples por aqui.
“Naquela época, apenas 5% dos brasileiros possuíam cartão de crédito internacional, ou seja, a grande maioria da população não conseguia comprar nos grandes marketplaces de fora do país que ofereciam produtos com tíquete baixo”, lembra o executivo, citando como exemplo o Alibaba.
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De olho na oportunidade, Didier juntou seu expertise em meios de pagamento, a experiência da empresa em câmbio e o know how da fintech curitibana Ebanx – que se transformou em unicórnio em outubro do ano passado – para desenhar uma solução digital e escalável para que os consumidores brasileiros pudessem pagar suas compras também com boletos e cartões de débito em reais. “A Ebanx captura a transação e nós fazemos o processo de câmbio e o pagamento dos fornecedores.”
A iniciativa deu tão certo que, atualmente, quase todas as compras feitas em território brasileiro no exterior – e em sites nacionais que comercializam itens importados – passam pela plataforma do Bexs Banco, embora quase ninguém saiba disso. “Eu costumo dizer que quanto menos aparecemos, mais fluida é a transação”, diz Didier, que tem no negócio a maior parte da receita do banco, que transaciona, atualmente, compras de 35 milhões de consumidores. E o potencial é infinitamente maior: hoje, o consumo brasileiro no e-commerce internacional equivale a apenas 1% do market share global.
Seguindo esse raciocínio – de que a internet tem a capacidade de democratizar acessos e operações –, o executivo firmou, há cerca de um ano e meio, uma parceria com a Avenue Securities para simplificar o investimento brasileiro no exterior. “Existe uma impressão por aqui de que operações feitas fora do país são ilegais. Mas investir em ações de companhias internacionais, por exemplo, ou manter recursos no exterior não tem nada de ilícito desde que a origem seja comprovada”, explica.
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“O que acontece é que, por causa do câmbio, o processo de transferência dos valores via bancos tradicionais não é muito simples”, diz ele, citando a imensa perda de oportunidades que isso representa. O executivo explica que, nos mercados mais desenvolvidos, entre 30% e 40% dos aportes feitos pelos investidores em bolsa são em ativos estrangeiros. Aqui, 99% dos recursos investidos pelos brasileiros ficam no país.
Para democratizar também o investimento, mais uma vez a tecnologia entrou em ação, destrinchando o arcabouço regulatório e de registro no Banco Central, e facilitando a transferência para fora do país. Na prática, o dinheiro do investidor sai do banco no qual tem conta para a Avenue (como uma TED ou DOC), que possui um sistema integrado, por API, ao Bexs Banco. Depois disso, o investimento é feito com um clique. “Nossa meta era tirar a fricção do envio do dinheiro do processo, e conseguimos”, explica Didier, revelando que a Avenue já conta com cerca de 150 mil clientes.
O próximo passo é aproveitar todo esse conhecimento – e tecnologia – para conquistar outra fatia de um mercado com uma lacuna imensa: o comércio exterior. “O Brasil tem, atualmente, 100 mil empresas operando no segmento. Desse total, 200 são responsáveis por 80% do volume, em operações normalmente conduzidas pelas instituições financeiras tradicionais. Outras 99.800 empresas enfrentam muitos problemas para dar conta do seu dia a dia”, conta.
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Depois de mapear cada um dos passos do comércio exterior brasileiro – e todos os sistemas envolvidos –, a empresa está analisando como digitalizar tudo isso. “A ideia é aplicar a mesma inteligência das demais soluções, ou seja, encurtar distâncias e agilizar procedimentos, sempre cumprindo todas as exigências regulatórias, mas evitando desgastes desnecessários nesse fluxo.”
A meta é que a plataforma esteja operante até o fim do ano. “O Brasil é um país com imenso potencial, onde quase 80% da população já têm acesso à internet. Mas, para entrarmos, de fato, no mercado global, precisamos ser competitivos, ter preço compatível, processos bem azeitados e facilidade de operar de dentro pra fora e vice-versa.”
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