Após a morte de Trayvon Martin, em fevereiro de 2012, e a absolvição de seu assassino, George Zimmerman, no ano seguinte, Patrisse Cullors estava motivada a agir. Ao lado de Alicia Garza e Opal Tometi, ela criou #BlackLivesMatter para expor o racismo em curso. “Espero que fique maior do que podemos imaginar”, pensou ela na época.
E ficou. O Black Lives Matter evoluiu para um movimento que continua crescendo ainda hoje. Em maio e junho, a hashtag foi tuitada, em média, 3,7 milhões de vezes por dia. Em 28 de maio, #BlackLivesMatter foi usado no Twitter quase 8,8 milhões de vezes – a maioria delas em um único dia desde que o Pew Research Center começou a rastreá-la em 2013.
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“Milhões de pessoas normais que usam a hashtag porque veem a necessidade de denunciar o racismo e a supremacia branca fizeram com que se tornasse viral”, diz Patrisse. “Eu não era uma celebridade, não éramos realmente conhecidas fora das nossas cidades e estados há sete anos. Esse é o poder da organização de base – ser capaz de fazer as pessoas reconhecerem como é importante se verem umas nas outras.”
A organização também evoluiu. Nos últimos sete anos, cresceu e se transformou na Rede Global Black Lives Matter. Em julho, Patrisse assumiu um papel secundário, como diretora executiva, supervisionando os líderes regionais que coordenam a iniciativa nos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá. No último verão norte-americano, a rede da fundação começou a fornecer subsídios de até US$ 500.000 de seu fundo de US$ 6,5 milhões para apoiar o trabalho de base de suas afiliadas. Outros US$ 6 milhões estão sendo alocados em organizações externas que se concentram em questões de transgêneros negros, grupos que ela diz que, muitas vezes, não possuem recursos.
Durante os meses do verão, repletos de injustiça racial, a Rede Global Black Lives Matter liderou dois movimentos complementares: #DefundPolice e #InvestInCommunities, ambos esforços para reinvestir os US$ 194 bilhões destinados aos orçamentos policiais em comunidades negras que foram desproporcionalmente afetadas pela violência policial. Também foi um proponente do The Breathe Act (como parte de sua afiliação à coalizão Movimento para Vidas Negras), que pede ao governo que invista em iniciativas de segurança pública, especialmente em comunidades negras, e renove o sistema norte-americano de justiça criminal.
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E, antes das eleições de 2020, a Rede Global Black Lives Matter incentivou as pessoas a votarem por meio de sua campanha eleitoral multimilionária, Get Out The Vote. Como parte da iniciativa – que incluiu mídia social, anúncios de televisão e rádio, bem como eventos drive-in e comentários de celebridades, incluindo o músico Richie Reseda e a atriz Tessa Thompson – Patrisse foi à Geórgia para um bate-papo ao lado da lareira com a Dra Bernice King, filha do falecido Martin Luther King Jr., para discutir a importância da votação e da organização após o dia da eleição.
“Para nós, votar é parte de uma estrutura e estratégia mais amplas para mudar o que está acontecendo em nossas comunidades”, diz ela.
No entanto, ainda existe quem acredita que a hashtag que iniciou o movimento tem o poder de dividir as opiniões e causar discórdia. Para essas pessoas, Patrisse diz: “Não é possível dissociar a hashtag do movimento. Temos que apoiar tudo o que o Black Lives Matter fez, os líderes, a organização, o movimento, a hashtag. O que a iniciativa tem feito está mudando todo o entendimento cultural do que é o racismo. Black Lives Matter não é apenas uma luta por vidas negras. Também significa uma luta por todas as nossas vidas. Quando os negros ficam livres, todo mundo fica mais livre.”
Patrisse, cuja carreira como artista já tem 20 anos, também expressou mais discretamente seu ativismo por meio da performance. Este ano, ela e três outros artistas de sua turma de graduação da University of Southern California abriram o Crenshaw Dairy Mart, uma galeria de arte e espaço de defesa de direitos em Inglewood, na Califórnia. Até agora, o grupo promoveu a exposição “Care Not Cages: Processing a Pandemic”, que destaca o trabalho de seis artistas atualmente presos por chamar a atenção para os efeitos da Covid-19 na comunidade.
“Eu vejo minha arte como uma extensão do meu valor político”, diz Patrisse, que muitas vezes é a própria artista. Em 2019, sua tese da Escola de Arte e Design da USC Roski, “Respite, Reprieve and Healing”, exigiu que ela ficasse submersa em uma banheira com 180 quilos de sal de Epsom para ilustrar o cansaço de ser negro na América. Em “Malcolm Revisited”, peça mais recente apresentada durante um evento do Get Out The Vote, a artista explorou o legado do líder dos direitos civis Malcolm X e seu impacto no movimento Black Lives Matter. Na montagem, Patrisse recita palavras originais do discurso de Malcolm X “The Ballot or The Bullet”, de 1964, instando os negros norte-americanos a exercerem seu direito de voto.
Mas Patrisse quer alcançar as massas, algo que um acordo de produção recentemente assinado com o Warner Bros. Television Group deve facilitar. “Eu realmente quero criar filmes e fazer programas de televisão, tanto com roteiro quanto sem roteiro, que foquem no trabalho dos criativos e inovadores negros”, diz ela. “Quero trazer novos talentos e novos cineastas negros para ajudar a realmente desenvolver esse trabalho.” Muitos dos projetos que ela está conduzindo são focados na resiliência negra.
Resiliência é algo que Patrisse espera que ativistas promissores absorvam nas suas jornadas. “Lembre-se de participar de algo que o entusiasme”, diz ela. “Pense nisso quando vai dormir e quando acorda. Junte-se ao movimento e, se ele não existir, comece. É um longo caminho. Não mudamos as coisas da noite para o dia, mas se continuarmos com esse trabalho poderemos realmente mudar o mundo.”
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