O banco digital Nubank e a empresa brasileira de serviços de tecnologia Qintess estão em tratativas sobre uma atuação conjunta em aspectos do plano de igualdade racial divulgado pela empresa no início do mês, apurou a Forbes.
Segundo uma fonte, que preferiu não se identificar, uma parceria entre as empresas era dada como certa para algumas das iniciativas que a fintech anunciou na semana passada em seu plano antirracista – como o hub de tecnologia NuLab, que será lançado em Salvador -, mas diversos aspectos em áreas como compliance precisavam ser endereçados antes de uma formalização, o que inviabilizou o anúncio imediato da colaboração.
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Além disso, o escopo da possível parceria entre as duas empresas também incluía o fundo de capital semente para investir em startups brasileiras fundadas ou lideradas por pessoas negras. Segundo a fonte, este fundo teria um valor estimado entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões para o primeiro ano.
“Quando uma empresa tem pressa e dinheiro, faz as coisas do seu jeito e da forma mais rápida, e este mês, em particular, impõe uma série de urgências em relação à pauta racial. Há um certo ‘novembrismo’ envolvido, mas por outro lado, [o Nubank] está atuando dentro do negócio para tratar a questão, o que é louvável”, disse a fonte.
E continua: “Fazer coisas como montar um hub fora do eixo Rio-São Paulo requer um certo esforço. O Itaú, por exemplo, nunca se propôs a montar um Cubo [hub de empreendedorismo do banco] no Nordeste, pois requer uma saída da zona de conforto. [Abrir um hub em Salvador] pode ser uma demonstração importante de comprometimento, mas os resultados a gente não vê na largada, e sim no meio dessa maratona.”
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A relação entre Nana Baffour, CEO da Qintess, e David Vélez, CEO do Nubank, é de longa data, segundo a fonte, e os executivos vinham conversando sobre diversos projetos bem antes de toda a atual movimentação da fintech em relação ao combate ao racismo estrutural.
No entanto, as conversas entre os líderes se intensificaram nos últimos meses e especialmente após a publicação do compromisso antirracista da empresa, em outubro. “O Nana não está interessado no dinheiro, e sim no potencial relacionado a trazer o Nubank para um território em que a Qintess fez seu primeiro investimento social. [Baffour] vê Salvador como a porta de entrada para toda a região Nordeste”, diz a fonte.
O fato de que o anúncio inicial do Nubank não incluiu a Qintess como parceira não quer dizer que futuras iniciativas conjuntas estejam descartadas, segundo a fonte. “[Baffour e Vélez] não fecharam um acordo agora, mas continuam falando sobre uma série de projetos. O pipeline é longo.”
Procurada pela Forbes, a Qintess confirmou a aproximação, reiterando seu compromisso com o fomento ao empreendedorismo, a diversidade e a inovação social no Brasil. “Nos últimos meses, iniciamos uma série de discussões com empresas de todos os portes e segmentos, com o objetivo de criar novos projetos, empoderar os já existentes e ampliar os benefícios que eles podem gerar para a sociedade como um todo. E uma dessas empresas foi o Nubank”, diz.
“O nosso desejo, acima de tudo, é que mais iniciativas de diversidade sejam feitas no ecossistema e que a gente possa garantir o desenvolvimento e o bem-estar das gerações presentes, com o compromisso de propiciar as mesmas oportunidades para as gerações futuras”, disse a empresa, em nota.
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As múltiplas iniciativas da empresa de Baffour no âmbito da diversidade incluem um investimento de R$ 10 milhões nos próximos cinco anos anunciado em julho. O objetivo é possibilitar o acesso de afrodescendentes, comunidade LGBTI+, pessoas com deficiência e outros representantes da diversidade na área de tecnologia.
Nesse contexto, a primeira organização apoiada é a Vale do Dendê, aceleradora focada em negócios nascidos na periferia de Salvador. O acordo prevê o recebimento de recursos para operação, treinamentos e capital semente destinados a startups que trabalham com o tema da diversidade.
O Nubank, também procurado pela Forbes, diz que “segue comprometido com seu plano de ação voltado à diversidade e inclusão”, anunciado na última quinta-feira (11). Em nota, a fintech informa que está em conversa com diversas organizações: “Mais detalhes sobre nossas ações externas de engajamento com a comunidade serão comunicados em um momento oportuno”, diz a empresa.
Em relação ao fundo de capital semente, a startup unicórnio ressaltou que os critérios de seleção das empresas “serão definidos em conjunto com aceleradoras e organizações sociais”. A empresa não confirmou o montante do investimento, mas disse que o valor “será informado em um futuro próximo”.
Segundo a fonte próxima da empresa, o valor estimado para o fundo é “uma gota no oceano” em relação ao poder de fogo do Nubank. Por outro lado, é preciso considerar o compromisso financeiro inicial da empresa, de R$ 20 milhões, para avançar a pauta racial comparado com o que atualmente existe no mercado.
“[O investimento inicial] é o maior de que se tem notícia em termos de recursos do setor privado para o combate ao racismo. Ninguém fez nada dessa magnitude no Brasil de forma voluntária, e não relacionada a um termo de ajuste de conduta do Ministério Público do Trabalho. Isso é significativo: agora precisamos ver os resultados.”
Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC e outros.
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