Se tem um setor que nunca mais será o mesmo depois da Covid-19 é o de saúde. A autorização do Conselho Federal de Medicina em março, no início da pandemia, para a prática de telemedicina no país não só agilizou procedimentos como transformou modelos de negócios.
Um exemplo disso é a movimentação da healthtech ViBe Saúde, que começou suas operações em 2018 oferecendo uma plataforma focada em bem-estar e saúde para o mercado corporativo (B2B), com consultas sob demanda e agendadas com profissionais clínicos e de saúde mental. Em março do ano passado, ao mesmo tempo em que captou R$ 12 milhões em uma rodada seed liderada pela empresa de investimentos sueco-brasileira Webrock Ventures, a startup selou uma parceria de inovação tecnológica com a Doktor.se, uma das principais empresas de saúde digital da Europa. “A partir daí houve uma integração que nos permitiu ir além, oferecendo também soluções de telemedicina”, explica Ian Bonde, cofundador e CEO da ViBe ao lado de Ricardo Joseph, que ocupa atualmente o cargo de COO. A nova plataforma foi anunciada em junho, passando a atender, inclusive, o consumidor final diretamente (B2C) e a contemplar novas modalidades, como nefrologia e dermatologia.
Agora, 550 mil downloads depois e 25 mil consultas online só no mês de dezembro, a healthtech anunciou um aporte de R$ 54 milhões – a maior rodada série A já registrada no país para uma startup do tipo. A operação foi liderada por um grupo de investidores europeus em tecnologia da saúde com participação, mais uma vez, da Webrock. Os recursos serão utilizados para expandir o serviço freemium de atenção primária digital e, assim, conquistar um contingente de cerca de 168 milhões de brasileiros que não possuem planos de saúde e dependem do sistema público. “Nosso objetivo é oferecer uma opção em saúde primária, responsável por resolver cerca de 70% de todos os problemas”, explica Bonde.
Siga todas as novidades da Forbes Insider no Telegram
O braço B2B da operação – que conta com parcerias da Qualicorp e da D’Or Consultoria para garantir a entrada nas empresas – segue e ainda é responsável pelo maior faturamento da startup, mas a ideia é ganhar escala junto ao consumidor final, por meio de valores acessíveis que possibilitem a democratização do acesso. Atualmente, os atendimentos na hora são gratuitos, limitados a cinco consultas por ano. Os atendimentos agendados são cobrados, por meio de um modelo de assinaturas que varia entre R$ 50 e R$ 60 e inclui consultas irrestritas e horários 24×7. A expectativa é chegar a 1 milhão de downloads até março e 5 milhões no final do ano.
“É preciso ficar claro que não somos uma operadora de saúde, mas uma alternativa para atender uma gama imensa de brasileiros que hoje dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde”, diz o executivo, explicando que a plataforma oferece, além das consultas online, as linhas (digital therapeutics) para gerenciamento de cuidados crônicos – tudo integrado com prontuários eletrônicos e wearables de bem-estar/fitness, o que acaba também contribuindo para a prevenção de doenças.
Com o novo aporte, o plano de negócios prevê o aumento dos investimentos em tecnologia, pessoal (inclusive profissionais de saúde), marketing e na operação comercial, de forma a conquistar cada vez mais adeptos e, assim, ganhar massa crítica. Segundo Bonde, é justamente aí que está um dos segredos para fazer a conta fechar. “Essa grande base vai nos trazer outras formas de monetização além das consultas. Já estamos, por exemplo, fazendo integrações com farmácias para e-commerce”, conta.
Além disso, o executivo explica que o corpo clínico é próprio, ou seja, contratado pela ViBe. “Isso atende dois aspectos do negócio: a qualidade, já que os protocolos são os mesmos para qualquer profissional, e o custo. As margens são pequenas, claro, mas existem.” Atualmente, com os 50 profissionais médicos que fazem parte da healthtech é possível realizar cerca de 30 mil consultas por mês, mas Bonde ressalta que a demanda tem dobrado de um mês para o outro. E engana-se quem pensa que a Covid-19 tem sido a responsável por isso. Segundo o empreendedor, casos relacionados à pandemia não passam de 6% – o que indica que a telemedicina veio para ficar.
Para Vitor Moreira, sócio da WeBrock Ventures – que, no Brasil, já investiu em oito negócios, entre eles FinanZero, CoSafe, Clara, Chalinga e 123Qred –, a proposta da ViBe vai ao encontro do modelo de atuação da empresa de venture capital. “A gente quer ajudar a construir novas empresas por meio de parcerias. Para isso, mapeamos negócios bem-sucedidos na Escandinávia, principalmente na Suécia, que podem ser replicados por aqui. Foi assim com a saúde digital. Antes mesmo da pandemia, já existiam healthtechs que tinham se transformado em unicórnios por lá”, diz, referindo-se, entre outras, à Doktor.se. “Isso facilita muito o desenvolvimento de empresas brasileiras que estão no início, trazendo inovação e um enorme valor agregado”, diz o investidor.
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.