Herdeiro de uma família apaixonada pela química, Marcelo Hahn, CEO da Blau Farmacêutica, comemora a inauguração de mais uma planta em sua indústria milionária. Dedicado à produção de IFAs (insumos farmacêuticos ativos) biotecnológicos, o projeto, no complexo industrial em Cotia, na região metropolitana de SP, é um grande passo para a independência do Brasil no que diz respeito à fabricação de diversos medicamentos. Orgulhoso pela conquista, relembrar o início de tudo, há 33 anos, faz com que Hahn apenas potencialize o sentimento de vitória.
O CEO não esconde a paixão familiar pela área. “Eu falo que não tenho o DNA dessa indústria, tenho o cromossomo”, brinca. “Meus bisavós, avós, pais, todos eles trabalhavam em farmacêuticas”. Sendo assim, aos 19 anos, após cursar um ano de farmácia nos Estados Unidos, Hahn sentiu que já era hora de seguir o destino de sua árvore genealógica. Vendeu seu carro e, com US$ 20 mil, investiu em uma empresa que importava preservativos e vendia no Brasil sob a marca Preserv. Embora o início da empresa pareça muito diferente do cenário atual, uma característica sempre esteve presente: o pioneirismo. Ele conta que resolveu apostar em um mercado que, em 1987, com a explosão de casos de HIV e poucas marcas de preservativos circulando pelo Brasil, ainda era sonolento.
Em 2021, com uma nova planta de 3.000 metros quadrados e investimento de cerca de R$ 200 milhões, o pensamento é o mesmo. Segundo Hahn, atualmente, os medicamentos biotecnológicos representam 29% de todo o mercado farmacêutico. O Brasil, no entanto, ainda é fortemente dependente de importações, o que gera dificuldades para o avanço da ciência no país.
“O controle total de todo processo produtivo é muito importante”, diz o CEO. Como um dos primeiros pontos problemáticos da importação, ele cita insegurança e risco financeiro. “Quando o IFA chega ao Brasil, é preciso fazer uma comprovação científica do produto através de estudos clínicos. Com isso, você fica dependente de comprar sempre do mesmo fornecedor porque, caso mude, será necessário fazer um novo estudo clínico, um investimento de alto valor.” Dessa forma, produzir no Brasil entrega a segurança de ter o controle de seu próprio fornecimento. “Não dependemos de terceiros.”
Além disso, em solo nacional, é possível driblar o timing e a logística de uma importação. Greves e fechamentos de fronteiras não são mais questões a se preocupar. “Nesse momento do país, tivemos diminuição do número de voos, falta de contêineres para transportar os produtos, aumento nos valores de insumos e desvalorização cambial. Tudo isso gera uma balança de preços irracional, capaz de sucatear parques industriais”, revela Hahn.
A partir desse contexto, a nova planta em Cotia entrega um resultado certeiro: medicamentos mais acessíveis e acesso a tratamentos mais avançados. Com um time de 120 pesquisadores, o foco é a produção de quatro IFAs biotecnológicos: alfaepoetina (indicada para o tratamento da anemia causada pela insuficiência renal crônica e anemia secundária a quimioterapia), somatropina (hormônio de crescimento), filgrastim e pegfilgrastim (indicados para pacientes submetidos a quimioterapia citotóxica ou transplante de medula óssea). Sobre vacinas contra Covid-19, Hahn diz que a empresa seria capaz de produzir, apesar de drogas virais não serem o foco da companhia, caso tivesse acesso a receita e clones necessários. “Mas o governo monopoliza.”
Os quatro insumos, agora, compõem o portfólio com mais de 120 produtos da marca. “Já temos cinco fábricas no país. A partir dessa estrutura, entregamos medicamentos diversos para hospitais –oncológicos, anestésicos e antibióticos, entre outros–, 95% deles injetáveis.” O resultado é uma empresa com mais de 1.300 colaboradores, R$ 1,14 bilhão de faturamento anual (referente ao período de setembro de 2019 a setembro de 2020), e um crescimento constante de 29% ano a ano. Fundada em um país que dependia de IFAs importados, a Blau Farmacêutica se tornou exportadora para a América do Sul como um todo e para países como Malásia, Tailândia, Vietnã e Taiwan.
Embora o cenário pareça cada vez mais favorável, Hahn revela enxergar uma infeliz piora no mercado farmacêutico nesses 33 anos de trajetória. Quando ele decidiu deixar os preservativos para trás e ingressar no ramo de medicamentos, em 1990, ainda tinha muita esperança de um avanço organizado da ciência. Agora, o empreendedor vê uma monopolização de recursos que deixa as empresas privadas de mãos atadas em diversas situações. “No caso da vacina contra a Covid-19, por exemplo, nós temos espaço e tecnologia para ajudar a produzir em nossas plantas industriais. Poderiam nos convocar”, desabafa.
Apesar dos pesares, o empreendedor tem orgulho de protagonizar o empenho da família Hahn no setor. As indústrias de seus antecessores não se desenvolveram como a Blau Farmacêutica, mas foi no chão de seus laboratórios que ele cresceu e começou a trilhar um caminho de pioneirismo na ciência brasileira.
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