Eu confesso que não conhecia A Unity System (AUS) ou seu CEO, Tonee Bell. Deparei-me com eles graças a um e-mail marketing da Verizon que apresentava os fones de ouvido Baraka TWS Bluetooth. O produto tem um design 3 em 1 exclusivo, que reúne verdadeiros fones de ouvido sem fio, alto-falantes Bluetooth e um case de carregamento. O produto esgotou cinco vezes logo no primeiro mês em que chegou ao mercado, o que me deixou intrigado. Mais intrigante ainda é o fato de a Unity Systems ser uma empresa de proprietários negros.
Em 2020, havia mais de 2 milhões de empresas de proprietários negros nos Estados Unidos, com Washington, DC com a maior porcentagem. Esses negócios empregam cerca de 920 mil pessoas no país. A categoria mais popular para empresas de proprietários negros é saúde, com 32%. Outras categorias populares incluem reparo e manutenção, serviços pessoais e lavanderia, publicidade e concessionárias de automóveis. Esse cenário foi o que me fez ficar muito interessado em saber mais sobre a AUS. A tecnologia para consumidores não é uma área que recebe muitos negócios com proprietários negros. Fiz uma pesquisa rápida para descobrir quanto já havia sido falado sobre a empresa e seu CEO. Afinal, essa deveria ter sido uma notícia importante em 1999, quando Bell fundou a companhia. Mas a verdade é que descobri muito pouco sobre essa história de sucesso. Como a mídia de tecnologia ignorou essa notícia?
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Entrei em contato com Bell por e-mail e agendei uma ligação para nos conectarmos. O executivo começou a conversa explicando como ele entrou na área de tecnologia e chegou ao posto de CEO. “Quando eu estava no nono ano e minha mãe me levou para comprar roupas para a escola, eu escolhi um par de calças, sapatos sociais e uma daquelas camisas com uma fina gravata e um alfinete que passava pelo colarinho. Eu escolhi uma pasta em vez de uma mochila. Todas as crianças me chamavam de Sr. CEO”, lembra.
Ainda que estivesse ansioso para entrar na faculdade, Bell colocou a educação de sua irmã em primeiro lugar e decidiu entrar para a Guarda Costeira em vez de deixar sua família com a pressão financeira de sustentar dois jovens universitários. Na instituição, ele aprendeu muito sobre como transitar em um ambiente profissional sem diversidade e desenvolveu seu amor pela tecnologia. Um dia, no interior de uma loja, ele notou que as marcas de computadores disponíveis e as pessoas que elas buscavam atingir com seus produtos não se pareciam com ele. Ele, então, juntou seu interesse pela tecnologia com essa percepção e, quando deixou a Guarda Costeira, em julho de 1999, fundou sua própria empresa de computadores.
Alguns anos mais tarde, em dezembro de 2001, seus desktops eram vendidos em uma centena de lojas Staples e também no e-commerce da rede. Em 2002, a marca chegou ao Kmart – tanto no marketplace quanto nas 100 lojas físicas. Em 2005, foi a vez da Office Depot online. Em 2017, o portfólio de clientes passou a incluir o Walmart online. E, no ano passado, a AUS fechou uma parceria com a Toshiba e começou a vender online por meio da Verizon. Bell não só entrou no mercado de tecnologia, mas foi capaz de levar sua marca aos grandes varejistas, algo que é um desafio considerável para qualquer negócio, principalmente para uma empresa com um proprietário negro. E ele fez tudo isso enquanto era o único investidor da empresa.
Quanto mais eu ouvia Bell, mais eu entendia que não é de sua natureza se gabar do sucesso ou gastar mais tempo com ações de relações públicas do que impulsionando o negócio com produtos que não comprometem a qualidade e, ainda assim, são acessíveis para diversas pessoas. Sua ética de trabalho é uma das razões pelas quais ele chegou tão longe. Isso é o que Farhana Chaudhry, diretora de marketing de dispositivos da Verizon – e a executiva que decidiu trabalhar com Bell – pensa. “Na Verizon, nós estamos muito atentos não apenas àquilo que fabricamos, mas também àqueles de quem compramos. Eu faço questão de responder a todas as perguntas que recebemos sobre um produto potencial. Quando Bell entrou em contato comigo, eu pude ouvir a empolgação na sua voz ao falar sobre seus produtos – não era apenas uma pessoa tentando vender seus widgets para uma grande empresa. Como parte de uma minoria feminina no setor de tecnologia, eu sou muito apaixonada por produtos de empresas pertencentes a pessoas que se parecem comigo. Bell é inspirador como um líder de tecnologia e nós estamos animados em trabalhar com ele e outras empresas menores, comandadas por minorias, no futuro”, diz a executiva.
Eu me pergunto se a falta de interesse da imprensa sobre Bell e a AUS não seria por causa da natureza de seus produtos. São itens acessíveis, desenhados para serem práticos na forma como abordam os pontos fracos dos clientes. Eles são, provavelmente, algo que celebridades do esporte e do entretenimento não levariam em consideração se recebessem uma proposta de patrocínio. Em um momento em que ainda estamos falando sobre a exclusão digital e o acesso à tecnologia, Bell tem um papel significativo a desempenhar. Eu gostaria que produtos de tecnologia úteis e acessíveis pudessem atrair tanta atenção quanto os mais caros e de nicho, especialmente quando o líder da empresa que os fabrica obteve sucesso apesar das fortes probabilidades contrárias. O portfólio está crescendo em novas áreas, como a da saúde, o que é uma excelente oportunidade para a marca. Recentemente, a AUS firmou uma aliança com um importante integrador do setor de segurança para se concentrar em Sistemas de Temperatura Elevada da Pele (ESTS, na sigla em inglês) como uma ferramenta de pré-triagem para detecção de Covid-19.
“Eu tive que lutar por cada centímetro de oportunidade que eu tive, mas uma coisa que você deve saber sobre mim é que não conheço a palavra desistir ou parar quando se trata do meu negócio e do que venho tentando fazer”, afirma Bell ao ser questionado sobre como foi chegar aonde chegou. “Eu não olho para os problemas. Eu procuro soluções e resoluções. Eu encontro o meu caminho através deles ou converso sobre eles. Deixe-me fazer as perguntas que preciso para entender melhor o que meus potenciais compradores estão procurando. Não me conformarei com a situação, mas consigo me ajustar à oportunidade”, completa.
Quando questionado sobre os tipos de obstáculos enfrentados, especialmente ao tentar convencer essas grandes marcas a apostarem nele, Bell permanece incrivelmente cortês. Ele simplesmente explica que sentiu que algumas questões sobre a capacidade de produção, a localização e a composição da empresa poderiam ter sido menos solicitadas caso o proprietário fosse outra pessoa. Mas seu foco era fazer com que esses interlocutores enxergassem as coisas de forma diferente, como, por exemplo, como aumentar o volume com o tempo, começando em locais onde os produtos seriam mais adequados para a comunidade que as lojas atendiam.
“Enquanto eu crescia, ouvi meus pais dizerem que as pessoas não se importam quando você tenta progredir. Mas elas se importam quando você tenta se superar”, diz Bell. Para ele, progredir significa ser capaz de inovar e criar novos produtos que dêem aos clientes a sensação de que eles obtêm muitas funcionalidades a um preço acessível, para que, talvez, eles não precisem escolher caso sejam pais tentando comprar presentes para seus três filhos ou atualizar seus sistemas de aprendizado à distância. Bell diz que, embora os sócios e potenciais investidores possam não gostar de seu posicionamento, ele não é movido pelo dinheiro, mas por uma missão: fazer um trabalho filantrópico em uma escala muito maior do que o que ele pode fazer em sua comunidade.
Terminei nossa conversa perguntando qual é o segredo para o sucesso. Pude sentir o sorriso em sua voz quando ele respondeu: “O segredo é uma palavra curta: Deus. Ele me concedeu muitas bênçãos e favores, porque tentei ser um bom administrador nas oportunidades que se apresentaram à minha frente, para que eu me colocasse em uma posição onde posso ajudar outras pessoas. Cresci em um ambiente onde você aprende a dar mais do que recebe e isso é verdadeiro na minha vida e no meu negócio.”
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