Quando John Melo decidiu deixar a multinacional BP há 14 anos para ingressar na empresa de biologia sintética Amyris, esta foi definida como a próxima grande novidade em biocombustíveis. Mas a ideia só fez sentido quando o barril de petróleo estava a US$ 100 e, mas a queda dos preços, o negócio não saiu como planejado. “Eu não tinha experiência, cicatrizes, era um pouco ingênuo”, lembra Melo, que foi recrutado para o cargo de CEO pelo investidor de risco John Doerr.
Mas Melo, de 55 anos e imigrante de Açores (território autônomo de Portugal), manteve-se firme e reposicionou a empresa com sede em Emeryville, na Califórnia. A mudança de biocombustíveis para cuidados com a pele, cabelo, bebê e afins não foi um caminho direto, mas mostra um exemplo de como uma empresa – e um CEO – transformaram um negócio inviável em um que poderia ter sucesso.
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“Combustíveis são a coisa mais difícil para a bioengenharia por causa do custo”, diz Melo. “Ao ir atrás da [coisa] mais difícil primeiro, fomos capazes de impulsionar a tecnologia e desenvolver inovações que ninguém havia feito.”
Hoje, as grandes apostas da Amyris estão em produtos de consumo. A empresa usa a biossíntese para reproduzir um esqualano, um óleo feito no fígado de tubarões que é usado como hidratantes e outros produtos de higiene pessoal. Em 2015, a companhia lançou sua primeira marca de consumo, a Biossance, que oferece uma gama de produtos sustentáveis para a pele. “A ideia não era ser uma marca nova. Nós pensamos: ‘vamos contar ao consumidor para que eles fiquem mais interessados’”, diz Melo. Ele logo lançou uma marca complementar para mães e bebês, batizada de Pipette.
Resultados? A empresa de capital aberto registrou uma receita de US$ 173 milhões em 2020, um aumento de 13% em relação ao ano anterior, embora tenha continuado a perder dinheiro, com um prejuízo líquido ajustado de US$ 151 milhões. A Amyris disse que espera uma receita de cerca de US$ 400 milhões em 2021.
Os investidores perceberam. Este ano, as ações da Amyris aumentaram dez vezes em relação a 2020, chegando a US$ 22, dando à empresa um valor de mercado de US$ 5,9 bilhões. Embora a alta a tenha empurrado acima de uma série de metas de preços de analistas, incluindo as recentes da Cowen e da Roth Capital Partners, a meta de preço médio dos analistas permanece em US$ 26,60. O analista Laurence Alexander, da Jeffries (que tem preço-alvo de US$ 23), observou em um relatório recente que prevê que o mercado vai continuar a favorecer empresas em estágio inicial como a Amyris, dadas as avaliações interessantes para as marcas de biotecnologia e varejo de rápido crescimento, entre outros fatores .
Por trás do crescimento esperado está uma enxurrada de novas marcas com lançamento previsto para o terceiro trimestre, incluindo a Rose Inc. (cosméticos limpos), a Terasana (acne) e uma parceria com a Jonathan Van Ness da Queer Eye (cuidados para os cabelos). Melo também tem planos de aquisições, concordando em comprar a Costa Brazil, uma marca de cosméticos sustentáveis de luxo, no início deste mês, por uma quantia não revelada. Ele diz que outro acordo está em andamento para atingir a Geração Z, embora se recuse a dar detalhes adicionais.
“Estamos mudando para o consumidor muito, muito rapidamente”, diz Melo. Em 2019, menos de 20% do negócio era em marcas de consumo. Este ano, o CEO afirma que mais da metade da receita virá deles. “Esperamos que nosso negócio de consumo continue dobrando a cada ano no futuro previsível. O lado do consumidor será algo em torno de US$ 130 milhões este ano. Isso custou US$ 52 milhões no ano passado. É um lugar divertido para se estar.”
Fundada em 2003, a Amyris não é a única empresa de biologia sintética a ir atrás do mercado de cuidados pessoais, uma vez que os produtos para pele, cabelo e maquiagens sustentáveis e feitos com ingredientes saudáveis ganharam força. Em 2019, a Bolt Threads criou uma empresa de cuidados para a pele chamada Eighteen B, com base em sua seda de base biológica, enquanto a Geltor faz bioengenharia de colágeno e elastina.
A Amyris é interessante porque está construindo um portfólio de diferentes marcas que contam com sua bioengenharia e pode usar a receita que obtém das moléculas para investir em suas próprias marcas, que, como observa Melo, oferecem margens de lucro maiores do que a venda de ingredientes. “Penso na plataforma científica como a galinha dos ovos de ouro. Vamos continuar monetizando essas moléculas e usando-as para financiar as marcas.”
Até o momento, a empresa de biotecnologia industrial construiu 13 moléculas e tem outras 18 em desenvolvimento. Cada uma pode gerar uma receita entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões, segundo Melo, embora o valor final dependa do tamanho do mercado e de outros fatores.
Com um negócio de US$ 50 milhões com o conglomerado holandês de vitaminas e rações para animais DSM, além de duas outras transações em andamento, a Amyris decidiu reforçar o balanço patrimonial. “A empresa agora pode se financiar no futuro”, diz um grande investidor.
À medida que o negócio de consumo cresce, o que acontece com as operações não voltadas para o consumidor restantes da Amyris? “É uma ótima pergunta”, diz Melo, “e estamos descobrindo isso agora”.
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