Não é nada fácil ser mulher no ecossistema de inovação brasileiro. A opinião, unânime, é das 15 mulheres que fazem parte da primeira parte do especial Mulheres na Tecnologia, que o ForbesTech promove ao longo das próximas semanas.
E elas sabem do que estão falando. Segundo o “Female Founders Report 2021”, estudo elaborado pela empresa de inovação Distrito em parceria com a Endeavor e a B2Mamy, divulgado hoje (8), no Dia Internacional da Mulher, as empresas de base tecnológica fundadas apenas por mulheres representavam 4,4% do mercado total há uma década. Hoje, esse índice é de 4,7%, o que revela que as dificuldades enfrentadas pelas empreendedoras não diminuíram, provocando uma estagnação na diversidade de gênero no setor.
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“Empreender no Brasil é desafiador. Como mulher, sinto falta de referências de founders que, ao mesmo tempo, ocupem a posição de CEO. Estar no topo de qualquer organização exige uma série de competências e habilidades técnicas e emocionais. Em uma empresa de tecnologia, a complexidade do negócio cresce de forma exponencial e, em geral, a capacidade de absorver conhecimento cresce linearmente. Logo, ter referências, oportunidades de trocas de experiências, mentorias, conversas abertas sobre como lidar com momentos difíceis é crucial”, diz Tatiana Pimenta, fundadora da Vittude. “Uma orientação correta pode nos poupar de erros, frustrações e, principalmente, perda de tempo.”
A constatação de Tatiana aparece refletida na pesquisa da Distrito. A falta de conexões – com mentores e investidores, por exemplo – é apontada como o terceiro principal desafio enfrentado pelas empreendedoras brasileiras, com 44,6%, atrás apenas de ganhar escala (60,9%) e validar o modelo de negócio (56,4%).
LEIA MAIS: Ecossistema de inovação tem apenas 4,7% de startups fundadas por mulheres
A dificuldade de obter investimentos também é o desafio de 38,8% das fundadoras de startups, segundo o levantamento. A Precavida, fundada por Laís Fonseca Alves, surgiu no ecossistema dos Estados Unidos, um ambiente mais maduro, com acesso maior a networking, talentos e capital. “Nosso primeiro funding veio de investidores norte-americanos. Mas reconheço que ser mulher triplica os obstáculos de acesso ao dinheiro. Especialmente no Brasil, essa barreira é mais significativa por questões culturais e por ainda termos poucas referências neste meio, que é muito fechado”, diz a empreendedora.
HEALTHTECHS
O estudo que mapeou as fundadoras de startups também analisou as categorias onde elas mais empreendem. Os destaques ficaram por conta dos setores de saúde e biotecnologia (15,2%), educação (12,7%), serviços financeiros (8,2%) e varejo (8,1%). Segundo o documento, o fato pode ser explicado pela “elevada presença de mulheres em cursos afins, como Psicologia e Enfermagem”.
Um levantamento da Distrito do ano passado constatou que o Brasil tem, atualmente, 542 healthtechs – contra 386 em 2019 e 248 em 2018 – divididas em nove categorias: acesso à informação; inteligência artificial e big data; farmacêutica e diagnóstico; gestão e PEP (prontuário eletrônico do paciente); medical devices; relacionamento com pacientes; marketplace; telemedicina; e wearables e internet das coisas.
A maior parte dessas empresas tem de dois a três sócios, com média de idade de 40 anos. No entanto, apenas 20,3% dos integrantes dos quadros societários das startups de saúde são mulheres. A categoria que mais conta com a presença feminina é a de acesso à informação, enquanto gestão e PEP e marketplace representam a maior disparidade de gênero.
Para Ana Carolina Peuker, criadora da Bee Touch, ainda há muito a fazer para fortalecer o protagonismo feminino no ecossistema de inovação como um todo. “Precisamos reconhecer, cada vez mais, lideranças femininas nos mais diversos setores, oferecendo inspiração para que mais mulheres fortaleçam sua confiança e possam prosperar.”
Lívia Cunha, fundadora da CUCOHealth, acredita que ser uma fundadora no ecossistema brasileiro de startups é ter a responsabilidade de mostrar a todas as mulheres que, quando elas encontram a dor que querem resolver, são as melhores pessoas para colocar isso em prática. “É ter a responsabilidade de quebrar barreiras e padrões e mostrar que o espaço que queremos ocupar pode ser construído por nós mesmas”, conclui.
Veja, a seguir, 15 fundadoras de healthtechs que contrariaram as estatísticas e estão mudando a cara da saúde no Brasil:
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Divulgação Ana Carolina Peuker, Bee Touch
Especialista em psicologia clínica, Ana Carolina Peuker fundou a startup de saúde mental Bee Touch em 2012, em Porto Alegre (RS), para desenvolver soluções para saúde e qualidade de vida.
Ao unir inteligência e tecnologia, a empresa criou softwares, redes sociais e aplicativos móveis customizados. “Graças aos recursos tecnológicos, podemos predizer potenciais riscos que culminam em agravos da saúde mental. No caso das mulheres especificamente, temas como violência, assédio, maternidade, síndrome da impostora e positividade corporal [ou body positive], entre outros, devem estar sempre em pauta. Todas essas temáticas repercutem em problemas emocionais graves”, explica.
Entre as iniciativas da startup está o LegalMente, desenvolvido em parceria com a Caixa de Assistência dos Advogados da OAB/MS (CAAMS). O programa utiliza a inteligência de dados para análises psicológicas anonimizadas precisas sobre as principais demandas de saúde mental dos advogados de modo coletivo e respeitando a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), além do impacto que a Covid-19 vem causando nos profissionais. Outro projeto que merece destaque é a plataforma AVAX Psi, que cruza dados sobre saúde mental e analisa os resultados a partir de uma metodologia proprietária. Hoje, a plataforma conta com quase 2 mil psicólogos usuários, responsáveis por mais de 4.600 avaliações.
Em 2020, a Bee Touch cresceu quase 70% e planeja triplicar o seu tamanho em 2021. Um dos maiores objetivos é escalar a utilização da AVAX Psi entre os psicólogos e no ambiente corporativo, sendo reconhecida como a principal ferramenta de inteligência de dados de saúde mental do país.
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Divulgação Carolina Dassie, Hisnëk
Fundada em 2014, em São Paulo, pela economista Carolina Dassie, a Hisnëk tem como foco o cuidado com a saúde e o bem-estar emocional. Uma de suas soluções é a assistente virtual interativa para empresas e seus colaboradores IVI, que, por meio de algoritmo rigidamente embasado em protocolos clínicos avaliados, identifica o perfil e o estado emocional das pessoas e apresenta soluções personalizadas.
“O propósito da IVI é associar saúde mental e inteligência artificial para que tenhamos uma solução escalável e efetiva para a real prevenção às doenças mentais. No Brasil, em torno de 64% das pessoas preferem falar com robôs doque com seus gestores sobre sua condição emocional. Já no mundo, temos em torno de 350 milhões de pessoas com depressão e 47% delas nem se dão conta que estão doentes. Saúde mental é sobre que tipo de pessoas queremos devolver para a sociedade no final do dia e é isso que faz a nossa equipe trabalhar cada vez mais”, diz Carolina.
Atualmente, a Hisnëk tem como clientes os hospitais Suzano e Pearson, e impacta mais de 1 milhão de vidas nas empresas onde atua. Em 2019, mesmo ano do lançamento da IVI, a startup recebeu um aporte de R$ 1 milhão. De 2020 para 2021, sua equipe dobrou de tamanho e a empresa registrou um aumento de 60% na procura. Para os próximos anos, a expectativa é seguir investindo em IA, para oferecer uma experiência cada vez mais assertiva para o cuidado preventivo dos usuários.
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Divulgação Flavia Deutsch Gotfryd e Paula Crespi, Theia
A Theia, fundada em 2019, surgiu do desejo de Flavia Deutsch Gotfryd e Paula Crespi de desenvolver um olhar holístico para as necessidades físicas e emocionais da mulher.
Ao aliar consultas virtuais e presenciais para o completo cuidado das gestantes, a empresa oferece às pacientes uma grande variedade de médicos e especialistas, como obstetras, pediatras, nutricionistas, consultoras de amamentação e de sono, psicólogas, fisioterapeutas pélvicas e doulas. Para aprimorar a experiência, a startup conta, ainda, com uma especialista pessoal para tirar eventuais dúvidas e desenvolver um plano para a gravidez conforme as necessidades individuais de cada mulher.
“[As healthtechs] trazem o olhar da tecnologia aliado ao olhar humano e de saúde. A Theia pensa no cuidado multidisciplinar, em uma jornada que coloca a mulher no centro, usando os recursos tecnológicos como aliados para uma experiência melhor, mais prática e com mais informação e direcionamento. A tecnologia avançará para ser cada vez mais preditiva no que diz respeito à saúde”, explica Flavia.
No ano de sua fundação, a Theia foi a empresa liderada por mulheres que recebeu o maior aporte de venture capital da América Latina: R$ 7 milhões da Kaszek Ventures. Até o final de 2021, a empresa pretende expandir os serviços regionalmente, além de ampliar a oferta para outras fases da vida da mulher.
“Entendemos que este é um ecossistema onde menos de 10% das startups são criadas por mulheres. Justamente por ser um grupo ainda relativamente pequeno de empreendedoras, vemos que as fundadoras que alcançaram posições de liderança nas mais variadas indústrias estão muito engajadas em fazer esse grupo ser bem-sucedido”, diz Paula. -
Divulgação Jihan Zoghbi, Dr. TIS
Jihan Zoghbi é a idealizadora da Dr. TIS, healthtech que trabalha com o desenvolvimento de sistemas para área da saúde, com tecnologia on cloud para telemedicina, gerenciamento de procedimentos e diagnóstico por imagem. Criada em 2018, a empresa nasceu com o propósito de ajudar na democratização do acesso à saúde.
A startup oferece um serviço de telerradiologia com armazenamento de imagens médicas na nuvem, como raio-x, tomografia e ressonância magnética. Com a plataforma, os usuários conseguem acessar seus exames de qualquer lugar que tenha acesso à internet, sem a necessidade de manter equipes onsite para realização de análises, e os especialistas podem analisar as imagens e fazer laudos à distância, encaminhando os resultados diretamente para o paciente.
“A ferramenta é uma aliada na discussão de casos raros entre médicos e especialistas de outras partes do Brasil e do mundo, indicando diagnósticos e tratamento mais precisos. Além de conforto, praticidade e precisão, o uso da plataforma gera economia, porque reduz o investimento em servidores locais para armazenamento e o uso de periféricos eletrônicos. A prática diminui, ainda, a impressão de exames, uso de químicos e chapas radiológicas, contribuindo com o meio ambiente”, explica Jihan.
Durante a pandemia, com a regulamentação da telemedicina no período de Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional, a Dr. TIS passou a oferecer o serviço de consultas remotas por vídeo e implementou a plataforma em hospitais referência no país, como HCor, Rede de Reabilitação Lucy Montoro, Sírio Libanês e a Rede Mater Dei de Saúde. Com isso, o total de empresas atendidas pela startup saltou de 50 para 160 entre março e dezembro.
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Divulgação Laís Fonseca Alves, Precavida Saúde
A Precavida foi criada para levar ao mercado uma proposta inovadora de pensar o acesso à saúde: atendimento de qualidade que reduz custo. Por meio de um novo conceito de navegação de saúde apoiado por inteligência artificial e análise de dados, a healthtech auxilia o paciente de forma simples e intuitiva durante toda a sua jornada, oferecendo um acompanhamento individual dedicado a apoiar a sua tomada de decisão no ecossistema de saúde.
“A tecnologia interpreta o que o usuário está sentindo conforme a sequência das suas respostas e dá recomendações que facilitam suas escolhas. Com o método de concierge e com o acompanhamento de um time especializado, as buscas por consultas, diagnósticos médicos e exames demandam menos tempo, o que afeta diretamente a prevenção de uma possível piora do quadro e nos gastos extras”, explica Laís Fonseca Alves, que fundou a empresa no ano passado, em Boston.
Segundo ela, no caso de clientes corporativos, operadoras e seguradoras, o serviço ataca diretamente a insatisfação de mais de 80% dos usuários do sistema de saúde no Brasil, uma vez que ajuda as empresas a serem mais eficientes na gestão dos seus colaboradores e reduz a taxa de sinistralidade. As operadoras ainda têm diminuído os desperdícios e fraudes com a utilização de inteligência de dados de ponta a ponta, assegurando um padrão alto nos serviços dos concierges e dos profissionais médicos.
Lais conta que a ideia surgiu de uma experiência pessoal. Ao receber o diagnóstico de câncer da mãe, a empreendedora se viu frente ao dilema que boa parte dos usuários dos sistemas de saúde no mundo todo enfrentam nesse tipo de situação: a falta de informação e orientações precisas sobre como utilizar os serviços à disposição. “Muitas vezes, sem nem saber por onde começar, pacientes lutam ao mesmo tempo contra a doença e a carência de acompanhamento por parte do sistema de saúde”, diz.
Depois de cuidar da mãe, Laís executou, no interior de Minas Gerais, um modelo de conexão entre pacientes e médicos dedicado a reduzir esta lacuna de orientações e prover acesso ao ecossistema de saúde, alcançando mais de 100 mil vidas. Daquele modelo, surgiu a Precavida, fundada no MIT (Massachusetts Institute of Technology) e primeira healthtech com foco em América Latina selecionada a participar do programa de aceleração Delta V, da entidade de ensino. Em seguida, a startup foi escolhida para participar do segundo maior programa de startups dos Estados Unidos, o TechStars. A performance rendeu à empresa patrocínios e investidores para lançar o produto no Brasil, hoje em operação com diversos parceiros na cidade de Campinas, no interior de São Paulo.
A meta, agora, é aprimorar o modelo de negócios no B2B e aumentar a base de clientes corporativos e de operadoras de saúde. “No longo prazo, queremos ser referência em otimização de custos e simplificação na trajetória do paciente em diversos ecossistemas de saúde no Brasil e na América Latina”, diz Laís.
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Divulgação Lívia Cunha, CUCOHealth
Com apenas 28 anos, Lívia fundou a CUCOHealth em 2016, em Florianópolis (SC), para ajudar pacientes crônicos a se engajarem em seus tratamentos e coletar dados para o acompanhamento dos profissionais de saúde envolvidos no cuidado. “O objetivo é criar uma jornada digital dos pacientes, colocando-os no centro do cuidado e conectando-os com seu time de saúde para melhores resultados”, afirma a jovem empreendedora, explicando que menos de 50% das pessoas dão prosseguimento às recomendações médicos como deveriam.
Atualmente, o aplicativo de lembrete de medicamentos já é utilizado por pacientes de 162 países. Por aqui, farmacêuticas, como Sanofi, Roche, Novartis, Eurofarma e Apsen, e hospitais, como HCOR, Samaritano e 9 de Julho, estão entre os principais clientes corporativos da startup, e pagam para monitorar e estimular seus pacientes.
Única startup latino-americana selecionada em 2019 pela Apple USA para participar do Apple Entrepreneurship Camp, programa de apoio às soluções capazes de impactar o setor em que atuam, a CUCO foi também a primeira healthtech a fazer parte do Cubo Itaú em São Paulo. O próximo passo é, no médio prazo, unir as etapas da jornada do paciente por meio de uma experiência digital – do diagnóstico à compra dos medicamentos, adesão ao tratamento e acompanhamento dos resultados orientada por dados. No longo prazo, Lívia quer conectar essa experiência ao ambiente de saúde offline, onde o paciente transita.
Para a empreendedora, as mulheres são importantes aliadas das healthtechs. “Elas são as principais responsáveis no que diz respeito ao cuidado com a saúde, seja o seu próprio cuidado ou o cuidado de um terceiro. As startups do segmento aumentam as alternativas e as possibilidades neste contexto, entregando ainda mais conveniência na busca pelo cuidado com a saúde”, diz.
“A mulher atual divide sua vida entre a família e o trabalho e precisa de soluções práticas. O formato antigo de deslocamento para consultas, esperas para realização de exames e outros tipos de inconveniências já não cabem nessa rotina. Além disso, cada uma de nós possui desejos, responsabilidades e agendas distintas e a tecnologia pode auxiliar na construção personalizada do conjunto de soluções e experiências que se adequem ao contexto de cada uma de nós, sem que seja preciso escolher entre cuidar da saúde ou continuar cuidando de nossas vidas.”
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Divulgação Manoela Mitchell, Pipo Saúde
Incomodada com os constantes reajustes de preços dos planos de saúde, Manoela Mitchell criou, em 2019, em São Paulo, ao lado dos sócios Vinicius Correa e o Thiago Torres, a Pipo Saúde. “Por causa dos custos, as empresas que concedem o benefício aos seus funcionários ficavam trocando de operadora, reduzindo a rede credenciada ou aumentando a coparticipação para controlar uma despesa que já é a segunda maior dos departamentos de recursos humanos, atrás apenas da própria folha de pagamento”, diz a empreendedora de 28 anos.
Manoela, explica, no entanto, que essas eram apenas medidas paliativas, já que a conta dos convênios sempre volta a subir, também como decorrência da escolha equivocada desses benefícios na hora da contratação e do mau uso do serviço. “Percebemos que este é um terreno fértil para a inovação, com muito espaço para melhorar a experiência dos compradores do serviço e dos usuários por meio da tecnologia. A Pipo Saúde nasceu para mudar isso”, conta.
A Pipo Saúde usa inteligência de dados para recomendar os melhores planos de saúde e dar insights sobre o uso do serviço ao longo do tempo, tecnologia para digitalizar a gestão de benefícios por parte do RH e conta com um time especializado dedicado aos funcionários das companhias, ajudando os usuários a obterem o melhor cuidado disponível com o menor custo possível.
A startup terminou 2020 com 70 clientes, contra três do início do ano. O número de funcionários também cresceu: foi de 12 para 70. “E não crescemos só em tamanho, mas também trouxemos muita diversidade ao time. No começo de 2020, tínhamos 70% de homens e 30% por mulheres. Hoje, são 60% de mulheres e 40% de homens. Cerca de 30% dos colaboradores se identificam como negros e pardos e 5% das pessoas são transgêneros”, revela. Em junho, a startup recebeu um aporte de R$ 20 milhões coliderado pela Monashees e Kaszek, com a participação da ONEVC e de investidores-anjos, como o CEO do Nubank, David Velez.
“Enquanto tratarmos saúde como uma receita só para todos os pacientes, vamos esbarrar em custos altos e tratamentos menos efetivos. As healthtechs podem personalizar o cuidado com a saúde e isso é muito disruptivo”, finaliza.
Incomodada com os constantes reajustes de preços dos planos de saúde, Manoela Mitchell criou, em 2019, em São Paulo, ao lado dos sócios Vinicius Correa e o Thiago Torres, a Pipo Saúde. “Por causa dos custos, as empresas que concedem o benefício aos seus funcionários ficavam trocando de operadora, reduzindo a rede credenciada ou aumentando a coparticipação para controlar uma despesa que já é a segunda maior dos departamentos de recursos humanos, atrás apenas da própria folha de pagamento”, diz a empreendedora de 28 anos.
Manoela, explica, no entanto, que essas eram apenas medidas paliativas, já que a conta dos convênios sempre volta a subir, também como decorrência da escolha equivocada desses benefícios na hora da contratação e do mau uso do serviço. “Percebemos que este é um terreno fértil para a inovação, com muito espaço para melhorar a experiência dos compradores do serviço e dos usuários por meio da tecnologia. A Pipo Saúde nasceu para mudar isso”, conta.
A Pipo Saúde usa inteligência de dados para recomendar os melhores planos de saúde e dar insights sobre o uso do serviço ao longo do tempo, tecnologia para digitalizar a gestão de benefícios por parte do RH e conta com um time especializado dedicado aos funcionários das companhias, ajudando os usuários a obterem o melhor cuidado disponível com o menor custo possível.
A startup terminou 2020 com 70 clientes, contra três do início do ano. O número de funcionários também cresceu: foi de 12 para 70. “E não crescemos só em tamanho, mas também trouxemos muita diversidade ao time. No começo de 2020, tínhamos 70% de homens e 30% por mulheres. Hoje, são 60% de mulheres e 40% de homens. Cerca de 30% dos colaboradores se identificam como negros e pardos e 5% das pessoas são transgêneros”, revela. Em junho, a startup recebeu um aporte de R$ 20 milhões coliderado pela Monashees e Kaszek, com a participação da ONEVC e de investidores-anjos, como o CEO do Nubank, David Velez.
“Enquanto tratarmos saúde como uma receita só para todos os pacientes, vamos esbarrar em custos altos e tratamentos menos efetivos. As healthtechs podem personalizar o cuidado com a saúde e isso é muito disruptivo”, finaliza.
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Divulgação Mára Rêdiggollo, Dandelin
Mára Rêdiggollo, 33 anos, é a responsável pela criação e gestão da Dandelin, plataforma de agendamento de consultas que contempla mais de 60 especialidades. Criado em 2018, na cidade de São Paulo, o aplicativo oferece acesso a serviços de saúde de qualidade e promove a prevenção da saúde mental e física por um plano mensal ilimitado de R$ 100.Hoje, a empresa conta com 900 médicos e 5 mil pacientes cadastrados, além de um NPS (métrica de lealdade do cliente) de 87% e uma taxa de rotatividade abaixo de 1%. Em 2020, a empresa deparou-se com um crescimento de mais de 620%, com avaliações que concederam cinco estrelas aos seus profissionais de saúde por 96% da base de clientes. “Nosso período mínimo de atendimento é de 30 minutos, para que haja um serviço mais humanizado e atencioso”, explica Mára.
No longo e médio prazos, a empreendedora pretende intensificar a oferta de cuidados preventivos, de forma que as pessoas realmente cuidem da saúde – e não apenas das doenças. “O resultado será menos gastos e maior expectativa de vida.”
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Divulgação Milene Rosenthal, Telavita
A plataforma de atendimento psicológico online Telavita foi cofundada por Milene Rosenthal em 2016, em São Paulo. A startup administra programas de saúde emocional para empresas e planos de saúde, a partir de projetos que reduzem os custos desnecessários do cliente e aumentam a satisfação e retenção dos colaboradores.
“Empreender é um caminho árduo, com inúmeros desafios, em que é preciso acreditar muito no sonho e no propósito. Por outro lado, é extremamente gratificante contribuir com a evolução e democratização da saúde brasileira”, diz Milene. Em 2020, com a pandemia, a Telavita cresceu dez vezes em relação ao ano anterior, e tornou-se a única plataforma a oferecer um cuidado integrativo de saúde mental, com atendimentos de telepsicologia e telepsiquiatria. Atualmente, a empresa oferece gestão da saúde emocional para cerca de 4 milhões de pessoas.
“As healthtechs ampliam o acesso à saúde para a população e, como utilizam tecnologia, conseguem oferecer serviços mais personalizados”, explica a empreendedora. Dos projetos já desenvolvidos, ela destaca o atendimento psicológico a gestantes e mães que acabaram de ter bebês e preferem ser atendidas sem ter que sair de suas casas. “As startups voltadas à saúde entram como uma ajuda importante para auxiliar na gestão e acompanhamento da saúde dos familiares de forma mais próxima, o que traz ganhos significativos, como a redução do estresse e melhoria na qualidade de vida. É muito bom poder acolher pacientes que estão precisando de ajuda de forma rápida sem perder a qualidade e a ética desse atendimento.”
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Divulgação Paula Fortes, Alba Sensors and Diagnostics
A startup foi fundada em 2018 como um desdobramento natural dos resultados de pesquisa obtidos durante o pós-doutoramento de Paula Fortes na Unicamp em parceria com a Universidade de Ulm (UUlm), na Alemanha. “No final do processo, a possibilidade de identificar diversos tipos de doenças por meio da análise do ar exalado da respiração deu vida à Alba”, conta a empreendedora.
Hoje, a Alba se dedica exclusivamente à pesquisa e desenvolvimento de um dispositivo médico portátil com o potencial de rastrear, inicialmente, o câncer de mama. “Estamos conduzindo o primeiro estudo clínico brasileiro que visa correlacionar os biomarcadores presentes no ar que exalamos e o câncer de mama. Nosso objetivo, ao final desta fase, é ampliar e complementar o acesso aos exames de rastreio de câncer de mama de uma forma não-invasiva, contribuindo para que uma porcentagem significativa da população feminina seja diagnosticada precocemente, principalmente em áreas carentes ou de difícil acesso.”
A startup já foi contemplada com um prêmio de inovação tecnológica do programa Academia-Industry Training, em Zurique, na Suíça, e, em 2019, recebeu apoio da Fapesp, no âmbito do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE). Atualmente, mantém parcerias com o Instituto de Química da Unicamp, onde parte dos experimentos são realizados, e com a Diagmed Medicina Diagnóstica, local em que a pesquisa clínica com mulheres voluntárias é conduzida. “Uma vez finalizada a fase de pesquisa e validação dos biomarcadores, a prototipagem do dispositivo médico e a obtenção das certificações junto aos órgãos regulatórios, temos como objetivo a comercialização da solução, a princípio em consultórios médicos, clínicas e hospitais especializados em mastologia, ginecologia e oncologia”, diz Paula.
No longo prazo, o objetivo da empreendedora é escalar o exame para todas as outras doenças que também são diagnosticáveis por meio da análise do ar exalado, como câncer de pulmão, câncer de colo de intestino, Parkinson, Alzheimer, esquizofrenia, diabetes, asma e sepse. “Fazer parte deste ecossistema, que busca destacar a importância e desenvolver tecnologias disruptivas que, na sua maioria, tem como objetivo solucionar ou suprir uma demanda específica ou um problema social é, sem dúvida, minha inspiração. Eu sou feliz em contribuir com o desenvolvimento de um produto que poderá salvar as vidas de muitas mulheres.”
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Divulgação Renata Tomazeli, Youfeel Health
Renata Tomazeli, 31 anos, é psicóloga de formação e, durante uma viagem ao Vale do Silício, na Califórnia, entendeu que era necessário criar algo novo para atender às demandas da saúde mental no Brasil. “Somos o país mais ansioso do mundo e o segundo maior das Américas em casos de depressão. Pessoas com problemas de saúde mental costumam ser incapazes, ou até relutantes, em identificar seus sintomas. O monitoramento digital de dados biométricos básicos, como o sono, pode alertar os pacientes sobre quando estão mais vulneráveis e expostos a uma queda nas suas condições de saúde mental”, explica.
A empreendedora criou, então a Youfeel Health, para oferecer cuidados de saúde mental mais inteligentes e preventivos do que os convencionais. Fundada em 2019, em São Paulo, a empresa alia a tecnologia com atendimento médico e psicológico, entregando diagnósticos mais rápidos e precisos.
Atualmente, a startup possui um NPS (métrica de lealdade do cliente) de 87,5% e faz parte do Distrito Inova HC, programa de inovação em saúde que tem o objetivo de reunir as melhores empresas, produtos e tecnologias para criar, testar e expor soluções de mercado capazes de impactar a realidade das pessoas e empresas em um futuro próximo. “Estamos buscando investimentos para aprimorar nossos algoritmos, de forma que os diagnósticos de ansiedade e depressão sejam mais assertivos e escaláveis”, diz Renata. “No longo prazo, queremos gerar mais impacto positivo. A combinação da nossa tecnologia com a equipe de profissionais da saúde pode entregar uma solução única que aumenta o acesso aos cuidados e melhora os resultados de saúde mental”, finaliza.
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Divulgação Tatiana Pimenta, Vittude
Referência em psicologia online e educação emocional no Brasil, a Vittude nasceu em 2016 com a missão de democratizar o acesso aos atendimentos psicológicos e de saúde mental. Recebe, mensalmente, mais de 3 milhões de pessoas em sua plataforma e, só no ano passado, impactou cerca de 30 milhões de brasileiros com seus conteúdos sobre saúde mental, psicologia e comportamento humano.
A startup de Tatiana Pimenta, 39 anos, tem um braço de serviços corporativos, a Vittude Corporate, que já atende mais de 80 empresas nacionais e multinacionais como Grupo O Boticário, Raia Drogasil, Alelo, VR Benefícios, Saint-Gobain, SAP e Microsoft – um contingente de 200 mil colaboradores. “Nossos projetos englobam avaliações e monitoramento de saúde mental, comportamental, capacitação de líderes, palestras, rodas de conversa e a nossa plataforma tecnológica de terapia online, que ajuda ampliar o acesso a serviços de psicologia”, diz a empreendedora.
Em 2019, Tatiana foi uma das finalistas da premiação internacional Cartier Women Initiative Awards, que reconhece empreendedoras à frente de negócios de impacto social. No mesmo ano, a Vittude recebeu um aporte seed de R$ 4,5 milhões da Redpoint eventures e Superjobs VC. No ano passado, quando o tema de saúde mental ganhou uma relevância nunca vista, a healthtech cresceu 500% em receita.
“A tecnologia é capaz de ampliar e democratizar o acesso a qualquer tipo de serviço, principalmente na saúde. Recursos como o streaming de vídeo, por exemplo, permitem que profissionais que estão nos grandes centros ofereçam serviços de qualidade a mulheres de cidades muito pequenas e carentes de atendimento. Além de romper barreiras geográficas, essas ferramentas diminuem o custo, oferecendo um leque maior de opções para qualquer demanda”, diz a empreendedora. “É importante lembrar que as healthtechs também estão promovendo uma mudança de cultura, uma redução do estigma e desinformação, entregando conteúdos que geram reflexão e engajam.”
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Divulgação Taynara Alves, InQuímica
A InQuímica surgiu em 2017, em São Paulo, do desejo de Taynara de oferecer soluções eficientes para problemas que afetam a sociedade, principalmente na saúde e nas suas vulnerabilidades socioeconômicas.
Atualmente, o produto Puro&Bom, que retira até 85% dos metais pesados e parte dos agroquímicos de frutas, verduras e legumes, está em fase de registro e certificações para posterior comercialização. “Um dos nossos principais objetivos é conseguir escalabilidade e agilidade no processo de pesquisas e testes”, diz Taynara, que em 2019 foi eleita um dos 20 jovens brasileiros inspiradores pela Mckinsey&Company.
Para a empreendedora de 30 anos, é extremamente urgente desenvolver soluções que tratem a saúde, principalmente das mulheres de baixa renda, como prioridade. “Pensar em uma alimentação com menos malefícios e baixo custo são nossas prioridades. Melhorar o atendimento às mulheres é pensar de maneira inclusiva, justamente naquelas onde o acesso não é tão simples”, diz.
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Divulgação Viviane Sedola, Dr. Cannabis
Lançada em 2018, a Dr. Cannabis é uma plataforma digital que tem como missão facilitar o acesso à cannabis medicinal legal no Brasil. Hoje, a startup de Viviane Sedola, 37 anos, conta com uma comunidade de mais de 3 mil médicos e 30 mil pacientes que se conectam, prescrevem e compram produtos à base de cannabis por intermédio da plataforma.
“Nosso objetivo é apoiar a prescrição médica com base em dados e gerar informação clínica relevante e anonimizada a partir da base de informações da plataforma”, diz a empreendedora. “No fundo, trata-se de fazer com que a cannabis não seja a última ferramenta terapêutica no rol de possibilidades do médico, mas que, amparado por dados do mundo real de pacientes com casos similares aos dele, o profissional decida por esses produtos como uma de suas primeiras opções se achar que é o caso.”
Em abril de 2020, a Dr. Cannabis foi pioneira no lançamento de telemedicina para a prescrição de produtos produzidos com canabinoides. A plataforma conta com mais de 45 itens à base de cannabis de sete marcas parceiras: FormulaSwiss, VerdeMed, Korasana, NatyvaCare, Pacificool CBD, Proprium e EaseLabs. Em outubro, concluiu uma rodada de equity crowdfunding de R$ 2 milhões para aprimorar o seu produto digital e tornar o processo de prescrição médica de cannabis mais fácil para o médico.
Ana Carolina Peuker, Bee Touch
Especialista em psicologia clínica, Ana Carolina Peuker fundou a startup de saúde mental Bee Touch em 2012, em Porto Alegre (RS), para desenvolver soluções para saúde e qualidade de vida.
Ao unir inteligência e tecnologia, a empresa criou softwares, redes sociais e aplicativos móveis customizados. “Graças aos recursos tecnológicos, podemos predizer potenciais riscos que culminam em agravos da saúde mental. No caso das mulheres especificamente, temas como violência, assédio, maternidade, síndrome da impostora e positividade corporal [ou body positive], entre outros, devem estar sempre em pauta. Todas essas temáticas repercutem em problemas emocionais graves”, explica.
Entre as iniciativas da startup está o LegalMente, desenvolvido em parceria com a Caixa de Assistência dos Advogados da OAB/MS (CAAMS). O programa utiliza a inteligência de dados para análises psicológicas anonimizadas precisas sobre as principais demandas de saúde mental dos advogados de modo coletivo e respeitando a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), além do impacto que a Covid-19 vem causando nos profissionais. Outro projeto que merece destaque é a plataforma AVAX Psi, que cruza dados sobre saúde mental e analisa os resultados a partir de uma metodologia proprietária. Hoje, a plataforma conta com quase 2 mil psicólogos usuários, responsáveis por mais de 4.600 avaliações.
Em 2020, a Bee Touch cresceu quase 70% e planeja triplicar o seu tamanho em 2021. Um dos maiores objetivos é escalar a utilização da AVAX Psi entre os psicólogos e no ambiente corporativo, sendo reconhecida como a principal ferramenta de inteligência de dados de saúde mental do país.
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