O futuro da humanidade, diante dos avanços tecnológicos e científicos realizados nos últimos 300 mil anos pelos Homo sapiens, é o tema principal dos trabalhos do historiador e filósofo Yuval Noah Harari. Doutor em história pela Universidade de Oxford, o israelense é conhecido por suas obras – “Sapiens: Uma Breve História da Humanidade”, “Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã” e “21 Lições para o Século 21” -, que, juntas, já venderam mais de 27,5 milhões de cópias, em 60 idiomas diferentes, no mundo inteiro.
Por conta de sua linguagem acessível e repertório diverso, Harari criou uma legião de fãs e alcançou um status de “historiador pop” misturado com futurólogo. Um exemplo de seu carisma como professor é que seu curso online “Uma Breve História da Humanidade”, que teve duas edições entre 2013 e 2014 na plataforma de ensino Coursera, teve mais de 120 mil alunos cadastrados.
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Mas nem em seu curso online, nem em seus três títulos mais conhecidos, Harari falou sobre a pandemia de Covid-19. O seu último trabalho, o livro “21 Lições para o Século 21”, foi publicado em 2018, dois anos antes do vírus Sars-Cov-2 infectar o primeiro humano na cidade Wuhan, na China. Desde então, no entanto, o historiador escreveu artigos para jornais e revistas refletindo sobre o momento de isolamento social e o pânico gerados pela crise sanitária e o que pode ser da humanidade após este momento histórico.
Em mais uma de suas aparições midiáticas para debater o futuro da humanidade no pós-pandemia, Harari participou como palestrante da quinta edição do Softys Innovation Week, evento realizado pela empresa do setor de saúde e bem-estar Softys. Por mais de uma hora, o historiador falou para executivos da empresa, membros da imprensa mundial e convidados sobre os caminhos da espécie humana após o fim da crise sanitária. Confira algumas de suas previsões na galeria abaixo:
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Pixabay 1. Os Homo sapiens estão cada vez mais preparados
A crise sanitária de Covid-19 não foi a primeira pela qual a humanidade já passou. No século 14, a peste negra, por exemplo, matou um terço da população da Europa. Durante o século 20, a gripe espanhola foi responsável pela perda de 50 milhões a 100 milhões de pessoas.
Para Harari, a pandemia que se iniciou em 2020 não é nada comparada a essas outras. “Na guerra entre humanos e patógenos, os humanos nunca estiveram tão fortes”, afirma. “Na maior parte da história, as epidemias não podiam ser controladas.”O historiador israelense elenca a rapidez do sequenciamento do genoma do Sars-Cov-2 e a criação de vacinas eficazes e seguras como as principais evidências de que os cientistas conseguem identificar potenciais patógenos e encontrar medidas para contê-los.
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Pixabay 2. Liderança política será essencial para salvar vidas
Se a pandemia da Covid-19 não é nada em comparação com a gripe espanhola, por que ela já matou mais de 3 milhões de pessoas no mundo? “Tudo por causa de más decisões políticas”, diz ele. “Os cientistas nos deram as ferramentas para controlar a pandemia, mas são os políticos que decidem como utilizá-las.”
Como exemplo de má administração da pandemia, o historiador cita a falta de transparência da China sobre o surgimento dos primeiros casos de Covid-19, no final de 2019, assim como os governos do ex-presidente norte-americano Donald Trump e o do presidente brasileiro Jair Bolsonaro. “Os Estados Unidos e o Brasil minimizaram o perigo, recusaram-se a ouvir os especialistas e espalharam teorias da conspiração”, diz. “Essa negligência custou milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas.”
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Pixabay 3. Empresas devem tomar a frente por mudanças
O setor privado, segundo Harari, não deve se isentar de lutar por mudanças na sociedade, principalmente depois do que ocorreu com a pandemia de Covid-19. “Executivos também precisam de políticos melhores, em seus países e no mundo inteiro”, afirma. “Também necessitam de governos que respeitem a ciência e rejeitem teorias da conspiração.”
Para o historiador, não só as pessoas, mas também os negócios são prejudicados quando não há liderança política efetiva e colaborativa. “Uma boa cooperação internacional é capaz de proteger a economia de choques globais, como pandemias”, diz. “Corporações possuem poder e influência. Elas sabem fazer lobbies com políticos para conseguir o que querem, seja diminuição de impostos ou um acordo internacional.”
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Unsplash 4. Investimentos em saúde deveriam ser prioridade
A pandemia de Covid-19 mostrou a importância da comunicação entre países e o compartilhamento de informações para conter a disseminação do novo coronavírus. Para Harari, um sistema de monitoramento global, amparado por grandes investimentos em sistemas de saúde pública, deveriam ser uma prioridade daqui em diante. “Se um novo vírus surgir em um vilarejo de uma selva remota, em poucos dias esse mesmo patógeno pode dar uma ‘voltinha’ em Wall Street”, afirma.
O trabalho da Organização Mundial da Sáude (OMS), segundo o historiador, é um bom começo para criar essa plataforma capaz de monitorar a existência de novos vírus e outros agentes biológicos. “O investimento na OMS e nesses tipos de sistemas é escasso e deveria ser muito maior para que países não dependam exclusivamente de políticos aproveitadores”, afirma. Para ele, atualmente as condições tecnológicas e científicas estão do lado da humanidade, mas precisam de poder político para funcionarem bem.
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Pixabay 5. A digitalização veio para ficar
Com as restrições de aglomerações e a necessidade do isolamento social, a pandemia de Covid-19 forçou empresas, escolas e instituições a digitalizarem processos do dia para a noite. “Muitas dessas mudanças permanecerão”, afirma Harari. “Executivos, por exemplo, descobriram que podem realizar conferências e reuniões online, sem a necessidade de viajar.”
A digitalização de negócios e processos, no entanto, terá vencedores e perdedores, conforme previsão do especialista. Enquanto alguns países vão se beneficiar dessas mudanças, outros vão colapsar diante de uma maior demanda por tecnologia. “Países que realizam progresso econômico por meio de sua mão de obra barata e pouco qualificada sofrerão com a queda da demanda provocada pela automação”, prevê.
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Unsplash 6. Prepare-se para o “colonialismo de dados”
O jogo de forças da geopolítica global possui uma dicotomia entre EUA e China, as duas maiores economias do mundo. Por trás disso, está uma luta pelo domínio de patentes de tecnologia, inteligência artificial e dados. “Se essa briga continuar apenas entre esses dois países, presenciaremos uma espécie de ‘colonialismo de dados’”, afirma. “No século 21, para conquistar países, você não precisará de armas, mas sim de dados de políticos, empresários e figuras públicas.”
Semelhante ao que ocorreu no Tratado de Tordesilhas, em 1494, quando Portugal e Espanha dividiram o mundo entre si, o século 21 pode presenciar a repartição do mundo entre EUA e China. “Assim como, no passado, as colônias forneciam matérias-primas para seus colonizadores, provavelmente veremos uma dinâmica parecida em breve”, diz. “Os dados são a matéria-prima da IA, e o mundo inteiro está enviando informações para o Vale do Silício e China.”
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Unsplash 7. O dilema ético na coleta de dados vai continuar
A coleta de dados em massa possibilitou às empresas de tecnologia compreenderem mais sobre o comportamento de seus usuários e customizar anúncios e ofertas. Para Harari, esse tipo de atividade criou um dilema ético no campo da privacidade. “Governos e corporações coletam tantos dados e possuem tanto poder computacional que conseguem compreender meus medos, desejos e necessidades melhor do que eu mesmo”, afirma. “Isso pode abrir caminho para manipulações de diversos tipos.”
Para que essa manipulação seja evitada, levando segurança às pessoas, o historiador traça três parâmetros éticos que devem ser considerados: todo dado sensível e privado deve ser utilizado em benefício do usuário; o monitoramento de informações não pode ser apenas de corporações e governos para as pessoas, mas também vice-versa; e os dados não podem ficar em um mesmo e único local, pois isso se torna um concentração de informação, o que pode desenvolver formas autoritárias de poder.
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Pexels 8. A Covid-19 não acabará com os abraços
Abraços, beijos e relações sexuais não morrerão quando a pandemia de Covid-19 acabar. Para dar força a esse argumento, Harari diz que nenhuma crise sanitária anterior conseguiu modificar os principais aspectos comportamentais da espécie humana. “A peste negra de 1347, a gripe espanhola de 1918 e a AIDS não mudaram nossa natureza”, diz. “Apesar de toda essa destruição que vivenciamos, nós continuamos uma espécie que ama contato próximo.”
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Unsplash 9. Compaixão e solidariedade são os valores do futuro
Para o futuro da humanidade ser promissor, será necessário um esforço conjunto de governos, iniciativa privada e população. Não só a cooperação será importante, conta Harari, mas também a compaixão e solidariedade. “Espero que a humanidade reaja da melhor forma possível em relação à pandemia de Covid-19. Tudo depende das decisões que tomamos hoje”, diz. Para ele, o maior desafio nunca serão vírus e agentes biológicos, mas sim os “demônios internos” dos seres humanos: ódio, ganância e ignorância.
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Pixabay 10. Corremos contra o tempo para salvar o planeta das mudanças climáticas
A pandemia de Covid-19 deve servir como um alerta do que uma mudança ecológica ou de clima mais severa pode causar no mundo. “Uma pandemia relativamente simples [quando comparada com outras da história] causou diversas consequências. Pense como isso seria muito pior em outros cenários”, afirma Harari. “Espero que essa crise sanitária sirva de aviso para todos: empresas, governos e cidadãos. Não há como diminuir os efeitos das mudanças climáticas sem cooperação.” Para ele, a situação não é confortável e a humanidade precisa correr contra o tempo para salvar o planeta.
1. Os Homo sapiens estão cada vez mais preparados
A crise sanitária de Covid-19 não foi a primeira pela qual a humanidade já passou. No século 14, a peste negra, por exemplo, matou um terço da população da Europa. Durante o século 20, a gripe espanhola foi responsável pela perda de 50 milhões a 100 milhões de pessoas.
Para Harari, a pandemia que se iniciou em 2020 não é nada comparada a essas outras. “Na guerra entre humanos e patógenos, os humanos nunca estiveram tão fortes”, afirma. “Na maior parte da história, as epidemias não podiam ser controladas.”
O historiador israelense elenca a rapidez do sequenciamento do genoma do Sars-Cov-2 e a criação de vacinas eficazes e seguras como as principais evidências de que os cientistas conseguem identificar potenciais patógenos e encontrar medidas para contê-los.
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