“Todo bom negócio nasce de um problema e de uma equipe que se incomoda com alguma coisa e não deixa aquilo virar rotina”, afirma Vinicius Lima, CEO e fundador da Escala, startup especializada na gestão de plantões e jornadas de trabalho. O valor total do faturamento da empresa ainda não é enorme em termos absolutos (foram R$ 3 milhões em 2020), mas o crescimento de 85% no período permite que a startup comece a sonhar alto. Em cinco anos, a previsão de faturamento é de R$ 80 milhões, e a Escala espera captar investimentos em uma rodada ainda em 2021.
Criado em 2016 dentro do Laboratório de Inovação do Hospital Albert Einstein, com o objetivo de solucionar uma questão interna, o grupo hoje atende cerca de 240 empresas que precisam manejar o expediente dos colaboradores. “A nossa previsão é de triplicar a receita até o final do ano”, diz.
A ideia veio depois que um grupo de profissionais de TI do hospital descobriram que um diretor de UTI passava boa parte do seu tempo escalando os médicos e enfermeiros em plantões de madrugada e final de semana. “A princípio parecia um problema geral, não só de hospitais, mas de todas as empresas que não fecham”, diz Lima. Além disso, esse tipo de administração era feita de maneira improvisada, através de grupos no WhatsApp e planilhas digitais. Outro ponto que chamou a atenção do laboratório de inovação foi que os médicos não tinham o domínio das leis trabalhistas para respeitar os direitos de cada colaborador. “Além dessas planilhas aparecerem com buracos, elas eram carregadas de passivos trabalhistas. Muito tempo era gasto fazendo aquilo, e ainda trazia problemas para a empresa”, conta.
Como funciona o app
Desde 2018, a Escala atende empresas fora do Hospital Albert Einstein. Com um sistema multiplataforma que contempla um aplicativo e um painel web, os gestores cadastram os membros da equipe e criam padrões que vão configurar o logaritmo. “Se eu quero que o funcionário Y trabalhe todas as terceiras semanas do mês, isso já entra de maneira automática no sistema, podendo adicionar alguma exceção. O trabalho do administrador é criar essas regras. Depois disso, o sistema faz o pareamento para que todos tenham horários justos, respeitando tempo mínimo de descanso e quantidade de dias previsto por lei”, diz.
Depois que a escala está pronta, todos os colaboradores recebem uma notificação do aplicativo com as novas datas e horários. É nesse momento que costumam surgir algumas alterações de acordo com a preferência de cada membro da equipe. Vinicius explica que essas mudanças costumavam ser feitas com um pé atrás, já que algumas pessoas não queriam se indispor com o gerente, mesmo tendo um compromisso marcado. Pela plataforma isso pode ser feito de maneira automática, com as trocas sendo mediadas no próprio app.
Ao contrário dos concorrentes, não é necessário a instalação de um software na estrutura da empresa. “Nossa ideia era trabalhar em nuvem”, explica o CEO. O serviço funciona a partir de um contrato de 12 meses com pagamento mensal de acordo com o número de usuários que vão entrar no sistema e tem foco em negócios maiores. “O mínimo que aceitamos são 50 pessoas. A partir daí, a taxa é de R$ 8 por cabeça, podendo chegar a pouco mais de R$ 2 conforme as expansões”.
Pandemia trouxe um novo problema – e mais uma solução
Existem três modelos disponíveis para as empresas: o Escala Plantões, voltado para profissionais liberais, autônomos e cooperados, que é o caso dos médicos; o Escala Jornadas, que atua na solução de turnos de trabalho, em geral para o profissional registrado; e o projeto mais recente, o Escala Espaço, que organiza os escritórios para a retomada durante a pandemia, respeitando o distanciamento entre as mesas e a quantidade de pessoas no mesmo ambiente.
“A pandemia intensificou a percepção dos problemas. O Escala começou a receber solicitações até então estranhas, dos times de administradores e pessoal de escritório. Percebemos que além da demanda ter aumentado para o setor de logística e varejo, fazendo com que eles tivessem um time de segunda a segunda, o pessoal precisava remanejar essa nova forma de trabalho seguro, com distanciamento. Todo aquele problema de revezamento passou a ser do meio corporativo também, que precisava achar maneiras de ir trabalhar. Percebendo isso, montamos uma nova ferramenta. Foi uma responsabilidade que tivemos conosco no meio da pandemia, de ajudar nesse remanejamento. É a nossa grande aposta”, explica Vinicius.
Já em relação a distinção entre os profissionais liberais e os registrados, Lima diz que o ponto principal para a criação de ferramentas distintas foram as leis trabalhistas, elemento que a startup se preocupa em respeitar. As faltas, por exemplo, são um critério de desempate na hora que o algoritmo precisa optar por um colaborador para ficar no feriado, por exemplo. No entanto, esse tipo de sistema não funciona com os autônomos, que teoricamente só precisam comparecer quando chamados.
“A previsão é para faturar R$ 80 milhões daqui cinco anos”, diz o CEO
Apostando no crescimento acelerado, a empresa hoje já devolveu em receita a quantia investida pelo Hospital Albert Einstein na sua criação, cerca de R$ 7 milhões. No entanto, o projeto deve entrar em uma nova fase a partir de julho, quando encontrará um novo parceiro a partir de uma rodada de investimentos.
Criado dentro de um laboratório de inovação, os planos para o futuro não param por aí. A startup planeja mais uma expansão, dessa vez abrangendo o trabalhador intermitente, modalidade aprovada na reforma de 2017. “O Escala cresce mês a mês e sempre aumenta o cash burn – é um jogo de longo prazo. Com essa nova rodada de investimento a previsão é para faturar R$ 80 milhões daqui cinco anos”, prevê Vinicius.