O mercado de startups está em alta: o Brasil passou de 10 mil empresas em 2018 para 13.211 no final de 2020, o que representa um salto de 32,11%, segundo dados da Abstartups (Associação Brasileira de Startups). Em âmbito mundial, a tendência não é muito diferente: o sucesso de empresas como Airbnb, Nubank, WeWork, Stripe e Epic Games continuam a criar oportunidades para que negócios inovadores e disruptivos se consolidem.
No entanto, o caminho para chegar ao topo não é simples, e algumas empresas em estágio inicial não conseguem se manter no mercado. Segundo uma pesquisa divulgada em 2018 pelo Sebrae e o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, 30% das startups não sobrevivem.
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O levantamento foi realizado com empresas participantes do programa de capacitação Inovativa Brasil, e analisou 1.044 startups, com destaque para os setores de tecnologia da informação e da comunicação (31%), desenvolvimento de software (21%) e serviços (18%). Segundo a pesquisa, os principais motivos para o fechamento das operações são a dificuldade de acesso ao capital (40%), obstáculos para entrar no mercado (16%) e divergências entre os sócios (12%).
No último ano, o cenário ficou ainda mais delicado: a crise socioeconômica decorrente da pandemia de Covid-19 fez com que 13,3% das startups que atuam no Brasil tivessem uma redução de mais de 50% de seu faturamento, de acordo com o “Mapeamento de Comunidades 2020” divulgado pela Abstartups.
O documento revela que os maiores impactos da pandemia nos negócios foram na aquisição de clientes e vendas (51,3%), faturamento (16,4%), negociações de investimento (15,4%) e custos operacionais (10,7%). “No início do ano, o mercado de startups sofreu os impactos e a surpresa de uma pandemia global, da mesma maneira que os outros mercados e atividades econômicas”, afirma José Muritiba, diretor executivo da Abstartups.
Embora as expectativas da associação sejam positivas para o crescimento do mercado empreendedor, analisar as falhas pode ser uma estratégia de ouro para não cometer os mesmos erros e compreender o que realmente deve ser feito para alavancar os negócios.
Pensando nisso, a Forbes selecionou cinco casos de startups que não conseguiram vencer os desafios e encerraram as operações no Brasil. Confira quais são elas na galeria abaixo:
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Divulgação Cabify
No mês passado, o aplicativo de mobilidade Cabify anunciou que encerrará as operações no Brasil no próximo dia 14 de junho. Em comunicado, a startup afirmou ter “um forte compromisso com a rentabilidade” e justificou a decisão pelas crises sanitária e socioeconômica alavancadas pela Covid-19 no país, que dificultam a “criação de valor”.
O app concorria com Uber e 99 no segmento de corridas com motoristas particulares, e funcionava nas cidades de Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Santos e São Paulo.
Fundada em 2011 na Espanha, a empresa continua operando em mais de 80 cidades de oito países, incluindo Argentina, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru e Uruguai. Por aqui, a startup atuava desde 2016, e foi impulsionada por um aporte de US$ 160 milhões investidos na Maxi Mobility, controladora da Cabify e da Easy Taxi – serviço brasileiro vendido para a concorrente em 2017 numa operação estimada em R$ 600 milhões. Na época do aporte, o grupo afirmou que o dinheiro seria usado para expandir a atuação na América Latina, Portugal e Espanha.
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Divulgação Glovo
Em março de 2019, um ano após chegar ao Brasil, a startup espanhola de entrega de encomendas Glovo anunciou que interromperia suas operações no país. O aplicativo, hoje presente na Europa, África e no Oriente Médio, realiza delivery para restaurantes, mercearias e lojas de conveniência.
Dois meses antes do anúncio, o então diretor-geral da startup, Bruno Raposo, havia dito à imprensa que pretendia dobrar sua presença no país ao longo do ano. As expectativas eram que o Brasil se tornasse o principal mercado em número de pedidos e que as operações fossem expandidas de 21 para 50 cidades. No entanto, os planos não se concretizaram.
Em nota, a Glovo – que concorria com Rappi e James Delivery – informou que a decisão de deixar o país ocorreu em função da forte competição, que prejudicava a liderança e a rentabilidade da empresa. “Esta é a razão pela qual decidimos nos concentrar nas outras regiões da América Latina, onde há demanda pelos serviços da Glovo e podemos obter melhores resultados para nossos parceiros, entregadores e companhia”, disse o executivo.
Em setembro de 2020, a empresa emitiu um outro comunicado, desta vez confirmando a venda de todas as operações latino-americanas para a Delivery Hero. “A Glovo buscará fortalecer sua presença em seus principais mercados, e continuará a se expandir para novos lugares à medida que aumenta sua presença na EEMEA (Europa, Oriente Médio e África).”
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Kris Krug/Divulgação Lime
A startup norte-americana de aluguel de patinetes comunicou, em janeiro de 2020, o fim das atividades no Brasil. A aventura por aqui durou pouco foram apenas seis meses desde a chegada. Segundo a empresa, a decisão de deixar o país foi tomada com base em um levantamento que revelava as cidades onde a micromobilidade evoluía mais lentamente.
“Enquanto a grande maioria dos nossos mais de 120 mercados são lucrativos e adotaram rapidamente soluções de transporte de micromobilidade, existem comunidades em todo o mundo onde o mercado tem evoluído mais lentamente”, disse o fundador da Lime, Brad Bao.
Além de São Paulo e Rio de Janeiro, a empresa também encerrou as atividades em Bogotá, Buenos Aires, Montevideo, Lima, Puerto Vallarta, Atlanta, Phoenix, San Diego, San Antonio e Linz. “Esperamos poder retornar a operação Lime [no Brasil] em uma hora mais oportuna”, acrescentou a empresa.
Criada em 2017 na Califórnia, a Lime levantou US$ 335 milhões das gigantes de tecnologia Uber e Alphabet em uma rodada de investimento em julho de 2018. No ano seguinte, a startup captou mais US$ 310 milhões, numa operação que teve a participação novamente da Alphabet e dos fundos Andreessen Horowitz, Bain Capital Ventures, Fidelity Investments, GV e IVP. A operação elevou o valuation da empresa para US$ 2,4 bilhões.
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Divulgação Eventbrite
Após encerrar 2019 com um salto de 12% na receita – US$ 327 milhões -, a Eventbrite antecipou suas expectativas de aumentar a receita em algo em torno de 3% a 8% no primeiro trimestre de 2020, faturando entre US$ 84 milhões e US$ 88 milhões.
Porém, as expectativas não se confirmaram. Por conta do avanço da pandemia no Brasil e no mundo e as medidas preventivas para conter aglomerações, o segmento de eventos sofreu drasticamente. Um levantamento feito pelo Sebrae em abril de 2020 revelou que a pandemia afetou 98% do setor, e com a Eventbrite não foi diferente.
Em abril, a startup norte-americana especializada na organização de eventos e venda de ingressos, decidiu encerrar as operações no Brasil, bem no início da crise sanitária. Em texto publicado no LinkedIn, a diretora de operações no país, Beatriz Oliveira, explicou que “o mercado de eventos foi extremamente impactado com a crise e o distanciamento social, e o sonho do dia a dia acabou”.
Os impactos da Covid-19 nos negócios não foi exatamente uma surpresa: antes da pandemia ser declarada pela OMS (Organização Mundial de Saúde), a Eventbrite já havia calculado que 10% dos eventos de sua plataforma atraíam pessoas localizadas a mais de 160 quilômetros de distância, que não poderiam se deslocar caso o Brasil aderisse às restrições de viagens e aglomerações.
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Divulgação Oyo
A Oyo não saiu oficialmente do país, mas sua situação por aqui não é nada confortável. Em 2020, a startup indiana praticamente fechou as portas por aqui ao reduzir sua equipe de 1.700 colaboradores para 150 por conta dos efeitos da pandemia.
Este ano, segundo fontes com conhecimento do assunto, a startup está enxugando ainda mais a equipe, desligando todo o time local de operações e mantendo, sob estrutura mínima, os departamentos jurídico e de recursos humanos. A previsão é que a startup conclua todos os trâmites legais para, até o final do ano, encerrar a operação brasileira.
Em nota divulgada ao mercado, a Oyo informou que a estrutura de atendimento a parceiros e hóspedes na região passará a ser feita de forma exclusivamente digital. “Infelizmente, teremos que dizer adeus à maioria dos nossos companheiros de equipe que admiramos e valorizamos.”
Fundada em 2013, a startup de hospedagem chegou por aqui no primeiro semestre de 2019 e, no mesmo ano, recebeu um aporte de US$ 1,5 bilhão em uma rodada de investimentos liderada pelo SoftBank, que elevou a avaliação da empresa para US$ 10 bilhões. Contudo, a parceria chegou ao fim em fevereiro de 2021, quando o conglomerado japonês informou que deixaria as operações comerciais da Oyo na América Latina.
Cabify
No mês passado, o aplicativo de mobilidade Cabify anunciou que encerrará as operações no Brasil no próximo dia 14 de junho. Em comunicado, a startup afirmou ter “um forte compromisso com a rentabilidade” e justificou a decisão pelas crises sanitária e socioeconômica alavancadas pela Covid-19 no país, que dificultam a “criação de valor”.
O app concorria com Uber e 99 no segmento de corridas com motoristas particulares, e funcionava nas cidades de Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Santos e São Paulo.
Fundada em 2011 na Espanha, a empresa continua operando em mais de 80 cidades de oito países, incluindo Argentina, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru e Uruguai. Por aqui, a startup atuava desde 2016, e foi impulsionada por um aporte de US$ 160 milhões investidos na Maxi Mobility, controladora da Cabify e da Easy Taxi – serviço brasileiro vendido para a concorrente em 2017 numa operação estimada em R$ 600 milhões. Na época do aporte, o grupo afirmou que o dinheiro seria usado para expandir a atuação na América Latina, Portugal e Espanha.
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