O Parkinson é uma doença crônica degenerativa do sistema nervoso central que atinge cerca de 1% da população mundial acima dos 65 anos, de acordo com dados de 2018 da OMS (Organização Mundial da Saúde). Embora não exista uma cura para a doença, o avanço da ciência contribuiu para o surgimento de novas iniciativas, capazes de melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes. É o caso do Percept, ferramenta desenvolvida pela empresa norte-americana Medtronic, especializada em tecnologia, serviços e soluções médicas.
O tratamento baseia-se na implantação cirúrgica no cérebro de um dispositivo semelhante ao marcapasso cardíaco, que fornece uma série de estímulos elétricos cerebrais. A terapia é capaz de restabelecer a transmissão de informação entre os neurônios, contribuir para o retorno do controle dos movimentos e reduzir os tremores.
Segundo Ricardo Renaud, gerente sênior de neuromodulação da Medtronic, o sistema foi desenvolvido com a tecnologia BrainSense, modalidade capaz de ler e monitorar as atividades das células cerebrais. Diferentemente das versões anteriores da terapia DBS (Estimulação Profunda do Cérebro, na sigla em inglês), o Percept permite que o médico analise, em tempo real, como o paciente está reagindo aos impulsos elétricos. Isso ajuda o profissional a avaliar a necessidade de aumento ou diminuição dos impulsos e otimiza o tratamento.
“A patologia é muito conhecida pelo tremor dos músculos em repouso, mas também se manifesta pela lentidão motora – chamada de bradicinesia -, pela rigidez das articulações e a instabilidade postural”, explica o Dr. Murilo Marinho, coordenador de neurocirurgia funcional na Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
NA PRÁTICA
Manoel Roque foi diagnosticado com a doença há cinco anos, quando notou uma dificuldade de locomoção na perna esquerda. Nos primeiros três anos, o uso de medicamentos diários foi suficiente para amenizar os sintomas. Depois, no entanto, houve uma piora no quadro clínico, com o agravamento dos tremores, rigidez dos membros e dificuldade de movimentação corporal.
“Quando o médico me falou sobre a tecnologia, foi uma novidade. O Parkinson não tem cura, mas me senti praticamente curado, pois tive uma melhora signficativa das disfunções”, afirma Roque. O Dr. Murilo Marinho confirma: o uso da tecnologia reduz em até 80% os tremores. Para Roque, o sentimento que fica é de liberdade. “Eu não conseguia fazer nada que é considerado normal: amarrar os sapatos, abotoar a camisa ou escovar os dentes. A tecnologia me trouxe isso de volta.”
Até o momento, o Percept está disponível apenas no sistema privado. Os equipamentos custam a partir de R$ 50 mil, somados ao custo hospitalar e honorários médicos. De acordo com o neurologista, o principal impasse para que o sistema seja adotado pelo SUS (Sistema Único de Saúde) é a questão orçamentária, atualmente direcionada 100% para o combate à Covid-19.
PARA QUEM É RECOMENDADO?
Segundo o neurocirurgião, o melhor tratamento no estágio inicial da doença é a medicação, que evita a diminuição progressiva de dopamina no cérebro, responsável pela transmissão de sinais na cadeia de circuitos nervosos.
No entanto, após alguns anos de tratamento, os pacientes podem começar a manifestar uma redução da eficácia das drogas neuroprotetoras e, consequentemente, um aumento da flutuação motora. Nesse caso, o uso do Percept passa a ser considerado.
Para utilizar a tecnologia, o paciente precisa passar por uma avaliação pré-operatória, a fim de confirmar o diagnóstico da doença e receber apoio de neurologistas, neurocirurgiões funcionais, neuropsicólogos e, em alguns casos, psiquiatras. Esses especialistas devem identificar, junto com o paciente, quais são os sintomas que mais o prejudicam no dia a dia, para verificar, caso a caso, se o tratamento realmente será efetivo. “O procedimento melhora a rigidez, lentidão do movimento e o tremor. Porém, não traz muitos efeitos positivos no que diz respeito ao equilíbrio, à instabilidade postural e alterações na fala”, explica Marinho.
De acordo com o especialista, existem mais de 170 mil pacientes em todo o mundo submetidos ao tratamento, e o Brasil tem uma participação entre 5% e 10% do total. “Aqui, a evolução do tratamento da doença de Parkinson ainda é lenta, mas existe muito espaço para a excelência”, finaliza.
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.