“Dirk, eu ouço falar desse trem ligando São Paulo ao Rio de Janeiro a 500, mil por hora desde que meus cabelos eram pretos”, provoco. “O governo brasileiro gastou tempo e dinheiro – chegou inclusive a constituir uma estatal dedicada ao TAV – e até hoje não se vê um tijolo nessa obra.”
Dirk é Dirk Ahlborn, empresário e investidor que nasceu em Berlim, onde iniciou a carreira como especialista em investimentos, mudou-se para a Itália nos anos 1990, onde fundou empresas de energia alternativa, e por fim baseou-se na Califórnia, onde cofundou, em 2013, a Jumpstarter, plataforma que permite a criação de comunidades em torno de grandes projetos. A estatal que citei é a Etav (Empresa de Transporte Ferroviário de Alta Velocidade), criada entre 2011 e 2012 por Dilma Rousseff e lastreada na ilusão de que a ligação Campinas-São Paulo-Rio pudesse estar concluída na Copa de 2014; foi logo renomeada como EPL (Empresa de Planejamento e Logística) e, em outubro de 2020, o Ministério da Infraestrutura anunciou sua fusão com outra estatal do setor ferroviário, a Valec. E TAV é trem de alta velocidade.
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Foi por meio da Jumpstarter que Dirk embarcou no projeto do Hyperloop, conceito de transporte sustentável e ultrarrápido (na teoria, a cápsula pode chegar a 1.200 km/h) criado pelo bilionário Elon Musk. Mas o “technoking” da Tesla e fundador da SpaceX não tinha braços para tocar o projeto e lançou o desafio para quem quisesse abraçá-lo. Em pouco tempo, a Jumpstarter reuniu mais de 400 especialistas e investidores de peso. Nascia a Hyperloop Transportation Technologies, da qual Dirk é presidente.
Encontrei-me com Dirk na sede da aceleradora de startups InovaHub, em Alphaville, na Grande São Paulo. Vestindo jeans, camisa polo e tênis (um cinquentão com pinta de garoto) e falando com plácida simpatia, ele me respondeu: “Desta vez não tem volta, o Hyperloop já está em execução em diferentes lugares. Ainda não entre Rio e São Paulo – no Brasil, ele vai começar ligando Porto Alegre à Serra Gaúcha numa viagem de minutos”. Mais exatamente, 12 minutos em um trajeto que, de ônibus, pode durar três horas. O trem gaúcho (que também é descrito como uma enorme cápsula flutuante a vácuo) está em fase de estudo de viabilidade técnica e de impacto socioambiental e econômico. “Hoje não existe trem ou metrô lucrativo em nenhum lugar, todos dependem de subsídio do governo. No nosso caso, pelo baixo custo operacional e grande capacidade de transporte [fala-se em 15 milhões de pessoas por ano, além do transporte de carga], podemos funcionar de forma privada e dar lucro.” Mas, para dar esse lucro, a passagem não vai ser muito cara? “Vai custar menos que o avião por causa da escala e da infraestrutura mais simples”, garante Dirk. Além disso, ele explica, poderá vender o excedente de energia solar e eólica que o próprio sistema vai gerar, revertendo esse ganho no valor da passagem. Otimista (talvez demais), Musk estimou em US$ 20 o preço de uma viagem semelhante à de São Francisco a Los Angeles, um percurso de pouco mais de 600 quilômetros. Para ele, um Hyperloop completo em um trajeto desse tamanho deve custar US$ 6 bilhões (os mais céticos falam em US$ 16 bi ou mesmo US$ 100 bi).
Outras empresas estão envolvidas no desafio de Musk – como a Virgin Hyperloop, que tem por trás o também bilionário Richard Branson. As previsões iniciais apontavam 2020 como o ano de início das operações comerciais, mas a pandemia atrasou os cronogramas. Além do Brasil, a Hyperloop TT de Dirk tem acordos com Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos, França, Alemanha, Índia, China, Coreia, Indonésia, Eslováquia, República Tcheca e Ucrânia. Em novembro de 2020, realizou seu primeiro teste tripulado no deserto de Nevada (EUA). Dois funcionários da empresa percorreram 500 metros em 15 segundos.
Reportagem publicada na edição 85, lançada em março de 2021
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