A FIV (fertilização in vitro) é um dos procedimentos mais utilizados na medicina reprodutiva: desde sua criação, em 1978, estima-se que mais de 8 milhões de pessoas em todo o mundo tenham sido geradas por esta técnica, de acordo com a Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia. No Brasil, o número de ciclos de fertilização in vitro cresceu 168,4% de 2011 a 2017, segundo dados da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Segundo Rodrigo Rosa, ginecologista obstetra membro da SBRA (Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida), a FIV é recomendada em casos como endometriose profunda, alterações das trompas e diminuição da quantidade ou da qualidade dos espermatozóides. Ele explica que mulheres abaixo dos 30 anos têm até 70% de chance de engravidar por tentativa, mas o número pode cair para 10% nos casos acima dos 43.
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Para aumentar as probabilidades de gravidez e identificar o potencial de cada embrião se desenvolver adequadamente, a ciência fez da tecnologia uma aliada. Pesquisadores do Brigham and Women’s Hospital e do Massachusetts General Hospital, ambos em Boston, nos Estados Unidos, estão desenvolvendo um sistema de inteligência artificial com o objetivo de melhorar o sucesso do procedimento. A tecnologia promete ajudar os médicos especialistas a selecionarem objetivamente os embriões com maior probabilidade de resultar em um nascimento saudável.
COMO FUNCIONA
A fertilização in vitro é dividida em quatro partes: estimulação ovariana, coleta dos óvulos e espermatozóides, fecundação assistida e transferência dos embriões. O material genético da mulher e do homem são recolhidos e fecundados em laboratório e, depois, o embrião é implantado no útero, onde será gestado.
No entanto, nem todo embrião tem potencial para gerar um bebê. “É importante que ele seja cromossomicamente normal, tenha aspectos morfológicos específicos e se desenvolva adequadamente”, diz o especialista. Tradicionalmente, a análise dos melhores embriões para a implantação é feita em nível microscópico, com um minucioso exame da velocidade de clivagem (multiplicação das células), simetria, dimensões, espessura e número e localização dos nucléolos, entre outros fatores.
O sistema de inteligência artificial prevê uma abordagem semelhante, mas automatizada. O software é capaz de examinar as estruturas com maior precisão e estimar qual delas têm a maior probabilidade de gerar um nascimento saudável. Para Rosa, a vantagem é que, com a tecnologia, os pacientes não precisam fazer vários procedimentos sem sucesso. “Ao reconhecer e implantar os melhores embriões, tudo fica mais eficiente. Isso aumenta a chance de gravidez na etapa da transferência embrionária”, diz.
“Um dos grandes desafios dessa técnica é justamente decidir sobre os embriões que serão transferidos durante a fertilização in vitro. Esse sistema tem um enorme potencial para melhorar a tomada de decisões clínicas e o acesso aos cuidados”, diz Hadi Shafiee, da divisão de engenharia em medicina do Brigham, em nota.
A inteligência artificial foi treinada com imagens de 742 embriões capturados 113 horas após a inseminação. Os resultados apontam que o sistema foi 90% preciso na escolha das estruturas de alta qualidade. O software também conseguiu distinguir os embriões a partir do número geneticamente normal de cromossomos humanos (23 pares). Nesse caso, a tecnologia funcionou com uma precisão de 75%, ante a análise de 67% dos embriologistas.
O especialista alerta que a tecnologia não tem o objetivo de aprimorar as características da geração futura e, muito menos, buscar embriões com aspectos genéticos que possam favorecer qualquer elemento físico ou intelectual. “A proposta é simplesmente selecionar as estruturas com melhor capacidade de implantação e geração do feto”, pontua.
Além de melhorar o sucesso da fertilização in vitro, o software garante que o processo não agrida o embrião. Ao contrário da análise genética tradicional, cujo procedimento envolve a retirada de algumas células para examinar a presença de alterações cromossômicas ou genéticas hereditárias antes da transferência para o útero, a inteligência artificial permite o estudo do material de forma não invasiva.
Os autores da pesquisa observam que, inicialmente, o sistema pretende atuar apenas como uma ferramenta auxiliar para que os embriologistas façam julgamentos durante a seleção do material. Segundo Rosa, a ferramenta ainda deverá ser aprimorada, para garantir a maior eficácia do procedimento. Atualmente, o sistema está em fase de protocolos de pesquisa e validação. A expectativa é que, até 2025, a tecnologia de inteligência artificial já comece a ser disponibilizada para clínicas e laboratórios em todo o mundo.
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