Uma das premissas da chamada Web3 é a descentralização e o poder que essa nova era da internet, em tese, dá aos criadores de conteúdo. Na manhã de ontem (31), após o Instagram apresentar uma instabilidade por horas, essa liberdade buscada pelos influenciadores voltou a estar em evidência após uma série de grandes creators terem perdido seguidores momentaneamente.
O Instagram não deu detalhes dos problemas, mas pediu desculpas e disse que estava buscando a solução. Por volta de 12h, a normalidade foi restabelecida. Mas antes disso, grandes criadores de conteúdo como Juliette chegaram a registrar perdas expressivas de seguidores, no caso dela, mais de 400 mil. Apesar de ser um erro momentâneo, o ocorrido reforça a necessidade da creator economy evoluir para dinâmicas onde os creators tenham cada vez mais autonomia e controle de seus conteúdos e comunidades.
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Sobre o movimento de limpeza de contas em si, Bruno Fernandes, professor associado da Fundação Dom Cabral (FDC), observa que, ainda que nesta segunda os problemas tenham sido pontuais, existe um movimento para evitar que as pessoas usem perfis falsos. “O que vem acontecendo é que o Instagram tem derrubado e bloqueado algumas contas que não estão vinculadas nem a e-mail, nem a celular, é o que eles chamam de conta não verificada. Isso acaba por enfraquecer, por exemplo, o hábito de compra de seguidores.”
“A eventual perda de seguidores dos influenciadores por conta desses ajustes, na minha opinião, não impacta em nada na dinâmica. Inclusive a mensuração de poder de influência hoje é feita muito mais a partir de quanto gera de tráfego e engajamento do que de maneira quantitativa”, explica Bruno.
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Flávio Santos, CEO e cofundador da MField e autor do livro Economia da Influência, destaca que “não é de hoje que temporariamente a plataforma faz uma limpa na sua base de perfis inativos e remove milhões de usuários. Mas nessa segunda-feira vimos uma situação atípica. Além dessa limpeza de rotina de @s, algumas contas foram removidas por engano e gerou um desespero generalizado. Isso nos dá a certeza que os creators precisam apostar em multiplataformas e criar conteúdo transmídia”, analisa.
“Assim como não podemos ficar dependentes do algoritmo, não podemos ser reféns de uma plataforma só. Já vejo alguns movimentos de influenciadores que também criam os seus próprios canais. O Hugo Gloss por exemplo é um case de sucesso nisso, criando um portal de notícias que recebe tráfego das suas redes, porém concentra suas narrativas de forma mais robusta em outro canais que já tem uma audiência fidelizada. A economia da influência não se limita a uma plataforma, mas nessas condições atuais vimos que nem todos os criadores de conteúdo da indústria estão preparados para ficar off-line nos seus perfis”, reforça Flávio Santos.
Já Rafael Coca, co-founder e CSO da Spark, entende que, do ponto de vista técnico, quem deva se posicionar e orientar os usuarios é a plataforma. “Sob a ótica de impacto, a avaliação que fazemos sempre ao analisar e indicar um influenciador são com dados quantitativos, como o potencial de engajamento. Neste contexto, pesa diretamente a quantidade de seguidores reais e que interagem com a conta. Portanto, se de fato o que está ocorrendo é a desativação de perfis inativos, a única coisa que muda é a métrica de vaidade, chamada de quantidade de seguidores. Mas isso é apenas um ponto de partida para a avaliação de métricas mais profundas”, explica Rafael Coca, co-founder e CSO da Spark.