Com experiência em inovação, liderança e negócios, Vitor Martins, que passou pelo Nubank e atua como líder de Diversidade e Inclusão da Swap Financial, entende que o equilíbrio entre tecnologia e o humano na hora de inovar é fundamental e depende muito mais de técnica do que necessariamente de “genialidade”. Com formação em psicologia e administração, Vitor ressalta o papel do líder neste contexto.
“Hoje a indústria criativa, que nada mais é, em resumo, o foco na criatividade capaz de gerar riqueza cultural e econômica, é por muitas vezes associada à indústria tecnológica. O ponto chave que nos possibilita pensar sobre a palavra ‘equilíbrio’, talvez seja ‘tecnologia para quê e para quem’?”, destaca Vitor que, em entrevista, elenca outros aspectos do equilíbrio entre liderança, inovação e tecnologia.
Forbes Brasil – Como você enxerga o papel da liderança na inovação?
Vitor Martins – Acredito que um dos papéis primordiais é desmistificar a ideia de que para ser uma pessoa inovadora você precisa ser o gênio da lâmpada. Então aqui está uma das minhas primeiras crenças, traduzir a inovação como algo possível e acessível. Um segundo aspecto relevante e que complementa o anterior é que lideranças identifiquem a inovação em todas as partes e camadas sociais. Desde um app que se cria em um laboratório de inovação de uma big tech, passando por estudos e pesquisas nos centro universitários e, igualmente, quando pessoas negras a partir das dinâmicas do racismo buscam mecanismos para resolverem suas dores. A tecnologia não está a serviço de um certo tipo de estereótipo, mas espalhada e pulverizada respondendo as necessidades das pessoas, grupos e comunidades e, consequentemente, articulada a disponibilidade de recursos e seus mecanismos de acesso. Lideranças precisam reconhecer a inovação para fora de suas bolhas. E, por fim, líderes orientados para a inovação reconhecem a importância da diversidade em suas equipes.
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FB – Ainda sobre inovação, como você enxerga a importância do equilíbrio entre humano, criativo e tecnologia?
Vitor – Percebo tudo intimamente interligado, afinal nós criamos tecnologias para facilitar a vida das pessoas e estamos fazendo uso da nossa capacidade criativa para desenvolver coisas inovadoras e úteis. Pensar em um equilíbrio me parece uma tarefa difícil. Mas podemos falar sobre os excessos, sendo um deles quando o uso da nossa criatividade produz tecnologias que impactam negativamente a sociedade, consequentemente ampliando ainda mais o abismo socioambiental, embarreirando a convivência entre pessoas, da vida em comunidade e impondo riscos aos nossos direitos básicos. O que faz com que esse excesso também crie tecnologias que, ao invés de incluírem pessoas, operam com foco em excluí-las. Somos pessoas inovadoras desde sempre, a criatividade é um traço da personalidade humana. Hoje a indústria criativa, que nada mais é, em resumo, o foco na criatividade capaz de gerar riqueza cultural e econômica, é por muitas vezes associada à indústria tecnológica. O ponto chave que nos possibilita pensar sobre a palavra ‘equilíbrio’, talvez seja ‘tecnologia para quê e para quem’?
FB – Vivemos um ano desafiador do ponto de vista econômico e com várias empresas ajustando operações, qual o papel da liderança em um contexto como o que vivemos?
Vitor – Considero que as lideranças têm papéis diferentes de acordo com a posição que ocupam na organização, uma vez que o nível de acesso à informação também se dá de forma diferente. No entanto, de maneira geral podemos listar dois itens compartilhados independente do nível gerencial. O primeiro é eficiência organizacional – ou seja, num cenário de desafiador quais vias ainda podem ser descobertas e como inovar para que possamos gerar os resultados desejados empregando menos recursos e garantindo eficácia. O outro é comunicação assertiva – assegurar que os(as) trabalhadores(as), a empresa como um todo, recebam informações com máxima transparência e fluxo contínuo a fim de manter expectativas alinhadas, sobretudo em relação à carreira das pessoas. E, em paralelo, minimizar impactos de crises coletivas gerada por altos níveis de estresse e ansiedade no trabalho, especialmente em cenários de demissão em massa e ajuste do quadro de pessoal.
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FB – Por fim, como você vem se reinventando como líder nos últimos anos de tua trajetória?
Vitor – O reconhecimento de ser uma líder foi importante, como mulher trans e negra acredito que a ficha de ser uma líder não cai tão rápido muitas vezes, principalmente quando isso acontece sem ter um cargo formal dentro de uma empresa que te nomeia líder. Me reinventar, passa por continuar fazendo cursos e formações que me atualizem e tirando sonhos do papel, ano passado morei em Londres, sempre sonhei fazer um intercâmbio e isso me reinventou de uma forma incrível. Me reinvento em coisas simples e do cotidiano também, como fazer tarefas e atividades que me dão ânimo de acordar para mais um dia. E certamente, em relação ao trabalho, minha reinvenção está em dedicar tempo para empresas que reconhecem o meu valor, me desafiam a ser maior do que sou hoje, potencializam o meu desenvolvimento e aceleram meu crescimento. Reinventar é sobre criar novas abordagens, todos(as) nós podemos dar rumos diferentes para as coisas.