Há um quarto de século, um novo aplicativo surgiu discretamente, aparentemente do nada, e mudou para sempre a maneira como encontramos informações.
Estou falando, é claro, da busca do Google original. Hoje, a palavra “Google” tornou-se sinônimo de “pesquisa” e seu criador – agora conhecido como Alphabet – tornou-se uma das maiores e mais poderosas corporações do planeta.
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Claro, havia motores de busca antes dele. Mas o Google foi o primeiro a popularizar a pesquisa baseada em conhecimento. E embora concorrentes tenham surgido ao longo dos anos, a maioria deles são apenas variações de um tema. Hoje, quando queremos encontrar algo, ninguém diz: “Vou fazer Bing” ou “Vou no Yahoo”.
Mas será que tudo isso está prestes a mudar?
A menos que você tenha passado os últimos meses em Plutão, provavelmente notou que o ChatGPT é o aplicativo mais hypado do momento. Se for o caso, aqui está um cartilha rápida sobre o que é e como funciona.
Quando me sentei para escrever este artigo sobre se o ChatGPT finalmente acabará com o domínio de 25 anos do Google no mercado de buscas, notícias surgiram de que a Microsoft intensificou seu mecanismo de pesquisa Bing ao adicionar a funcionalidade ChatGPT diretamente em sua interface.
Isso não surpreende, já que a Microsoft foi uma das primeiras organizações a apoiar os criadores do ChatGPT – a organização de pesquisa OpenAI – quando investiu US$ 1 bilhão (R$ 5,2 bilhões) em 2019. No início deste ano, anunciou que estava investindo mais US$ 10 bilhões (R$ 50,2 bilhões), tornando-se o maior acionista individual.
Isso claramente leva o ChatGPT – e o Bing – um passo mais próximo de se tornar o primeiro concorrente sério ao trono do Google em muito tempo. Então, o Google deveria estar preocupado? E como o rei do planejamento de busca deve responder?
Os dados por trás do ChatGPT e do Google
Primeiro, vamos dar uma olhada em como a pesquisa do Google e o ChatGPT adotam abordagens diferentes para resolver o mesmo problema – fornecendo as informações de que precisamos.
Os dois respondem a consultas pesquisando um vasto banco de dados de informações coletadas na Internet. No caso do ChatGPT, este é o conjunto de dados da ferramenta GPT-3. O conteúdo exato deste conjunto de dados não foi tornado público, mas dizem que consiste em 75 bilhões de parâmetros (pontos de dados), incluindo um rastreamento da Internet feito em 2021, todo o conteúdo da Wikipedia, grandes blocos do Reddit e dois bancos de dados de livros. Ao todo, é relatado que esse conjunto de dados de treinamento tem cerca de 45 terabytes de tamanho.
É certamente um grande conjunto de dados em comparação com outros modelos de linguagem. No entanto, é insignificante perto do conjunto de dados que o mecanismo de pesquisa do Google usa para responder às nossas consultas. O Google vem construindo seu índice desde os primórdios da internet, enviando “crawlers” que viajam para todos os cantos que ela pode alcançar. De acordo com o Google, esse índice atualmente fica em aproximadamente 100.000 terabytes (100 petabytes.)
Google ainda é o maior
No entanto, como diz o ditado, tamanho não é tudo. A principal inovação do ChatGPT – e o fator que o torna, na minha opinião, a primeira ameaça séria ao domínio do Google na economia da informação – é a maneira como ele processa esses dados para torná-los úteis para nós.
O Google basicamente retorna listas de páginas da web que seus algoritmos determinam que provavelmente contêm as informações que queremos com base em nossas consultas de pesquisa. O ChatGPT, por outro lado, usa algoritmos de geração de linguagem natural (NLG) para estruturar os resultados de forma a nos fornecer respostas diretas. Este é um grande impulso para a experiência do usuário. Qualquer pessoa que o use para pesquisa não precisa mais vasculhar páginas de resultados de pesquisa. A experiência é muito semelhante a pedir a um amigo muito experiente suas respostas e opiniões.
Por uma questão de justiça, porém, temos que mencionar que o Google também incluiu alguns recursos com tecnologia de IA – como o Painel de conhecimento – que apresenta informações extraídas de determinadas páginas da web. Essas informações são apresentadas ao lado ou integradas nos resultados de pesquisa da página da web que ela retorna. No entanto, ainda não é possível usar o estilo de conversação do ChatGPT.
É esse estilo de conversação que aprimora a experiência do usuário. Se não gostarmos da resposta que ele nos dá, ou acharmos que adotou a abordagem errada para nos ajudar a resolver quaisquer problemas que trouxemos, podemos pedir que o ChatGPT tente novamente. Ele vai se lembrar dos detalhes anteriores da nossa conversa – até que a sessão termine, pelo menos – e usar essa informação para ajustar suas respostas para nós até que seja capaz de nos dar algo que nos agrade.
O ChatGPT também não é prejudicado por anúncios – a maioria dos principais resultados que obtemos ao usar a pesquisa do Google está lá porque alguém pagou para que eles estivessem lá. No entanto, é provável que isso mude à medida que o ChatGPT for comercializado – teremos que começar a pagar pela enorme quantidade de poder computacional usado quando ele processa nossas consultas em algum momento, e a OpenAI já está testando versões pagas “premium” em várias regiões, incluindo os EUA e o Reino Unido.
No geral, como seria de esperar de uma tecnologia criada 25 anos após o lançamento do Google, o ChatGPT está anos-luz à frente em termos de experiência do usuário. No entanto, isso está longe de ser o fim da história. O Google tem uma série de vantagens que significam que ainda não está totalmente fora de questão.
As desvantagens do ChatGPT
A primeira questão a ser abordada é a precisão. O ChatGPT é uma ferramenta muito nova e é treinada em um conjunto de dados estático e não auditado. Isso, infelizmente, significa que é propenso a cometer erros e sofrer vieses – a ruína de grande parte da tecnologia de IA de hoje. Com qualquer processamento de dados, a primeira regra é “lixo que entra é igual a lixo que sai”. E é provável que sua precisão melhore à medida que continua a aprender e evoluir com mais treinamento.
Isso dá origem a outro problema, no entanto. O fato de o ChatGPT ser um tanto (leia-se: muito) opaco sobre a origem de seus dados significa que é muito difícil checá-los ou verificar suas fontes.
Esses problemas levaram o chefe da pesquisa do Google, Prabhakar Raghavan, a comparar a operação de chatbots com inteligência artificial a “alucinação”, descrevendo-os como trabalhando “de tal maneira que uma máquina fornece uma resposta convincente, mas completamente inventada”.
Embora o processamento de linguagem do Google possa parecer antiquado em comparação, pelo menos é claro sobre a origem de suas informações. Geralmente, são proprietários e operadores dos sites que ele exibe. Claro, isso não significa de forma alguma que tudo o que ele nos diz será verdadeiro e preciso – mas é muito mais simples fazer uma avaliação da validade e confiabilidade das informações.
Convergência – o futuro da pesquisa?
Obviamente, essas vantagens e desvantagens são relevantes principalmente para o ChatGPT (e, de fato, para a pesquisa do Google) como estão hoje. O ChatGPT, em particular, é uma tecnologia que está nascendo, e o que está em oferta agora oferece apenas um vislumbre do que ele – e plataformas semelhantes – serão capazes em um futuro próximo.
Uma coisa é certa, porém, é que a Alphabet não vai simplesmente admitir a derrota. A comercialização de sua tecnologia de busca desempenhou um papel importante em torná-la uma das empresas mais ricas do mundo, e dessa vaca leiteira ela não vai querer abrir mão tão cedo.
Então, quase simultaneamente com a Microsoft anunciando que a funcionalidade ChatGPT será adicionada ao Bing, a Alphabet disse que seu próprio modelo de linguagem grande, conhecido como Bard, será usado para melhorar o desempenho da pesquisa Google.
No entanto, as coisas não começaram da melhor maneira – com erros cometidos pela máquina em vídeos promocionais, que acabaram reduzindo o valor da empresa em $ 100 bilhões.
Mas se estamos sendo generosos o suficiente para atribuir os erros do ChatGPT a “problemas iniciais”, temos que conceder ao Google o mesmo benefício da dúvida.
É mais provável que veremos ambas as tecnologias – grandes interfaces de bate-papo baseadas em modelo de linguagem e mecanismos de pesquisa – se unirem para criar tecnologias híbridas, que esperamos nos fornecer o melhor dos dois mundos.
Tanto o Google quanto a Microsoft acreditam claramente que o próximo estágio na evolução da tecnologia da informação se concentrará nessa convergência de busca e linguagem. E ambos entendem que o catalisador para isso será a IA. Mais um sinal de que a era das máquinas “pensantes” já está transformando todos os aspectos da sociedade de maneiras que pareceriam inimagináveis apenas alguns anos atrás.
(Texto original publicado pela Forbes USA. Traduzido por Fabiana Corrêa)