Por mais de três meses, os roteiristas travaram uma batalha com os estúdios de Hollywood por salários justos e regulamentação do uso de IA (inteligência artificial) nas produções. Em julho, eles se juntaram ao Sindicato dos Atores, o SAG-AFTRA, por causa de preocupações semelhantes.
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A greve dupla tem sido, em parte, sobre impedir que os estúdios substituam o talento criativo humano pela IA que está sendo treinada para esse tipo de produção. Os escritores não querem que ferramentas dessa nova tecnologia sejam usadas para gerar material literário a partir de conteúdo existente, enquanto os atores não aceitam que réplicas digitais de suas imagens e performances sejam usadas para criar e editar cenas sem que haja consentimento ou compensação.
Mas isso não impediu a Netflix e a Disney de contratar talentos de IA. Uma lista de empregos no site de carreiras da Netflix recentemente tornou-se viral por buscar sua primeira contratação de gerenciamento de produto para dar suporte à sua plataforma ML. O trabalho paga de US$ 300.000 a US$ 900.000 por ano, bem mais do que muitos de seus atores em greve. A Disney também vem reforçando suas fileiras de IA, de acordo com a Reuters.
Criticado em julho por afirmar que os sindicatos estavam sendo irrealistas em suas demandas de greve, o CEO da Disney, Bob Iger, reforçou na teleconferência de resultados da empresa, realizada na última quarta-feira (9), seu compromisso de encontrar rapidamente soluções para o impasse.
Mas, com o passar do tempo, o talento está morrendo de fome. Para pagar as contas, muitos recorreram à plataforma de vídeos personalizados Cameo, como fizeram durante a pandemia, quando as produções foram paralisadas devido à quarentena. Percorrer as 156 páginas do catálogo on-line mostra atores como Lindsay Lohan cobrando US$ 400 para enviar uma saudação, Elijah Wood cobrando US$ 340 e Freddie Prinze Jr. cobrando US$ 150. Essa tem sido uma maneira de ficar conectado com sua base de fãs enquanto pagam as contas.
A estrela de “Pose”, Billy Porter, disse ao “Evening Standard” que teve que vender sua casa por causa da greve. “Eu deveria estar em um novo filme e em um novo programa de televisão a partir de setembro. Nada disso está acontecendo”, afirmou. “Ouvir Bob Iger dizer que nossas demandas por um salário digno não são realistas? Enquanto ele ganha US$ 78.000 por dia? Não tenho palavras para isso”, completou Porter.
Preparando-se para a mudança
Mas como impedir que os estúdios usem uma tecnologia que em breve será onipresente?
O fundador da Oculus e da Anduril, Palmer Luckey, postou esse sentimento em seu feed do Facebook: “Nenhum estúdio são poderia concordar em manter permanentemente a IA fora de seu processo de escrita e edição, ou qualquer outra parte da produção. Seria assinar sua própria sentença de morte, os investidores fugiriam imediatamente para estúdios e projetos habilitados para IA que produziriam um trabalho melhor a um custo muito menor”.
Com as ferramentas de IA surgindo e evoluindo, desde a criação de seus próprios episódios de South Park até o Google, possivelmente em parceria com o Universal Music Group em um gerador de música de IA com faixas licenciadas, todos os dias são reveladas novas possibilidades para os criadores levarem sua produção para o próximo nível.
“Há muito medo no mundo sobre isso agora”, disse-me o cofundador da FPV Ventures, Wesley Chan, enquanto discutíamos o próximo deslocamento de emprego da IA.
Um dos primeiros funcionários do Google e fundador do Google Voice, Google Analytics e Google Ventures, Chan passou as últimas duas décadas financiando plataformas como o Canva, que agora fazem parte do boom do design de IA. Ele me pediu para ficar atento à confusão que se desenrolava em Hollywood. “A história não se repete, mas rima muito”, disse. “Há um avanço tecnológico, apesar de todas as desvantagens negativas, que tende a ser imparável”, afirmou.
*Martine Paris é repórter de tecnologia.
(traduzido por Andressa Barbosa)