As recentes ondas de calor e desastres naturais que o Brasil enfrentou em 2023 ligaram um alerta: os efeitos das mudanças climáticas estão chegando mais rápido do que o previsto. Enquanto líderes mundiais ainda encontram dificuldades para chegar a consensos em reuniões como a COP 28, nos Emirados Árabes, empresas e organizações buscam soluções para mitigar seus impactos e avançar em metas de sustentabilidade. Neste cenário, a inteligência artificial (IA) pode despontar como uma grande aliada, gerando insights a partir de um grande volume de dados, mas a sua implementação necessita ser ecologicamente sustentável.
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A Agência Internacional de Energia destacou que os data centers são atualmente responsáveis pelo consumo de 1% da energia elétrica global. Isto representa um grande desafio ambiental para a indústria tecnológica e para os seus clientes, que precisam prestar contas aos consumidores, que são cada vez mais exigentes a partir de uma perspectiva de sustentabilidade. De acordo com um relatório do Gartner® de maio de 2023 “a maioria dos CEOs (94%) pretendia aumentar ou manter os investimentos em sustentabilidade e ESG no ano fiscal de 2023 em comparação com 2022”.
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Eis que a IA Generativa entra em cena, mudando o foco para essa tecnologia poderosa e ascendente. Dados da pesquisa Dell GenAI Pulse Survey mostram que 76% dos decisores de TI planejam aumentar os seus orçamentos para apoiar o uso da GenAI e 78% estão entusiasmados com a forma como a IA pode beneficiar as suas organizações. Mas como conciliar compromissos ambientais com uma tecnologia de computação intensiva? À primeira vista, estas demandas podem parecer contraditórias, mas este cenário demanda um olhar mais aprofundado e ponderado.
IA e o consumo de energia nos data centers: é possível encontrar um equilíbrio
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que sustentabilidade e transformação digital não são uma decisão “ou/ou”. Na verdade, o progresso tecnológico é um pré-requisito para as empresas que procuram cumprir metas climáticas ambiciosas. As melhores inovações não só aumentam a capacidade tecnológica, como também permitem otimizar os dados – e isso ao mesmo tempo em que atuam na direção de futuros mais eficientes em termos energéticos e sustentáveis.
Para gerir a crescente pegada de carbono da IA, os operadores de data centers devem adotar práticas e investimentos sustentáveis. De forma positiva, o consumo de energia nessas instalações permaneceu estável ao longo da última década, mesmo com o aumento das cargas de trabalho e do tráfego tecnológico. No entanto, um maior controle sobre o consumo dessas instalações deve ser prioridade para compensar o impacto ambiental da IA. Felizmente, existem caminhos para isso:
- Modernização da infraestrutura: É possível minimizar a pegada de carbono da IA por meio de servidores e dispositivos de armazenamento modernos e eficientes em termos energéticos. Além disso, deve-se buscar métodos de resfriamento ambientalmente responsáveis e fontes de energias renováveis para alimentar os data centers.
- IAs específicas para cada necessidade: Embora algumas organizações se beneficiem do uso de large language models (LLMs) generalistas, grande parte das companhias necessitariam de implementações de IA específicas para um domínio ou empresa. Ou seja, dimensionar corretamente as necessidades de computação pode oferecer uma maior eficiência no data center. E modelos flexíveis de pagamentos de acordo com o uso também podem ajudar as organizações a economizar nos custos do data center, ao mesmo tempo em que apoiam uma infraestrutura de TI sustentável.
- Reciclagem de equipamentos antigos: É essencial aposentar de forma responsável o hardware ineficiente para otimizar o desempenho e o consumo de energia do data center, reduzindo o lixo eletrônico e mantendo os materiais reciclados em uso por mais tempo.
Soluções de IA para enfrentar desafios ambientais
Além de buscar reduzir o impacto de uma tecnologia intensiva como a IA, devemos também observar os aspectos mais positivos e animadores desta tecnologia. Em primeiro lugar, a IA pode ser uma grande aliada para identificar e analisar grandes quantidades de dados para fornecer ideias e apontar caminhos para enfrentar alguns dos maiores desafios do planeta, como as mudanças climáticas, a poluição e o desmatamento.
A IA pode ser utilizada ainda para otimizar redes energéticas, conceber sistemas de transporte mais eficientes e desenvolver novas formas de capturar e armazenar dióxido de carbono. A Universidade de Cambridge, por exemplo, já possibilita pesquisas avançadas e sustentáveis por meio de IA ao fornecer supercomputadores poderosos e com baixo consumo de energia para cientistas e organizações. Com isso, a instituição de ensino promove avanços em inovação que dependem de IA, permitindo o processamento de enormes volumes de dados com rapidez e eficiência energética.
Nas operações do data center, a IA pode ser usada para melhorar o monitoramento e o posicionamento da carga de trabalho para otimizar a eficiência e reduzir os custos de energia. De acordo com o IDC, a prioridade número um de sustentabilidade para o planejamento e aquisição de TI entre os tomadores de decisão é a redução do consumo de energia dos centros de dados. Na intersecção entre a sustentabilidade e as prioridades empresariais, a IA pode apoiar a gestão ambiental ao mesmo tempo que impulsiona a transformação digital.
Em resumo, enquanto o mundo ainda busca respostas para um futuro de sustentabilidade, a tecnologia de inteligência artificial desponta com grandes desafios, mas potenciais ainda maiores. Novamente, o caminho a seguir não se trata de uma escolha pelo progresso tecnológico em detrimento da preservação ambiental. Pelo contrário, com a mitigação dos impactos da demanda computacional da IA, conseguiremos aproveitar todo o seu potencial para nos ajudar a encontrar respostas à altura dos desafios do Planeta.
*Por Luis Gonçalves, presidente da Dell Technologies para América Latina