No dia 12 de junho de 2014, Juliano Pinto, jovem brasileiro paraplégico desde 2005, deu o chute inaugural da Copa do Mundo de Futebol realizada no Brasil. A demonstração, vista por mais de 1,2 bilhão de pessoas, aconteceu graças ao uso de um exoesqueleto robótico controlado pela atividade elétrica do cérebro — método desenvolvido por meio de uma interface cérebro-máquina não invasiva, tecnologia criada pelo cientista Miguel Nicolelis.
“Cada vez que eu vejo o chute inicial, eu me lembro do esforço científico, tecnológico e humano por trás dele. Para mim, esse momento foi como o nosso pouso na Lua. No futuro, milhões de pessoas serão beneficiadas por essa demonstração”, comenta Nicolelis sobre o evento.
Na ocasião, o Projeto Andar de Novo, financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), atendeu Juliano e outros sete pacientes com lesões medulares completas. Todos reaprenderam a andar usando o exoesqueleto durante o período de treinamento, que aconteceu nos seis meses que antecederam o campeonato. “Eu vou levar a experiência dessa iniciativa para o resto da vida, acho difícil algo conseguir superar”, diz o neurocientista.
Além dos resultados momentâneos, uma análise clínica detalhada feita nos pacientes após a experiência revelou que todos alcançaram uma recuperação neurológica parcial e deixaram de paraplégicos completos e passaram a ser paraplégicos parciais, de acordo com a escala ASIA. Alguns, por exemplo, voltaram a caminhar de forma autônoma com auxílio de andadores, sentir a força dos próprios músculos e controlar a bexiga.
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“O Projeto Andar de Novo recebeu vários prêmios internacionais e estabeleceu parcerias com alguns dos maiores hospitais da Europa e Ásia. Isso resultou no estabelecimento de novos laboratórios e centros de neuroreabilitação”, conta Nicolelis.
10 anos depois
O sucesso do chute inicial foi o motor para um novo projeto do neurocientista, o “Treat 1 Billion”, liderado pelo Instituto Nicolelis de Estudos Avançados do Cérebro em parceria com instituições de pesquisa globais. “O objetivo do Treat 1 Billion é estabelecer hubs de neurotech pelo mundo, inclusive no Brasil, e disseminar tecnologias baseadas na interface cérebro-máquina para o tratamento de doenças neurológicas crônicas, como paraplegia, depressão, epilepsia, Parkinson, entre outras”, explica.
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O Professor Emérito da Universidade de Duke finaliza a entrevista com uma visão para os próximos anos: “No futuro, o chute inicial da Copa do Mundo de 2014 será lembrado como algo que mudou a história da neurociência. Apesar de ter sido uma demonstração curta, ela repercutiu no mundo inteiro como uma grande mensagem de esperança na capacidade da ciência em resolver grandes problemas da humanidade.”