No quente verão catalão de meados de julho, durante minha visita às instalações da Schneider Electric em Barcelona, fiquei sabendo pela boca de Maurizio Frizziero, executivo italiano da multinacional francesa, que não só os humanos sofrem com o calor nestes tempos de aquecimento global. Os dados armazenados em seus poderosos data centers modulares ali projetados e montados também “suam”.
Com mais de duas décadas dedicadas ao setor de refrigeração de TI, o engenheiro eletrônico é uma autoridade no assunto. Na Schneider desde 2010 e desde 2020 no comando da área de inovação e estratégia para refrigeração da companhia, ele falou sobre métodos de resfriamento, consumo de água e sustentabilidade, temas que normalmente não são imediatamente conectados com a evolução tecnológica pelo público em geral – eu, pelo menos, nunca havia feito essa relação.
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“O crescimento de demanda por data centers foi muito grande nos últimos anos, e tudo indica que essa tendência vai continuar globalmente, ainda mais forte em função da popularização da inteligência artificial”, explicou ele à Forbes. Os servidores estão cada vez mais poderosos – e geram cada vez mais calor.
O sistema de refrigeração mais eficiente, diz ele, é o que usa água (liquid cooling) – “uma quantidade enorme de água” que exige instalações eventualmente maiores que o próprio data center. Por isso, algumas regiões do planeta ou mesmo do Brasil onde a oferta de água é menor constituem um desafio extra aos projetistas. “Alguns estados dos EUA, como a Califórnia, e alguns países da Europa, como a Alemanha, estão definindo os padrões mínimos de eficiência para os centros de dados, e isso inclui os dispositivos ligados ao aquecimento dos data centers”, diz Maurizio. “Ao mesmo tempo, nós da Schneider tentamos melhorar a eficiência do nosso equipamento, com a missão de evangelizar as pessoas sobre a importância de ter uma máquina eficiente inclusive do ponto de vista da refrigeração.”
Fez parte da programação organizada pela empresa uma visita à basílica da Sagrada Família, patrimônio mundial da UNESCO que se tornou um monumental complexo religioso, arquitetônico, artístico e turístico. A Schneider Electric, por sinal, foi quem projetou e fabricou a infraestrutura de data center pronta para uso do complexo – se a igreja está em construção desde 1882 (e não deve ficar pronta antes de 2026), esse data center foi entregue no tempo recorde de 16 semanas, segundo a empresa anfitriã, contendo “TI, racks, UPS, distribuição de energia, resfriamento de precisão, gerenciamento ambiental e sistema de supressão de incêndio”. Além disso, a empresa informa que sua estrutura móvel pode ser transferida para um local diferente conforme as demandas de construção.
Devido ao intenso fluxo diário de visitantes, o novo data center inclui o gerenciamento de ingressos, as operações de varejo e a vigilância por vídeo, entre várias outras missões. E foi instalado no local seguindo o mesmo princípio das “eternas” obras de engenharia da Sagrada Família, com o mínimo de interferência e risco. No dia dessa visita, por sinal, com a sensação térmica perto dos 40 graus, me identifiquei com os “dados quentes” e saí à procura de meu próprio liquid cooling.