Qual é o cheiro de um festival? Para algumas pessoas — talvez para a maioria —, a resposta seria “suor, bebidas alcoólicas e fumaça”, mas para Verônica Kato, perfumista à frente da Natura há 18 anos, um festival tem cheiro de “liberdade”.
“Existe uma mistura de cheiros em festivais. Quando fomos ao Coala Festival para capturar as moléculas olfativas, passamos pelas pessoas sentadas na grama, pelas bebidas energéticas, pelos perfumes que estavam usando, tudo para traduzir essa sensação de liberdade, comunhão e euforia”, conta Verônica, única perfumista de uma empresa de cosméticos da América Latina.
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Para criar os novos perfumes da linha Humor, idealizados especialmente para o Rock in Rio 2024, Verônica utilizou uma ferramenta de captação de moléculas olfativas chamada “Headspace Outdoor”, exclusiva da Natura. “Funciona com um pequeno cano atrelado à tecnologia de headspace tradicional, que captura as moléculas e as traduz em um cromatógrafo, assim, podemos identificar quais óleos essenciais correspondem aos odores captados”, explica Kato.
Apaixonada por aromas e plantas desde a infância, Verônica escolheu o curso de Farmácia para aprender mais sobre botânica. “Consegui um estágio como assistente de um perfumista na Dragoco. Depois, me formei na Escola de Perfumaria e tive a oportunidade de fazer estágios na França e na Inglaterra.”
No mundo, existem cerca de 1.000 perfumistas, de acordo com Renata Ashcar, autora de “Brasilessencia: A cultura do Perfume”. Para entrar no seleto grupo, além do ensino superior em Química ou Farmácia, é preciso reconhecer mais de 2.000 elementos por meio do olfato. “O perfumista está sempre atento, anotando os cheiros que sente em um ambiente em um pedaço de papel para depois compor uma nova fragrância”, diz Verônica.
Por incrível que pareça, cheiros “ruins” também compõem a receita de um perfume. Então, quem respondeu à pergunta inicial com “suor, bebida e fumaça”, não errou completamente. A perfumista da Natura comenta que “um perfume não é feito só de ingredientes agradáveis, eles possuem toques de cheiros animalescos e mundanos, justamente para despertar no inconsciente uma identificação instintiva”.
Evidentemente, os aromas desagradáveis não são sentidos pelo público. “O consumidor só sente a parte bonita e artística, mas a parte visceral está lá.”
Verônica Kato finaliza sua entrevista à Forbes Brasil dizendo que ser perfumista é gratificante: “Eu represento um time enorme, e posso dizer que nosso trabalho é levar bem-estar e transportar as pessoas para memórias felizes. Isso é muito gratificante.”