Martin Russell, professor de história da Richardson High School, no Texas, já deu inúmeras aulas sobre a Era Dourada. Porém, depois que oito escolas de seu distrito implementaram uma nova política de proibição de smartphones, ficou mais fácil explicar a economia dos monopólios e as histórias dos “barões ladrões”, como Rockefeller e Vanderbilt.
Antes das aulas começarem, 2.800 alunos entram no prédio com as mochilas abertas e os celulares nas mãos. Funcionários posicionados nas cinco entradas verificam se os aparelhos estão desligados e observam os estudantes colocarem os dispositivos em bolsas adquiridas pelo distrito e distribuídas aos alunos gratuitamente no segundo dia de aula. Eles então fecham as bolsas, que ficam lacradas e inacessíveis pelo resto do dia. Os alunos mantêm as bolsas nas mochilas até a saída, quando ímãs especiais da startup Yondr, posicionados nos portões, permitem que eles desbloqueiem as bolsas e acessem os celulares novamente.
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“As coisas mudaram da água para o vinho”, disse Russell à Forbes no final de agosto, durante a segunda semana de aulas. “Os alunos voltaram a se engajar. Eles fazem perguntas. Não preciso repetir as coisas várias vezes, como fazia quando tinham os celulares. Eles trabalham em equipe ao invés de tentar escapar da sala de aula como antes.”
O Distrito Escolar Independente de Richardson — onde 12.000 alunos do ensino fundamental e médio estão usando as bolsas atualmente — é apenas um entre os muitos que se uniram para tirar os smartphones não apenas das salas de aula, mas também dos corredores, refeitórios, vestiários e outras áreas comuns, locais igualmente importantes para o aprendizado e desenvolvimento social e emocional de adolescentes, segundo educadores. A tecnologia mais popular até o momento é uma bolsa magnética bloqueável, que custa US$ 30 e foi desenvolvida pela Yondr, startup lançada em São Francisco em 2014, época em que a ideia de espaços sem celular parecia “impossível”, diz o fundador e CEO Graham Dugoni.
“Muitas pessoas veem o problema dos celulares nas escolas ou na sociedade como algo que não tem solução”, conta Dugoni à Forbes. “Nossa abordagem é mostrar que isso pode ser feito.”
O número de escolas, distritos e estados que restringem ou proíbem o uso de celulares pelos alunos cresce à medida que as consequências, principalmente das redes sociais à saúde mental de crianças e adolescentes, dominam as conversas nos Estados Unidos.
De acordo com dados do Pew Research, adolescentes relataram usar redes sociais “quase constantemente” em 2023, o estudo também mostrou que a maioria dos professores do ensino médio norte-americano afirma que a distração causada pelos celulares em sala de aula é um “problema sério”. Além disso, há preocupações com o cyberbullying, incluindo a criação de nudes falsos gerados por IA e questões de privacidade, com alunos temendo serem filmados a qualquer momento.
“A melhor maneira de ensinar os jovens a navegar no mundo digital de forma segura é oferecer a eles algumas horas por dia sem esse contato, para que eles possam entender a diferença”, disse Dugoni. “Essa sempre foi nossa abordagem.”
O movimento dos estados norte-americanos para banir os celulares das escolas
As regras distritais ou leis estaduais que restringem o uso de smartphones (e às vezes de dispositivos pessoais como notebooks e fones de ouvido) nas escolas estão se expandindo rapidamente. Flórida, Louisiana, Indiana, Carolina do Sul, Minnesota, Ohio e Virgínia aprovaram medidas semelhantes, que devem entrar em vigor no próximo ano.
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, e a governadora de Nova York, Kathy Hochul, estão trabalhando por restrições ou proibições em todo o estado (supostamente, a Yondr gastou US$ 50 mil para ganhar influência entre autoridades de Nova York). O governador de Connecticut, Ned Lamont, está avaliando planos semelhantes — ele recomendou as bolsas da Yondr como solução.
A Pensilvânia reservou pelo menos US$ 100 mil para cada distrito gastar em bolsas para celulares. Em Delaware, os legisladores aprovaram US$ 250 mil para testar as bolsas nas escolas públicas de ensino fundamental e médio.
A jornada da Yondr
Antes de fundar a Yondr em 2014, Dugoni trabalhou em consultorias de investimento em Atlanta e em sua cidade natal, Portland, Oregon, além de ter lançado uma startup que fracassou em São Francisco.
O empreendedor criou a Yondr com apenas US$ 7 mil, indo de escola em escola na Bay Area para vender as bolsas. Hoje, com 70 funcionários em tempo integral, a Yondr fechou contratos lucrativos com distritos e estados inteiros.
Isso inclui um contrato de quase US$ 400 mil com o Distrito Escolar do Condado de DeKalb, na Geórgia; contratos de cerca de US$ 300 mil com os distritos de Fort Wayne, em Indiana, e Richardson, no Texas; um contrato de quase US$ 250 mil com o Distrito Escolar Público de Peoria, em Illinois; um contrato de US$ 50 mil com o Distrito Escolar de San Mateo-Foster City, na Califórnia; e US$ 36 mil até o momento para a Bethlehem Central High School, no interior de Nova York, de acordo com as propostas checadas pela Forbes.
Os contratos variam de acordo com o número de alunos (de cerca de US$ 15 a US$ 30 por pessoa), mas geralmente incluem bolsas para os alunos, ímãs para desbloqueá-las, equipamentos para armazenamento e suporte presencial para implementar o sistema. Os distritos já gastaram milhões com a empresa.
Dugoni disse à Forbes que a Yondr é lucrativa, com clientes em mais de duas dezenas de países e em todos os 50 estados dos EUA. A startup tem investidores privados, mas Dugoni não quis revelar seus nomes, receitas atuais e avaliação da empresa.
Nos primeiros anos, 70% da receita da Yondr vinha de clientes do setor de entretenimento (incluindo Dave Chappelle e Alicia Keys), que usavam as bolsas da em seus shows, com os outros 30% vindo de escolas. “Agora, isso se inverteu completamente — o principal foco da empresa é o setor educacional”, afirma Dugoni. No futuro, espera-se ver as bolsas da Yondr em tribunais e creches, os segmentos que mais cresceram depois das escolas e apresentações ao vivo.
Atualmente, o maior cliente escolar da Yondr é Nova York, onde as bolsas são utilizadas em mais de um terço das escolas secundárias públicas da cidade, segundo Dugoni. Ele observou que, além de estar presente em escolas de ensino fundamental e médio em todo o país, a Yondr “infelizmente” está começando a trabalhar com um número crescente de escolas primárias. Mais de 1 milhão de alunos usaram as bolsas da Yondr no ano passado, e a empresa espera que esse número chegue a 2 milhões até o final de 2024.
A Yondr começou a ganhar popularidade nas escolas após a pandemia de 2020. “Quando os alunos voltaram às salas de aula e perceberam o impacto de passar de oito a 10 horas por dia em frente a uma tela, os pais viram de perto o que seus filhos estavam enfrentando, houve uma mudança radical. As pessoas começaram a entender que, talvez, especialmente em um ambiente educacional, o smartphone não fosse necessariamente uma ferramenta benéfica para o aprendizado, mas mais uma distração”, explica Dugoni à Forbes.
No entanto, a expansão nas escolas não foi isenta de desafios. Como a primeira geração a crescer com smartphones e redes sociais, os alunos organizaram petições e até protestos contra as novas políticas, e em alguns casos os próprios pais se opuseram à proposta. Escolas que adotaram abordagens parciais, como permitir o uso dos celulares fora da sala de aula, descobriram que essas medidas são menos eficazes e difíceis de implementar. E vídeos que mostram maneiras de abrir as bolsas da Yondr sem os ímãs designados foram vistos no TikTok e no YouTube centenas de milhares de vezes (a Yondr não respondeu a perguntas sobre como lida com essas soluções alternativas).
O que ajudou a Yondr a superar esses obstáculos e prosperar nas escolas é o fato de a empresa não oferecer apenas as bolsas, mas um programa educacional mais amplo — composto em grande parte por ex-educadores — que auxilia as escolas a criarem políticas e procedimentos, além de fornecer treinamentos e suporte contínuo para garantir uma transição bem-sucedida ao uso das bolsas da Yondr.