Robôs humanoides, aqueles que imitam a forma e expressões humanas, fazem parte do imaginário há muitos anos. O clássico “O Mágico de Oz”, do escritor americano Lyman Frank Baum, já apresentava ao mundo a busca do Gigante de Lata por um coração. Nos anos que seguiram, foram centenas de tentativas de materializar aquilo que seria um robô perfeito.
Na última semana, durante um evento na Califórnia, batizado de “We Robot”, Elon Musk apresentou ao mundo alguns avanços do robô Optimus, desenvolvido pela Tesla. A primeira versão do Optimus foi apresentada em setembro de 2022, conhecida inicialmente como Tesla Bot e, desde então, lida com o desafio de melhorar suas capacidades de integração com a inteligência artificial. Em junho, Musk chegou a afirmar que o Optimus poderia levar a Tesla a valer US$ 25 trilhões.
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Controlados por IA ou por controle remoto?
O novo Optimus, apresentado semana passada, teve alguns vídeos que repecurtiram nas redes e várias discussões sobre sua capacidade efetiva de cantar, dançar e conversar, ou apenas mais um device controlado por funcionários da empresa. De acordo com o próprio Musk, em 2025, os robôs farão parte do dia a dia da Tesla e, a partir de 2026, estarão em outras companhias.
A desconfiança sobre a efetividade do Optimus surge a partir de uma matéria da Forbes USA, publicada em janeiro deste ano, analisando um vídeo em que Musk revela, acidentalmente, alguns truques para fazer o robô parecer mais avançado do que realmente é, o que inclui edição de vídeo, movimentos pré-programados e uma série de outros itens ilusórios.
O que há de diferente no Optimus?
Na história recente da robótica, a robô humanoide Sophia, que ficou conhecida por participar de dezenas de eventos e até séries, também bebia da mesma fonte: ilusão para parecer mais inovadora. Mas, na prática, o que há de diferente no Optimus? De acordo com Gil Giardelli, Especialista em Futuros e Cofundador da 5 ERA, empresa especializada em várias tecnologias emergentes, dentre elas, robótica, explica que o foco do Optimus é revolucionar o trabalho físico.
O Optimus possui um custo inicial estimado entre US$ 20 mil e US$ 30 mil (R$ 110 mil e R$ 1678mil). “Com cerca de 1,73 metros de altura e um peso de 57 kg, com movimentos ágeis, é capaz de levantar até 30 kg, caminhar a uma velocidade de até 8 km/h, e possui uma série de articulações que permitem movimentos precisos, reconhecimento de objetos e interação com o ambiente”, descreve Gil pontuando cinco grandes diferenciais desse tipo de robô.
O primeiro é a integração com inteligência artificial dos veículos Tesla, a versatilidade em operar em ambientes industriais e domésticos, eficiência energética e interação com humanos. “O Optimus pode realizar tarefas autônomas, mas também está preparado para receber comandos diretos de humanos e responder de maneira inteligente a estímulos do ambiente”, diz Gil. E, por fim, o design humanoide funcional.
Inovação ou mais um show de ficção?
O bilionário Elon Musk apresentou o novo Optimus em um show com direito a outros novos produtos e muita repercussão. De acordo com Giselle Santos, consultora de inovação, vale lembrar que é importante ter um olhar crítico sobre o que de fato existe de avanço na tecnologia. Em 2021, Musk apresentou, em um de seus eventos, uma pessoa vestida de Optimus como forma de dar uma ideia do que o robô poderia fazer, no entanto, a ação foi duramente criticada.
“Elon não daria esse mole de colocar uma pessoa fantasiada novamente. Houve sim uma evolução, tanto que podemos agora dizer que já temos um robô de verdade. No entanto, a questão da autonomia ainda levanta dúvidas. É improvável que o Optimus seja totalmente autônomo neste estágio. Houve progresso na agilidade e no refinamento do design, mas ainda é preciso muita cautela para cravar que a autonomia completa foi atingida. Esses robôs dependem de bastante suporte humano para funcionar, como ficou evidente com os ‘minders’ no evento, controlando remotamente o Optimus”.
Ainda de acordo com Giselle, é importante ampliar o entendimento popular sobre robôs além do estereótipo do robô faz-tudo. “A robótica já está transformando áreas como a medicina, e esses exemplos precisam ser mais amplamente divulgados para que a gente possa ter uma visão mais informada e realista do potencial da robótica Segundo, por mais que eu tenha minhas ressalvas com Musk, é fato que, ao errar tanto, ele acaba progredindo. E esse é o coração da inovação: aprender com os erros. Quem sabe, com essa persistência, ele realmente traga algo que mude o jogo de vez.”
O medo dos robôs humanoides
Recentemente, em participação da série especial Mentes da Tecnologia, da Forbes Brasil, a Cientista de Dados, Engenheira de Prompt e Especialista em IA Zaika dos Santos abordou a relação entre os humanoides e o imaginário das pessoas. “Eu, sempre quando começo a falar sobre IA, começo pelo mais grave pensamento das pessoas: os robôs humanoides. Os robôs humanoides têm uma relação direto com arte: são esculturas. E quando se fundem com IA se tornam algo ainda mais interessante. O medo sempre esteve associado a novas tecnologias. Uma questão de evolução e multigeracional que é muito natural. Até que as pessoas consigam se entender com a tecnologia, sempre que ela surge existe sempre um local de medo atrelado ao desconhecido. Como lidar com o novo? Com o desconhecido e com os conceitos de inovação? Essas são perguntas que sempre fazemos como especialistas. E inteligência artificial também traz esse medo.”