Em 2016, durante a faculdade de engenharia, quatro colegas se uniram para participar de um edital de incentivo à “inovação aberta”, oferecido pela Renault. “Entre as 440 ideias, enviadas de todo o Brasil, apenas três seriam escolhidas para receber um treinamento em Curitiba e um pequeno aporte financeiro. Fomos selecionados e, a partir daí, decidimos que iríamos empreender”, conta Vitor Reis, co-fundador e COO da Infleet.
A startup, fundada oficialmente em meados de 2017, também foi premiada pela última edição do programa Black Founders Fund, vertical do Google for Startups para o fomento do afroempreendedorismo brasileiro. “Desde 2020, o fundo de R$16 milhões já beneficiou 66 startups de 14 estados. As empresas apoiadas captaram mais de R$159 milhões em investimentos adicionais”, afirma André Barrence, diretor do Google for Startups para América Latina.
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A Infleet atua no mercado de gestão de frotas. A plataforma oferecida pela empresa utiliza soluções tecnológicas, como telemetria e inteligência artificial, para a administração de demandas essenciais dos veículos — desde o abastecimento e a manutenção até a saúde dos motoristas.
“A maior parte do PIB brasileiro trafega pelas estradas. Ao mesmo tempo, percebemos uma lacuna de ofertas de tecnologia e inovação no setor. Então, decidimos entregar novas ferramentas e integrar as principais soluções disponíveis em um só lugar”, diz Reis, formado em engenharia de controle e automação de processos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Em 2021, a startup recebeu o primeiro investimento, R$ 2,6 milhões, levantados em uma rodada pré-seed. Nos anos seguintes, a Infleet recebeu um total de R$ 18 milhões em aportes.
“Com sede na Bahia, a startup que otimiza a gestão de frotas teve uma participação marcada por colaboração e resultados excepcionais. Com uma equipe composta por 56% de pessoas negras e 53% de mulheres, a Infleet alcançou uma estimativa de crescimento de 137% entre 2023 e 2024”, explica Henry Couto, gerente de programas do Google for Startups para América Latina, sobre a escolha da LogTech.
Apesar da contribuição financeira, a Big Tech oferece outros recursos valiosos para as empresas selecionadas. “Evidentemente, o dinheiro é fundamental, mas o programa vai muito além. O Google oferece mentorias com os melhores profissionais do mercado. Eu tenho a percepção que é quase uma pós-graduação”, relata Vitor sobre sua participação.
Afroempreendedorismo no Brasil
Um dos principais desafios para o afroempreendedorismo no Brasil é o acesso a recursos financeiros. Em 2021, uma pesquisa feita pelo SEBRAE, em parceria com a FGV, revelou que 47% dos empreendedores negros que buscaram crédito durante a pandemia tiveram seus pedidos negados.
Na última semana, o Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe, o Instituto Feira Preta e o Plano CDE publicaram um estudo com três mil afroempreendedores do Brasil, Argentina, Colômbia, Peru e Panamá. Mais uma vez, 44% dos entrevistados não conseguiram acesso a capital para tocar seus negócios.
“Ouvi de professores que seria impossível estudar em uma universidade federal e trabalhar ao mesmo tempo. Mas eu precisava. Por isso, para a população pobre, que às vezes é sinônimo de população preta, é inacessível cursar o ensino superior. Com o empreendedorismo não é diferente”, comenta Vitor Reis.
O Black Founders Fund foi pensado para atenuar essa desigualdade. “Ao longo do tempo, nós vimos que o número de fundadores de startups que se autodeclaravam negros e negras era baixo”, revela André Barrence. “Também descobrimos que as rodadas de investimento captadas por fundadores negros da nossa comunidade eram, em média, 69 vezes menores.”
Para Vitor, ser um fundador negro de uma startup em ascensão é uma “grande responsabilidade”. “O discurso mais fácil é o de que contratar pessoas negras ou mulheres em tecnologia é difícil. Porém, quebrar o ciclo exige intencionalidade”, finaliza.