Uma campanha quer arrecadar US$4 milhões para tornar a mídia social imune à aquisições bilionárias. A Free Our Feeds, que inclui o suporte da Mozilla Foundation, está trabalhando com a Bluesky para garantir que o cenário de mídia social de código aberto seja robusto — mesmo que isso signifique mais competição para a própria Bluesky.
A Bluesky, rival da X, que teve um aumento impressionante desde a eleição dos EUA, nunca deveria ser apenas uma alternativa à rede social anteriormente conhecida como Twitter. Ela deveria inaugurar um novo modelo para a própria mídia social, construída em tecnologia de código aberto que permitisse aos usuários controlar seus próprios dados e compartilhá-los livremente em diferentes sites.
Uma nova campanha chamada Free Our Feeds espera dar a essa visão uma chance de lutar. Na segunda-feira, os organizadores disseram que estão trabalhando em estreita colaboração com a Bluesky para construir uma fundação independente e sem fins lucrativos dedicada a expandir o uso da infraestrutura de código aberto na qual o aplicativo foi construído.
A campanha foi organizada por um punhado de organizações focadas em tecnologia de interesse público, incluindo o Better Information Project, a Worker Agency e a Social Web Foundation. A ideia é ajudar a Bluesky a seguir em frente com sua missão original: foi inicialmente concebida pelo cofundador do Twitter Jack Dorsey em 2019 como um projeto de pesquisa voltado para a descentralização da mídia social.
A empresa contratou o atual CEO da Bluesky, Jay Graber, para construir um protocolo, uma linguagem compartilhada que os computadores podem usar para se comunicar, especificamente para tornar o mundo fechado da mídia social de código aberto. O resultado foi o Protocolo AT, abreviação de Transferência Autêntica. Mas depois que Elon Musk comprou o Twitter, seus grandes planos de tornar o protocolo mais amplamente disponível desapareceram do roteiro da empresa.
Então, a equipe usou o protocolo para lançar o Bluesky em 2023. Agora, o Free Our Feeds quer ter certeza de que há um ecossistema robusto de outros aplicativos sociais criados no Protocolo AT, que podem acabar competindo com o Bluesky. O grupo pretende arrecadar US$ 4 milhões iniciais para o projeto, parte de uma meta maior de arrecadar US$ 30 milhões nos próximos três anos.
O grupo usará o dinheiro para criar a fundação e construir um segundo serviço social usando o protocolo AT — um esforço talvez contraintuitivo que poderia competir com o Bluesky. Mas seu objetivo é garantir que o protocolo permaneça independente, mesmo que o Bluesky de alguma forma sucumba à ganância corporativa ou às pressões de interesses comerciais apoiados por capital de risco. A ideia é dar aos usuários um lugar para onde ir se o Bluesky decidir encerrar o acesso do desenvolvedor aos dados ou passar por uma aquisição como a de Musk na X.
A fundação contratará sua própria equipe de engenheiros para trabalhar em estreita colaboração com os engenheiros do Bluesky para construir o novo serviço, que eles esperam ter instalado e funcionando até o final do ano. A fundação também usará o dinheiro para financiar outros projetos de desenvolvedores externos para construir em cima do protocolo. “Ele foi concebido para ser alinhado com Bluesky, mas resiliente caso Bluesky se torne uma entidade hostil”, escreveu o grupo em um artigo descrevendo suas prioridades. Bluesky não respondeu a um pedido de comentário.
Os organizadores da campanha ajudaram a montar uma equipe de supervisores que tomarão decisões de governança para a criação da fundação, como contratar um CEO e aplicar o dinheiro arrecadado. Esses membros, que se autodenominam “custódios”, incluem os diretores executivos da Mozilla Foundation Mark Surman e Nabiha Syed, o fundador da Avaaz Eli Pariser e Mallory Knodel, diretora executiva da Social Web Foundation. O grupo também publicou na segunda-feira uma carta aberta assinada por pessoas endossando o projeto, incluindo o fundador da Wikipedia Jimmy Wales, o ator Mark Ruffalo e Shoshana Zuboff, autora de The Age of Surveillance Capitalism. O objetivo de longo prazo é garantir que o futuro da mídia social seja resistente ao controle bilionário. A compra do Twitter por Musk resultou em um êxodo de usuários, boicote de anúncios e colapso das práticas de segurança e moderação.
Proprietários corporativos, como Musk e Mark Zuckerberg da Meta, têm muito poder para exercer sua própria influência sobre as plataformas, disse Surman da Mozilla à Forbes. “Realmente depende dos caprichos dessas pessoas decidir qual é o universo da mídia social em que vivemos”, disse ele, descrevendo a fundação como uma espécie de “aliança rebelde” para enfrentar gigantes como X e Meta. A Meta ilustrou esse poder descomunal na semana passada. Zuckerberg anunciou abruptamente que a empresa encerraria seu programa de verificação de fatos para o Facebook e Instagram, surpreendendo as organizações de verificação de fatos e, em vez disso, confiaria em “notas da comunidade” dos usuários para policiar o conteúdo, semelhante à forma como o X modera suas postagens. A medida foi criticada por alguns como uma abertura ao presidente eleito Trump, que há muito reclama da suposta censura de pontos de vista conservadores e, no ano passado, ameaçou jogar Zuckerberg na prisão. Desde a eleição de Trump, a Bluesky teve um crescimento enorme.
