O bom desempenho geral de 2020 vai favorecer o andamento da próxima safra. Com o estímulo ao trabalho remoto, o produtor foi encorajado a usar novas ferramentas e a acelerar a transformação digital no campo. Isso inclui o uso de drones, de imagens via satélite, softwares e aplicativos para monitoramento de operações e gestão, ferramentas de inteligência artificial, além da expansão de marketplaces e vendas pela internet, entre outros avanços. “A pandemia foi uma catalisadora do processo inevitável de digitalização. O padrão tecnológico tem sido cada vez melhor”, opina Roberto Rodrigues, do GV Agro.
A renda do produtor rural foi potencializada pelo câmbio e isso, por sua vez, estimulou investimentos. O cenário pavimentado em 2020 se reflete em maior disponibilidade de recursos para a safra 2020/2021, marcada pelo início do plantio da soja em setembro. “O produtor fez mais investimentos. A capitalização dos produtores os levou a plantar uma safra com o que há de melhor em tecnologia”, diz Rodrigues. Segundo levantamento da Conab em novembro, estima-se aumento de 0,5% da área plantada com grãos na safra 2020/2021, para 67,1 milhões de hectares cultivados. A previsão indica aumento de produção de 4,6%, com colheita de 268,9 milhões de toneladas de grãos.
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Para 2021, as incertezas estão basicamente relacionadas ao clima, que determina a capacidade produtiva no campo. Os especialistas ouvidos pela Forbes afirmaram que o tempo seco atrasou o início do plantio de soja em muitas áreas produtoras, especialmente em Mato Grosso. Por essa razão, a safra pode ser colhida mais tarde, prejudicando a janela ideal de cultivo da segunda safra de milho. “As chuvas estão muito irregulares, e esse atraso no plantio da soja deixa o cultivo da safrinha mais arriscado”, explica o professor Marcos Fava.
Já para a taxa de câmbio, espera-se uma acomodação. No entanto, o dólar deve continuar acima de R$ 5. “O patamar do câmbio vai continuar favorecendo as exportações e a rentabilidade do exportador”, diz Nicole Rennó, do Cepea. E as cotações devem se manter elevadas, segundo a pesquisadora. “A pandemia contribuiu para um aumento de preços de alimentos que é positivo para o agronegócio. A expectativa também é de preços altos em 2021, bem remuneradores ao produtor.” Mas as perspectivas também levam em consideração o aumento de gastos do governo durante a pandemia e nossa ciclotímica incerteza econômica. “O Brasil vai ter uma herança fiscal delicada. Estamos vivendo um momento de recessão. O contexto de pandemia gerou um enfraquecimento geral da economia no cenário global”, afirma o consultor Felipe Novaes. Para Nicole, embora a conjuntura tenha um grau maior de incertezas, as previsões são otimistas. “É difícil prever quando a crise do coronavírus será controlada de fato no mundo, mas, por enquanto, as expectativas de mercado são de que a economia brasileira cresça no ano que vem. Não há motivos para acreditar em uma queda de demanda pelos produtos do agro brasileiro.”
Outra variável é o apetite do mercado chinês, principal comprador de soja brasileira, e a relação comercial entre o país asiático e os Estados Unidos. “O Brasil compete com os EUA no fornecimento de grãos. Por isso, a relação comercial entre Estados Unidos e China afeta o potencial da exportação brasileira”, diz Novaes. Especulações no mercado apontam que o governo de Joe Biden vai se relacionar melhor com a China, mas ainda não se sabe em que medida isso poderá impactar o Brasil.
Há também desafios internos, como a delicada questão da sustentabilidade. Temas como o combate ao desmatamento e algumas bandeiras do agronegócio, como a rastreabilidade de alimentos e o bem-estar animal, devem ganhar mais relevância. Segundo Rodrigues, estará cada vez mais na moda a expressão “ESG”, sigla em inglês de Environmental, Social and Governance, que traduz medidas de responsabilidade socioambiental e governança. Em 2021, será preciso investir em diplomacia para firmar acordos de mercado e melhorar a imagem do país no exterior. “O Brasil é sustentável, mas ainda tem desmatamento ilegal, invasão de terra, garimpo ilegal, incêndio criminoso. Nosso problema é a ilegalidade, que não é culpa dos produtores, mas mancha a imagem do agronegócio”, conclui Rodrigues.
Reportagem publicada na edição 82, lançada em dezembro de 2020
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