Com a chegada do frio e da seca, pecuaristas do Brasil começam a encaminhar os primeiros lotes de gado para confinamento. A estratégia tem se mostrado lucrativa e pode atingir um novo recorde diante de elevados preços da arroba, mesmo depois que o custo com o principal insumo da ração, o milho, dobrou.
Até o momento, estima-se que a terminação intensiva deve chegar à máxima histórica de 6,3 milhões de cabeças de bovinos em 2021 no país, disse o gerente da categoria Confinamento da DSM, Marcos Baruselli, à Reuters, com base em dados de uma pesquisa preliminar finalizada pela companhia neste mês.
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O número, que ainda poderá sofrer ajustes ao longo do ano conforme o andamento do mercado, supera o recorde de 6,18 milhões de cabeças alcançado em 2020, segundo Censo da DSM. Nesse período, a arroba do boi gordo já alcançava altos patamares, puxada pelo ajuste na oferta de animais e firme demanda para exportação da carne, em sua maioria para a China.
“Mesmo com o cenário de milho em torno de R$ 90 por saca, e da arroba a R$ 315, o boi cobre os custos do confinador e deixa lucro”, afirmou Baruselli, embora as margens positivas tendam a ficar restritas aos grandes confinadores.
Ele calcula que é possível trabalhar com custo de R$ 250 por arroba. “O pequeno e médio têm mais dificuldade de lidar com esse preço do milho, e o grande não”, acrescentou. A DSM é líder em nutrição alimentar de confinamentos e para o mercado de bovinos, em geral, no Brasil.
No primeiro trimestre de 2021, as vendas da companhia na categoria de suplementos vitamínicos utilizados para complementar a ração durante a terminação intensiva do gado cresceram 19% ante o mesmo período do ano anterior.
Para Baruselli, este é mais um sinal de que os pecuaristas estão comprando insumos e encaminhando suas boiadas para confinamentos, diferente do ano passado, quando as incertezas acerca da pandemia da Covid-19 fizeram com que a estratégia de confinar ficasse concentrada no segundo semestre.
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Crise entre pequenos
O diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres, disse que o cenário, de fato, é promissor para os confinadores de maior porte, que têm escala de produção economicamente viável para conseguir resultados positivos ante a alta de preços do milho, mas os pequenos não devem conseguir fechar as contas.
Ontem (22), o indicador do milho Esalq/B3 fechou a R$ 97,98 por saca de 60 quilos, o dobro da cotação vista um ano antes, de R$ 48,65, segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
No mesmo intervalo, o boi também avançou de preço, mas em proporções menores. Na quinta-feira, a arroba bovina alcançou R$ 316,65, aumento de 57% no comparativo anual, conforme o índice do Cepea.
Torres também lembrou que a despesa com o animal de reposição é mais um ofensor para os custos da terminação. Na primeira quinzena de abril, o poder de compra do pecuarista brasileiro atingiu o pior patamar da história para a aquisição de bezerros, segundo o Cepea.
Considerando que as despesas com o milho podem crescer ainda mais, na hipótese de uma quebra na segunda safra – que já marca perdas pelo clima – a tendência é que os confinamentos de pequeno porte entreguem os animais a grandes terminadores ou boiteis, disse o consultor em gerenciamento de risco na pecuária da StoneX, Caio Toledo.
“Então, temos os grandes ficando maiores e os menores, ficando ainda menores.”
Ele disse ainda que a falta de utilização de ferramentas financeiras para mitigar os riscos contribui para este cenário. “Falta hedge. Hoje, o uso das ferramentas está muito mais atrelado a fazer especulação e tentar ganhar dinheiro do que efetivamente se proteger”, completou Toledo.(Com Reuters)
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