O rio Araguaia representa uma fronteira natural entre o Mato Grosso e Goiás, desaguando no mar via Tocantins e Pará. O vale do Araguaia, como é chamado, é uma das regiões mais espetaculares do país e ganha os olhares do mundo quando as águas descem formando praias na época do inverno. Mas é, também, uma região que já foi chamada de “vale dos esquecidos”, por conta da baixa expectativa de desenvolvimento econômico e social dessa região rica em natureza, em criação de gado e na agricultura que ganhou força na última década e meia.
Hoje (29), um movimento informal de pecuaristas que nasceu em 2014, liderado por Caio Penido, da fazenda Água Viva, chamado Liga do Araguaia, ganha vida jurídica e passa a ser chamado Instituto Agroambiental Araguaia. O instituto foi criado a partir da adesão de dez pecuaristas sócios fundadores, que bancaram financeiramente o início do projeto.
Nessa conta também estão as contribuições de multinacionais do setor, como a Cargill, Elanco, Friboi e Sumitomo, e também empresas de capital nacional, como a Zooflora, de nutrição animal. “Nossa missão é agregar à dimensão do agro brasileiro sua dimensão ambiental, no exercício diário do entendimento de que ambos estão totalmente conectados”, diz José Carlos Pedreira de Freitas, coordenador executivo do instituto.
Na porção mato-grossense do vale do rio Araguaia estão 31 municípios. Quando a Liga do Araguaia nasceu, o movimento conseguiu reunir 62 fazendas localizadas em Água Boa, Araguaiana, Barra do Garças, Canarana, Cocalinho, General Carneiro, Nova Nazaré, Nova Xavantina, Pontal do Araguaia, Querência, Ribeirão Cascalheira e Torixoréu. Os 13 municípios detêm um área de 8,4 milhões de hectares e cerca de 3,8 milhões de hectares de pastagens. A função do instituto é ser o braço operacional desse movimento.
Nos últimos sete anos, a Liga do Araguaia desenvolveu seis projetos na área ambiental, sendo o mais recente o “Carbono Araguaia”, com dados compilados e divulgados em março. Em cinco anos, metrificadas por metodologia auditável, foram mitigadas 113.928 toneladas de CO2 equivalente de emissões de gases de efeito estufa, com a recuperação de 43 mil hectares de pastagens. O rebanho dessa área, que era de 73.127 bovinos, hoje é de 107.048 animais, o que significa uma lotação das pastagens saindo de 0,89 cabeça por hectare para 1,4 cabeças por hectare.
Na pauta do instituto, entre os principais objetivos, está o aumento da produtividade com foco na gestão da produção e de boas práticas agropecuárias, entre elas a recuperação das pastagens degradadas e a integração de sistemas, como a ILP (integração lavoura-pecuária), produzir valor para a floresta em pé, acessar mercado que reconheçam e pague mais por produtos dessas áreas. O turismo ecológico também é uma bandeira. O projeto para mapear as potencialidades vem sendo estruturado pelo produtor Mario Buri, da fazenda São Carlos. “O turismo ecológico também é um modelo de inclusão para a população local”, diz Freitas.
Outra frente é a organização do grupo visando o mercado de PSA (Pagamento por Serviços Ambientais), tema que vem sendo debatido no mundo todo e deve ganhar força na COP26 (26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática), marcada para novembro, em Glasgow, na Escócia. O instituto também está montando uma rede de comunicação visando atrair outras fazendas para o projeto. “A gente tem que criar um mercado mundial de serviços ambientais para que haja uma remuneração. Eu acredito muito na conservação remunerada”, afirma Penido, da fazenda Água Viva. “Há uma concorrência desleal com outros países produtores de commodities que não tem esse custo ambiental de conservação. Um produtor, para produzir em 65% do Cerrado precisa comprar 35% de biodiversidade, além de ter um custo eterno de manutenção dessa biodiversidade.”
O grupo que está fundando o Instituto Agroambiental Araguaia é formado por pecuaristas experientes, como José Ricardo Lemos Rezek, da Agropecuária Rica, na região desde meados dos anos 1980. “O Araguaia está ligado à história da nossa empresa e do início das atividades da família”, diz ele. “Também fizemos parte da história de abertura da região e da formação da cidade de Querência.” Para ele, a Liga do Araguaia, que agora tem o seu braço operacional, permite manter todas essas histórias vivas.
Para Carmem Bruder, da fazenda EntreRios e coordenadora do comitê de Regularização Ambiental da Liga do Araguaia, o movimento dos pecuaristas amadurece a atuação na região e organiza o trabalho. “Como a gente pode participar disso? A gente entra na Liga do Araguaia pelos projetos que participa. Foi assim que eu fui parar na liga e dela não saio mais”.
A seguir, a Forbes apresenta “Os 10 do Araguaia”, o grupo de pecuaristas que encararam o desafio de transformar uma região do Brasil em modelo de produção sustentável. Veja, na galeria de fotos, quem são eles:
-
Divulgação/Araguaia Alexandre de Cico Annicchino
#Bio: Agropecuária Água Preta, em Cocalinho (MT). Pecuarista desde 1992, faz ciclo completo e gado cruzado com a raça Rubia galega. A fazenda é uma das fornecedoras de bovinos para a rede Pão de Açúcar.
#Eu no Araguaia: “Nós temos o privilégio de fazer parte da pecuária no vale do Araguaia, região que além de ser conhecida por suas belezas, tem índices altos de produtividade aliando o respeito ao meio ambiente. São desenvolvidas atividades que estão em linha com a agenda global por melhores práticas, tanto sociais quanto ambientais. Temos orgulho de manter mais de 50% do território da fazenda como reserva, além de possuir uma das grutas mais bonitas do Brasil, mostrando que é possível integrar todo esse ambiente, de forma que a produção e a conservação andem juntas”. -
Divulgação/Araguaia Braz Custódio Peres Filho
#Bio: Agropecuária Sucuri, em Novo São Joaquim (MT). É pecuarista desde 1999. Faz ciclo completo e melhoramento genético, com início de projeto de ILP (integração lavoura-pecuária).
#Eu no Araguaia: “Fazer parte do desenvolvimento do Araguaia, lapidando um modelo de pecuária rentável, produtiva e sustentável, é ao mesmo tempo um desafio e um prazer enormes”. -
Divulgação/Araguaia Caio Penido
#Bio: Agropecuária Água Viva, em Cocalinho (MT). Faz cria, recria, engorda e integração com a agricultura. Desde criança, acompanhava o avô, Pelerson Penido, nas fazendas em São Paulo e depois em Mato Grosso. O sonho era crescer e virar vaqueiro.
#Eu no Araguaia: “Antigamente conhecido como o vale dos esquecidos, hoje é o vale do progresso e do desenvolvimento sustentável. Meu pedaço de chão, minha fazenda inteira, é um corredor ecológico onde coexistem produção e conservação”. -
Divulgação/Araguaia Carlos Roberto Della Libera
#Bio: Fazenda Paraná, em Barra do Garças (MT). Desde 1995, o produtor se dedica ao ciclo completo, com cria, recria e engorda, e também ao melhoramento animal. A propriedade faz ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta), mais suinocultura orgânica, apicultura orgânica e criação de muares.
#Nós no Araguaia: “Araguaia, na Serra do Roncador: aqui é o meu lugar para preservar e produzir com felicidade”. -
Anúncio publicitário -
Divulgação/Araguaia Carmen Bruder
#Bio: Fazenda EntreRios, em Cocalinho (MT). Pecuarista desde 2013, faz cria intensiva, com investimento em genética, adubação de pastagens, suplementação alimentar e manejo. Também recria fêmeas.
#Eu no Araguaia: “Como quem gosta do que faz não trabalha, se diverte, na EntreRios nos divertimos de sol a sol. O trabalho é com muito afeto, refrescado pelo frescor dos imensos mananciais de água boa e presenteados com as esplêndidas belezas naturais do maravilhoso Vale do Araguaia, que nos dá o sustento com sustentabilidade”. -
Divulgação/Araguaia Frederico Simioni
#Bio: Fazenda Fortaleza, em Barra do Garças (MT). A criação começou em 1969. Sob a marca Nelore Simioni, faz ciclo completo (cria, recria e engorda) e melhoramento genético da raça, com foco em características como marmoreio, carcaça e área de olho de lombo. Deu continuidade ao trabalho iniciado pelo avô, Achilles Simioni, um dos produtores mais respeitados na história da formação da raça nelore no país.
#Eu no Araguaia: “Significa produzir, aliando tecnologia e conservação. Com foco em animais adaptados e superprodutivos, avaliação genética e rigor de seleção, acreditamos que podemos fazer o melhor para a pecuária brasileira, mantendo sempre, também, o cuidado com a preservação para favorecer a biodiversidade do planeta”. -
Divulgação/Araguaia José Ricardo Lemos Rezek
#Bio: Agropecuária Rica, Querência ( MT). Na pecuária desde 1985, faz ciclo completo (cria, recria, engorda), trabalha com melhoramento genético e ILP (integração lavoura-pecuária). Na agricultura, a soja é a principal cultura e conta com armazenagem própria. Também é representante da marca John Deere, com seis lojas de máquinas agrícolas em Mato Grosso.
#Eu no Araguaia: “O Araguaia está ligado à história da nossa empresa e ao início das atividades da família. Meu pai diz que é o local onde todos os nossos valores afloraram e se aperfeiçoaram. É onde concentramos e pretendemos aumentar os nossos investimentos, nas fazendas e em outros empreendimentos e nas questões sociais”. -
Divulgação/Araguaia Mario Buri
#Bio: Fazenda São Carlos, em Barra do Garças (MT). Perito agrícola, doutor em ciências econômicas e engenheiro mecânico e industrial, o italiano nascido em Collegno, na província de Turim, adotou o Brasil como sua casa em 2004. Considera-se um pecuarista de nascença, o que lhe rendeu o título de cidadão mato-grossense. Faz ciclo completo, cruzando gado nelore com piemontês e aberdeen angus, com todas as fêmeas no programa de IATF (inseminação artificial em tempo fixo).
#Eu no Araguaia: “O que significa estar e fazer pecuária no Araguaia? Foram decisões casuais da vida”. -
Divulgação/Araguaia Pelerson Penido Dalla Vecchia
#Bio: Agropecuária Roncador, em Querência (MT). Produtor rural há 32 anos, faz pecuária regenerativa de ciclo completo integrada à agricultura de alta tecnologia no cultivo de soja e milho. Toda a área produtiva da fazenda está no sistema ILP (integração lavoura-pecuária)
#Eu no Araguaia: “Construímos um sistema produtivo equilibrado e eficiente que, além de resultados econômicos melhores, está deixando a terra cada vez melhor. Isso nos dá uma sensação de que estamos na direção certa na nossa atuação como gestores de terra e cuidadores do planeta”. -
Divulgação/Araguaia Raul Almeida Moraes Neto
#Bio: Fazenda Santa Rita, no município de Torixoréu (MT). Engenheiro agrônomo que está na pecuária desde 2000. A propriedade faz ciclo completo (cria, recria e engorda) e se dedica a melhorar a genética da raça bovina araguaia.
#Eu no Araguaia: “Estar no vale do Araguaia é um sonho. É uma oportunidade ímpar de provar que é possível desenvolver uma pecuária rentável, com sustentabilidade e respeito aos recursos naturais e humanos”.
Alexandre de Cico Annicchino
#Bio: Agropecuária Água Preta, em Cocalinho (MT). Pecuarista desde 1992, faz ciclo completo e gado cruzado com a raça Rubia galega. A fazenda é uma das fornecedoras de bovinos para a rede Pão de Açúcar.
#Eu no Araguaia: “Nós temos o privilégio de fazer parte da pecuária no vale do Araguaia, região que além de ser conhecida por suas belezas, tem índices altos de produtividade aliando o respeito ao meio ambiente. São desenvolvidas atividades que estão em linha com a agenda global por melhores práticas, tanto sociais quanto ambientais. Temos orgulho de manter mais de 50% do território da fazenda como reserva, além de possuir uma das grutas mais bonitas do Brasil, mostrando que é possível integrar todo esse ambiente, de forma que a produção e a conservação andem juntas”.
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App
Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.