Produtores de café do Brasil, maior fornecedor global da commodity, estão tentando renegociar contratos de venda com exportadores e operadores a preços mais altos, gerando na indústria temores de calotes generalizados, segundo profissionais do mercado.
Os agricultores e seus representantes querem agora valores mais elevados do que aqueles que haviam aceitado há alguns meses –ou até mesmo um ano–, afirmando que os preços do café dispararam porque o tempo mais seco que o normal deve causar uma forte redução na safra do país.
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Outros têm pedido para adiar embarques para o ano que vem.
“Produtores que venderam café entre R$ 450 e R$ 650 agora estão em busca de preços ‘spot’ de R$ 800 (a saca de 60 kg)”, disse um operador de uma trading global na Holanda. “Acho que os ‘defaults’ vão ser um grande problema.”
As tradings internacionais de commodities podem ter grandes prejuízos no caso de pagarem mais por café agora do que o valor que negociaram meses atrás para venda às torrefadoras.
Em um cenário ainda pior, poderão ser obrigadas a comprar café caro no mercado físico se os produtores não entregarem o produto.
Os calotes ainda não ocorreram porque a colheita está apenas começando, mas é provável que venham a acontecer nos próximos meses, disseram fontes.
“Tivemos produtores ou seus advogados ligando, pedindo uma renegociação. Dissemos que não podemos alterar os termos agora”, afirmou o chefe de uma trading internacional no Brasil.
“Se um produtor decidir pelo ‘default’, será um prejuízo de cerca de R$ 200 (US$ 37,60) por saca. É muito”, acrescentou.
Calotes são raros no setor cafeeiro, embora operadores tenham citado alguns casos em 2014, última vez em que uma grave geada afetou o Brasil e os preços do café dispararam.
Os negócios dos exportadores de café são realizados em milhares de sacas –ou seja, os prejuízos podem se estender para a casa dos milhões.
Os contratos futuros do café arábica subiram quase 30% desde o início de abril, tendo alcançado uma máxima de quatro anos na semana passada, diante de ofertas cada vez mais apertadas e da recuperação de demanda pós-Covid-19.
“Nós acreditamos que haverá ‘default’ entre os produtores, mas esperamos que seja em um número pequeno”, disse Sergio Hazan, presidente da Comexim, uma das maiores exportadoras do Brasil.
Hazan afirmou que a Comexim não recebeu pedidos de renegociação, principalmente porque a companhia possui volume limitado de contratos para entrega futura, mas disse estar ciente de que esses pedidos foram feitos a outros participantes do mercado.
Corretoras de menor porte do Brasil receberam pedidos de renegociação, mas disseram que os agricultores pensariam duas vezes antes de entrar em “default” por temores de um possível boicote dos compradores no futuro.
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O diretor da Associação dos Cafeitultores do Brasil (Sincal) Marco Antonio Jacob disse que a entidade tem recomendado, desde o ano passado, que aqueles produtores que venderam volumes excessivos devem procurar os compradores para renegociar o acordo, diante da quebra de safra.
“Se não vai colher, renegocia, faz o ‘washout’. Temos falado que procurem seus compradores e renegociem as suas vendas… O produtor tem que honrar com aquilo que vendeu. Não estamos recomendando ruptura de contrato, não é isso.”
Além do “washout”, uma operação de mercado na qual o produtor recompra o seu contrato e paga uma diferença ao comprador”, o diretor do Sincal disse que há a opção de rolar posição de entrega para o outro ano.
“Aquele que não pode entregar, ele tem que sentar com o comprador e dizer: ‘está acontecendo um problema’. Isso tem que ser resolvido da melhor maneira possível.”
Jacob disse acreditar que poderão acontecer defaults pelo clima desfavorável, por “força maior”, de produtores que não terão o volume acordado, tamanho o impacto da seca.
A safra brasileira de café em 2021 foi estimada hoje (25) em 48,8 milhões de sacas de 60 kg, queda anual 22,6%, segundo projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Para o Sincal, a quebra de safra é maior. (Com Reuters)
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