O Atlas da Irrigação da ANA (Agência Nacional das Águas) mostra que no país há 8,2 milhões de hectares irrigados. São áreas nas quais a produtividade de um determinado cultivo supera em duas a três vezes o cultivo sem irrigação. Até 2040, a previsão é expandir essa área em mais 4,2 milhões de hectares, o que representa um aumento de 79%. Não por acaso, o setor global de irrigação está de olho no Brasil. A subsidiária da austríaca Bauer, com sede em São João da Boa Vista (SP), já investiu R$ 100 milhões no país desde 2016 e deve dobrar esse valor nos próximos anos. A Bauer espera faturar R$ 150 milhões neste ano, no país.
“Nosso momento é muito positivo. Conseguimos marcar presença e participar de mercados muito importantes”, afirma Cristiano Del Nero, CEO da Bauer Brasil. “Devemos estar chegando em terceira ou muito perto da terceira posição no mercado nacional.” No país, a Bauer concorre com companhias robustas, entre elas as norte-americanas Valmont, proprietária da marca Valley e líder global em irrigação de precisão, e Lindsay, que também trabalha com sistemas de alto desempenho. Essas empresas apostam no potencial de crescimento da irrigação local, que é o de ocupar até 55 milhões de hectares, área equivalente a 22% do total de terras hoje tomadas pela agropecuária para o cultivo de lavouras e de pastagens.
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Os investimentos da Bauer, que no mundo tem 2,5 milhões de hectares irrigados, vêm para remodelar as ações de comércio da marca. Hoje, metade do mercado internacional da companhia está nos produtos de tratamento de resíduos. Mas no Brasil, pelo peso do agronegócio, é a venda de pivôs centrais que azeita o negócio, além de investir em carretéis de irrigação. Parte dos recursos destinados à essa expansão, no valor R$ 20 milhões, serão empregados para aumentar a infraestrutura de armazenamento na sede, onde está a fábrica.
“Diria que é possível a gente rapidamente triplicar a capacidade”, afirma Del Nero. Outros investimentos estão previstos visando o aumento da produtividade fabril, entre eles equipamentos, aumento do número de funcionários e a implementação de um terceiro turno. A unidade no Brasil, que deve colocar no mercado 2,5 mil equipamentos de irrigação, também exporta para países como Rússia, Colômbia, México e Uruguai.
Mas é no Brasil que a empresa quer mercado. No país, o predomínio da tecnologia é a dos pivôs. O resultado do trabalho “Georreferenciamento dos pivôs centrais de irrigação no Brasil: ano base 2020”, realizado pelos pesquisadores Daniel Pereira Guimarães e Elena Charlotte Landau, da unidade da Embrapa Milho e Sorgo, de Sete Lagoas (MG), mostra que os pivôs centrais são atualmente o principal sistema de irrigação brasileiro, superando o método de inundação adotado para o cultivo do arroz na região Sul.
No ano passado foram irrigados pelo sistema 1,6 milhão de hectares, 19,5% do total irrigado no país. Mas a Bauer acredita que pode ganhar fatias de mercado com outros tipos de equipamentos, como os carretéis, tecnologia adequada para irrigar lavouras menores, por exemplo até 80 hectares. Serve para pequenas propriedades, para o uso em fertirrigação e mesmo em usinas de cana-de-açúcar para aplicar a vinhaça no campo. “No começo da Bauer Brasil, ela era muito focada em carretel, depois mudou um pouco para pivô e vamos voltar a oferecer o carretel, em uma versão um pouco mais sofisticada”, explica Del Nero sobre a decisão. “A gente acha que o mercado brasileiro já está maduro o suficiente para receber carretéis que têm mais tecnologia.”
Nesse caminho, monitorar o que ocorre no ambiente de agtechs está na ordem do dia. Del Nero não descarta que parte dos investimentos devem ser direcionados a parcerias com startups do agro. “Atualmente, estamos discutindo parceria com duas. Compra ainda não, pois queremos ver algumas tecnologias amadurecerem um pouco mais, antes de fazer um investimento maior. Foi o que fizemos com a Irricontrol. Realizamos uma parceria inicial, depois eles desenvolveram, o produto ficou bom e chegamos a um acordo. A gente entende dessa forma”, pontua Del Nero. A Irricontrol, com sede em Itajubá (MG), é uma plataforma de tecnologia de automação e monitoramento para o controle da irrigação e das bombas. “A escolha do investimento no Brasil não é à toa. Eu costumo dizer que a China é a fábrica do mundo, os Estados Unidos são o principal supermercado e, por que não, o Brasil pode ser a fazenda do mundo. O potencial agrícola que a gente tem aqui é gigantesco”, aposta Del Nero.
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