As primeiras cargas de milho argentino importado por empresas brasileiras como BRF e JBS começaram a desembarcar no país, que agora busca o cereal no vizinho para lidar com a quebra de safra nacional, preços em níveis recordes localmente e alta demanda da indústria de carnes.
Um carregamento de cerca de 35 mil toneladas foi desembarcado ao final de maio, no porto de Paranaguá (PR), e um segundo de aproximadamente 30 mil toneladas chegou a Rio Grande (RS) no meio da semana passada, e outros quatro navios com o cereal do país vizinho devem aportar ainda este mês, conforme dados da agência marítima Cargonave, que incluem também o terminal catarinense de Imbituba com destino.
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“Já chegaram navios, foram descarregados. Tem importação de trigo, não só de milho, para ração”, disse à Reuters Ricardo Santin, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), comentando sobre as alternativas das companhias produtoras de carnes suína e de frango, cujos custos estão crescentes devido ao preço das matérias-primas para alimentação.
A gigante do setor de carnes JBS está recebendo um navio com 30 mil toneladas de milho argentino, no porto de Imbituba (SC), conforme nota à Reuters, após ser questionada.
“A JBS está sempre atenta às oportunidades e alternativas para manter seu fornecimento de matérias-primas de maneira competitiva”, afirmou.
Já a BRF, maior exportadora global de carne de frango, confirmou à Reuters a importação de milho argentino, mas preferiu não dar detalhes.
A Aurora afirmou, também por meio da assessoria de imprensa, que está avaliando compras no país vizinho, mas que não está fazendo a operação “ainda”.
Ao todo, entre volumes desembarcados e previstos para junho, o Brasil deve internalizar 191 mil toneladas de milho da Argentina via navios.
O volume previsto de milho argentino na programação de navios representa quase o dobro das 103 mil toneladas compradas no parceiro do Mercosul em todo o ano passado, segundo dados do Ministério da Agricultura.
No primeiro quadrimestre, o Brasil já importou 758 mil toneladas de milho, aumento de quase 70% ante o mesmo período do ano passado, com o produto do Paraguai, que chega em geral de caminhão, dominando quase que 100% das importações.
Ainda que a colheita da segunda e maior safra brasileira do cereal esteja próxima de ganhar ritmo, o que em tese dificultaria negócios com o produto importado, a expectativa é de que cresçam ao longo do ano os volumes comprados pelo Brasil, que normalmente figura como o segundo exportador mundial de milho quando a oferta é mais abundante.
Em 2020/21, na direção contrária, as importações do cereal pelo Brasil devem somar 2,5 milhões de toneladas, cerca de 1 milhão acima da temporada passada, segundo estimativas recente da StoneX, que também vê uma forte queda nas exportações brasileiras devido à menor oferta.
Para Santin, da ABPA, o dólar mais fraco frente ao real agora tem tornado o produto importado menos caro, sinalizando mais importações a depender dos desdobramentos no mercado brasileiro.
“O dólar já começa a jogar do nosso lado”, destacou ele.
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Após máximas de fechamento de cerca de R$ 5,80 em março deste ano, agora a moeda norte-americana está em torno de R$ 5, com uma queda acumulada em 2021 de 3% com base no encerramento da véspera.
“Se vai entrar mais ou menos (importado da Argentina) vai depender do impacto da safrinha e do dólar, do prêmio da paridade, que agora tem se mostrado uma alternativa atrativa. A diferença de preços mesmo, entre o importado e o nacional, aí cada empresa tem seus cálculos”, comentou Santin.
O dirigente da ABPA, que preferiu não comentar sobre importação de milho argentino por companhias, disse sem citar nome que uma empresa “vai comprar mais de 100 mil toneladas de milho do Paraguai por terra, via caminhão”.
Ele ponderou ainda que os preços internos do milho começam a ter um pouco mais de estabilidade, ainda que em patamares elevados.
Segundo o indicador Esalq, o milho está em R$ 96,57 a saca, já inferior ao patamar histórico de R$ 103 visto em meados de maio, mas mais que o dobro do valor nominal registrado no mesmo período do ano passado.
Além de os valores terem subido na esteira das cotações internacionais, também influenciou a quebra da segunda safra pela seca, que deverá ser reduzida em mais de 15 milhões de toneladas em relação ao potencial, segundo algumas consultorias.
A AgRural, por exemplo, vê a colheita de inverno do centro-sul em 60 milhões de toneladas.
Já a StoneX estima a segunda safra do país em 62 milhões de toneladas, redução de 17% ante a temporada anterior, enquanto o consumo nacional no ano está projetado em um recorde de 71,5 milhões, com a forte demanda da indústria de carnes. (Com Reuters)
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