Você sabia que nem todo mel vem do néctar das flores recolhido pelas abelhas? Você já ouviu falar em mel de melato? Pois ele existe sim, no Sul do Brasil, e acaba de receber o registro de Indicação Geográfica (IG), na espécie Denominação de Origem, para o produto que sai de propriedades rurais de 134 municípios, sendo 107 no estado de Santa Catarina, 12 no Paraná e 15 no Rio Grande do Sul. Chamado de Mel de Melato da Bracatinga do Planalto Sul Brasileiro, o produto é fruto da matéria-prima utilizada pelas abelhas, um líquido doce (melato), produzido pelo inseto cochonilha, que se associa às árvores de bracatinga – típicas do sul do Brasil – e dela suga a seiva.
O IG é um instrumento de reconhecimento da origem geográfica, conferida a produtos ou serviços que são característicos do seu local de origem, que detêm valor intrínseco, identidade própria, o que os distingue dos similares disponíveis no mercado. Daí a importância na agregação de valor para os municípios produtores. O mel produzido a partir do melato se tornou uma iguaria e passou a ter grande apreço dos consumidores internacionais, principalmente na Alemanha.
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Segundo a Abemel (Associação Brasileira dos Exportadores de Mel) cerca de 60% da produção do país é exportada. No ano passado foram embarcadas 45,6 mil toneladas por US$ 98 milhões, volume 51,8% acima de 2019. Os norte-americanos compraram 75% do mel embarcado. O mercado de méis para exportação vem crescendo continuamente desde 2016.
Além do mel de bracatinga, atualmente há no país cinco IGs para produtos de abelhas e potencial para o registro de outras 15 regiões, de acordo com a coordenadoria de Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários, instância do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).
De coloração mais escura, maiores teores de açúcares, nitrogênio e minerais, e também maior pH, segundo os pesquisadores, o mel que acaba de receber o selo de origem apresenta mais efeitos benéficos à saúde quando comparado aos méis florais pela presença de compostos bioativos e potencial antioxidante. Apesar da maior concentração de açúcares, o mel do melato apresenta menores quantidades de frutose e glicose e não cristaliza como o mel floral. As características únicas são resultado da presença das enzimas das abelhas produtoras de mel, além das enzimas derivadas das secreções das glândulas salivares e do intestino das cochonilhas.
A região produtora, o planalto sul brasileiro, conta com predominância arbórea de bracatingas agrupadas em capões de mato ou em vertentes dos vales de pequenos rios e arroios, na forma de florestas galerias. A cada dois anos, os bracatingais são infestados por cochonilhas que se fixam no tronco das árvores e se alimentam da seiva elaborada, excretando um líquido adocicado, justamente o melato.
A produção do mel de melato da bracatinga ocorre entre os meses de dezembro a junho, o que corresponde aos períodos de maior escassez de néctar e pólen. Entretanto, geralmente no primeiro semestre dos anos pares se dá o estágio de cisto das cochonilhas, formando longos fios brancos por onde excreta o melato. Mas embora a excreção de melato pelas cochonilhas ocorra nos dois anos do seu ciclo de vida, nos anos ímpares ela ocorre em menor quantidade, permitindo uma menor produção de mel de melato. Assim, para promover a produção desse mel, devem-se migrar as colmeias para locais onde há bracatingas nas épocas em que elas estão associadas às cochonilhas, visando a aproveitar todo o potencial apícola.
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