A engenheira agrônoma e pesquisadora Micheli Thaise Della Flora Possobom, 33 anos, desde março está na Seedcorp HO, empresa de genética, produção, comercialização, armazenagem e logística de soja e milho, com sede em Goiânia (GO). Sua contratação não foi um fato isolado. Atualmente, quase 50% dos 140 funcionários da empresa são mulheres, entre elas 24 pesquisadoras. Ontem (27), Michele estava ao lado de outras companheiras de trabalho e do diretor de operações, Daniel Glat, para uma ação inédita: a empresa decidiu colocar no mercado uma marca de cultivares de soja, a EllasGenética, comandada por mulheres. A outra marca da empresa é a HO. A agrônoma assume o cargo de melhorista de soja para a região do Sul do Brasil. “A marca nasce com amplo grupo de maturação e com competitividade para o produtor”, afirma Micheli.
A Seedcorp, empresa de capital nacional, faturou no ano passado R$ 348 milhões, valor 56% acima de 2019, com estimativa para este ano de R$ 650 milhões. Em pesquisa, os investimentos têm ficado na casa de US$ 1,5 milhão por ano, mas deve subir para US$ 2 milhões em 2022. A atual estratégia de colocar no mercado uma linha com apelo feminino tem uma lógica clara. O mais recente censo agropecuário do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2017, mostra que as mulheres comandam, sozinhas, 18,6% das fazendas no país, o equivalente a 950 mil propriedades rurais. Além desse grupo, mais de 1 milhão de outras mulheres dividem a gestão do negócio com seus companheiros. Outras pesquisas vão na mesma direção: é crescente a presença das mulheres em postos de comando no agronegócio. “Criamos uma segunda marca por questões mercadológicas, mas que celebra a força feminina no campo”, diz Glat. “A atuação das mulheres tem sido fundamental para o desenvolvimento do setor agrícola.”
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Igualdade de gênero é uma transversal da Agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidas), sendo um dos objetivos “garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública”. Junta-se a esse desafio as novas métricas de ESG (ambiental, social e governança, em português), que as empresas vêm perseguindo, e o caldo para transformações está dado. “Tenho muito orgulho por fazer parte de uma empresa que se preocupa verdadeiramente com o espaço que a mulher ocupa na sociedade”, declara Micheli. “Isso contribui para que sejamos reconhecidas e exerçamos, cada vez mais, um papel protagonista no agronegócio.”
A agrônoma assume o Programa de Melhoramento de Soja da empresa na unidade de Sertanópolis (PR) no próximo mês de novembro, quando a unidade será inaugurada. A outra estação de pesquisa, de onde saíram as cultivares Luiza Ipro, Elisa Ipro, Lynda Ipro e Suzi Ipro, está no Centro-Oeste, região para a qual as plantas de soja foram adaptadas. A unidade fica em Primavera do Leste, município de Mato Grosso que é um dos maiores produtores de grãos do país. As novas sementes estarão disponíveis no mercado para a safra 2021/22.
Uma cultivar somente é ofertada para entrar numa safra comercial depois de uma década de pesquisas, em média. No caso da empresa, o programa de melhoramento analisa os cruzamentos genéticos, faz os testes de progênies, ensaios, verifica a pureza da genética e testa no campo as suas qualidades. Com o lançamento, entram no jogo as empresas licenciadoras que vão reproduzir a genética das sementes, além da própria Seedcorp. Para a linha lançada ontem estão no projeto a Cereal Ouro, com sede em Rio Verde (GO), a Ciaseeds, em Luiz Eduardo Magalhães (BA), e duas empresas de Mato Grosso, a Sinagro, em Primavera do Leste, e a Bom Jesus, em Rondonópolis. A Seedcorp produz no Brasil, por ano, 3 milhões de sacas de sementes de soja, sendo 1,3 milhão próprias e 1,7 milhão de produtores parceiros e terceiros. A meta com as duas marcas – Ellas e HO – é capturar 15% do mercado de sementes no Brasil.
As pesquisas na unidade paranaense visam justamente alavancar o mercado da região Sul e de países vizinhos. Além de uma base em Buenos Aires, na Argentina, a Seedcorp vende sementes para o Uruguai e Paraguai. Juntando os quatro países, na safra passada as sementes da empresa estavam em 62 milhões de hectares de soja cultivada. Hoje, no mercado há 20 variedades de genética própria do grão, além de híbridos de milho em parcerias com as multinacionais Syngenta, controlada pela estatal chinesa ChemChina, e a alemã KSV, mais a brasileira Sempre Sementes, de Chapecó (SC). Michele, que estará à frente do programa de melhoramento das sementes, é mestre em agronomia, com ênfase no melhoramento de plantas, e doutora em fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa (MG). Antes de chegar à Seedcorp, ela passou por multinacionais como Dupont Pionner e Corteva Agriscience. Para a empresa, a unidade terá um papel estratégico porque, além do desenvolvimento de cultivares visando o mercado do cone sul, deve contribuir com o trabalho no Centro-Oeste.
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