É neste período, durante o inverno catarinense, que as uvas cultivadas em áreas de altitude superior a 850 metros permanecem adormecidas pelas baixas temperaturas. Esse fator é essencial para a maturação completa das uvas viníferas utilizadas para produzir os chamados vinhos de altitude de Santa Catarina. Hoje (1), o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), anunciou que a partir de agora, a Indicação Geográfica “Santa Catarina” poderá ser utilizada para indicar a procedência de vinhos finos, nobres, licorosos, além de espumante natural, vinho moscatel espumante e brandy produzidos na região.
O registro da Indicação de Procedência foi concedido, na última terça-feira (29), pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), e publicado na edição 2634 da Revista oficial do órgão.
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Os componentes de altitude, temperaturas amenas e terroir da região serrana de Santa Catarina permitem uma adaptação adequada das videiras da espécie Vitis vinifera, de modo que sejam produzidas bebidas de alta qualidade enóloga com acidez equilibrada e boa estrutura tânica. Essas características são, cada vez mais, reconhecidas nos mercados nacional e internacional, o que já rendeu prêmios a muitas vinícolas estabelecidas em Santa Catarina.
“Esse reconhecimento é fruto da dedicação dos produtores e técnicos envolvidos e um atestado de que os vinhos de altitude de Santa Catarina apresentam características únicas. Além disso, é uma ferramenta para agregar valor, oportunizar negócios, gerar empregos e estimular atividades de turismo e gastronomia no estado”, diz Débora Gomide Santiago, coordenadora de Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários do Mapa.
Além do Mapa, a apresentação do pedido de reconhecimento da IG e o desenvolvimento do caderno de especificações técnicas contaram com a parceria Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), além dos produtores locais.
Os vinhos de altitude de Santa Catarina correspondem à produção de uvas da espécie Vitis vinifera de 29 municípios, equivalentes a 20% do território do estado: Água Doce, Anitápolis, Arroio Trinta, Bom Jardim da Serra, Bom Retiro, Brunópolis, Caçador, Campo Belo do Sul, Capão Alto, Cerro Negro, Curitibanos, Fraiburgo, Frei Rogério, Iomerê, Lages, Macieira, Painel, Pinheiro Preto, Rancho Queimado, Rio das Antas, Salto Veloso, São Joaquim, São José do Cerrito, Tangará, Treze Tílias, Urubici, Urupema, Vargem Bonita e Videira.
Segundo o cadastro vitícola de 2019, Santa Catarina reúne 527 vinhedos de altitude, somando 269,3 hectares. Sendo que 81% dessa área corresponde à soma das áreas dos vinhedos dos municípios de São Joaquim (51,7%), Água Doce (12%), Bom Retiro (11,4%) e Urupema (6,9%).
Variedade de produtos
De acordo com Jorge Tonietto, pesquisador de Indicações Geográficas da Embrapa Uva e Vinho, as características únicas da produção de altitude de Santa Catarina permitem a produção de diversos tipos de produtos, desde vinhos mais secos a bebidas mais açucaradas, como licores e o famoso moscatel.
“Ao maturar mais lentamente sob temperaturas amenas, o ciclo da uva valoriza aromas e materiais corantes, formatando vinhos com identidade própria. Os vinhos da região também são longevos e podem amadurecer mais tempo depois de prontos. É essa especificidade local que permite uma gama tão diversa de produtos”, afirma Tonietto.
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Com uma safra por ano, as uvas são colhidas entre o final do verão início do outono são de ciclo mais longo com colheita tardia, o que permite maior concentração de açúcares, por exemplo. A topografia acidentada e com pedras à mostra também interfere nas propriedades organolépticas da cultura de uvas.
A IG Santa Catarina é a oitava registrada para vinhos brasileiros e a segunda de Santa Catarina, que já conta com a Indicação de Procedência Vales da Uva Goethe. As demais são do estado do Rio Grande do Sul: Vale dos Vinhedos, Pinto Bandeira, Altos Montes, Monte Belo, Farroupilha e Campanha Gaúcha.
Produção nacional
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicam que a produção nacional de uvas destinadas ao processamento (vinho, suco e derivados) foi estimada em 661,8 milhões de quilos em 2020, representando 46,72% da produção total.
No mesmo ano, a produção de uva no país foi de 1,4 milhão de toneladas, sendo o estado do Rio Grande do Sul o maior produtor com mais de 735 mil toneladas. Pernambuco aparece na sequência com cerca de 339 mil toneladas.
Os gaúchos também são os com maior área cultivada com videiras, somando 46,7 mil hectares de um total de 74,8 mil hectares em todo o país.
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