A proposta orçamentária para 2022 do governo do presidente norte-americano, Joe Biden, propõe o montante de US$ 198 bilhões ao USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), uma redução de cerca de US$ 17,4 bilhões em comparação a 2021. Os programas obrigatórios do governo podem perder US$ 20 bilhões, corte que dee ser compensado com exportações agrícolas e de alimentos mais fortes e também com o aumento de US$ 2,6 bilhões para despesas discricionárias, o que é uma boa notícia para a comunidade de pesquisa, incluindo universidades, empresas e laboratórios no país.
Os quase US$ 2,6 bilhões em gastos adicionais propostos aumentarão o nível de financiamento de todas as agências de pesquisa do USDA, como o NIFA (Instituto Nacional de Alimentos e Agricultura). O instituto é composto por órgãos federais e estaduais do sistema nacional de pesquisa, extensão e educação agrícola. O NIFA receberá US$ 1,96 bilhão em financiamento discricionário, quase US$ 385 milhões acima do orçamento do ano fiscal de 2021. De acordo com o NIFA, o orçamento de diferentes programas, como a AFRI (Iniciativa de Pesquisa em Agricultura e Alimentos), aumentariam mais de 60% (US$ 265 milhões) e a Pesquisa e Extensão em Agricultura Sustentável receberia um aumento de 50%, para US$ 60 milhões.
Os novos investimentos em pesquisa, tecnologias e padrões baseados na ciência dão força à missão do USDA de atender à crescente demanda doméstica e global de alimentos por dietas e proteínas diversificadas, também promovendo a segurança alimentar e o crescimento agrícola sustentável.
Para o USDA, o termo ‘agricultura sustentável’ significa aplicar práticas para satisfazer as necessidades humanas de alimentos e fibras, fazer o uso mais eficiente dos recursos, fornecer uma renda agrícola mais lucrativa, promover a qualidade ambiental, dos recursos naturais e melhorar a qualidade de vida para famílias e comunidades agrícolas. Exemplos dessas práticas incluem a adoção de fertilizantes de liberação lenta, como o biocarvão de resíduos agrícolas ricos em nutrientes e de estrume animal, que podem reduzir a poluição provocada pelo escoamento de fertilizantes ou pesticidas.
Biocarvão de Estrume de Gado
O manejo do estrume do gado pode ser vital na redução do uso de fertilizantes químicos e no aumento da produtividade agrícola, atendendo às necessidades agronômicas das culturas. O manuseio de estrume, incluindo coleta e tratamento, tem implicações importantes para o uso de recursos, produtividade agrícola e qualidade ambiental. Tradicionalmente, o estrume tem sido usado como fonte de nutrientes e fertilizante natural para a melhoria da saúde do solo e das plantas. Porém, é um recurso que deve ser usado com cuidado: o estrume fresco tem altos níveis de poluentes e patógenos, mas devido ao seu alto teor de nutrientes é um recurso valioso para a agricultura. O uso excessivo de esterco fresco pode levar à lixiviação de nutrientes (fósforo e nitrogênio) afetando rios e lençóis freáticos e comprometendo a qualidade da água.
É essencial fornecer nutrientes suficientes para o crescimento e a produção saudáveis de uma cultura, mas sem poluir o meio ambiente. Esses desafios ambientais exigem novas soluções. O biocarvão de esterco animal foi sugerido em mais de 600 estudos nas últimas duas décadas, como uma prática de agricultura sustentável para melhorar a qualidade do solo e solucionar questões ambientais, como o excesso de oferta de nutrientes (eutrofização) em cursos d’água. A eutrofização pode reduzir o oxigênio na água e aumentar o crescimento das plantas aquáticas, o que causa mudanças estruturais no ecossistema, principalmente aumentando o crescimento de algas e plantas marinhas e ameaçando a sobrevivência das espécies de peixes. A EPA (Agência de Proteção Ambiental dos EUA) relatou que a eutrofização pode custar mais de US$ 2,1 bilhões por ano aos Estados Unidos.
Como funciona o biocarvão?
O aquecimento do estrume na ausência de oxigênio (pirólise) decompõe o material em carvão de pirólise, óleo e gases, também conhecidos como biocarvão, bio-óleo e gás de síntese. Esses produtos renováveis têm várias aplicações como modelos de sustentabilidade. O biocarvão do esterco pode reduzir a necessidade de fertilização do solo e funcionar como um fertilizante de liberação lenta, capaz de reter nutrientes e carbono no solo por anos e liberar macronutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio para o crescimento das plantas. Além disso, a capacidade aprimorada de retenção de água em solos corrigidos por biocarvão aumenta o rendimento da colheita por gota de água aplicada. A natureza porosa do biocarvão pode adsorver e imobilizar metais pesados, além de também reduzir sua absorção pelas plantas e subsequente ingestão por humanos e animais.
Várias empresas, fazendeiros e pecuaristas na Europa, Ásia e Austrália produzem biocarvão a partir de esterco animal que pode solucionar diversos desafios da sustentabilidade, incluindo manejo de esterco, uso excessivo de fertilizantes químicos, poluição das água por causa do descarte de dejetos da agricultura e da pecuária. O biocarvão à base de estrume é uma alternativa potencial para aumentar os benefícios da sustentabilidade nos cultivos e na gestão do agronegócio, além de ser uma boa recomendação de política em linha com a ordem executiva (EO 14008) publicada pelo presidente Biden em janeiro sobre o combate às mudanças climáticas, uma vez que promove a gestão de sistemas de carbono e esforços de mitigação de emissões de gases de efeito estufa.
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