Exportadores de café do Brasil fecharam acordo com a Serasa Experian para implantar, já a partir da próxima semana, um mecanismo que busca trazer mais transparência ao mercado e mitigar riscos de descumprimento de contratos por produtores, diante de preocupações de que alguns vendam o mesmo lote para mais de um comprador, anteciparam à Reuters os envolvidos na implantação do sistema.
O acordo, liderado pelo Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), foi feito em momento em que as lavouras do Brasil, maior produtor e exportador global, são atingidas por uma seca prolongada e por efeitos das geadas de junho e julho, potencialmente diminuindo a produção no ano que vem.
LEIA MAIS: Sul de Minas perde 19% do potencial da safra de café de 2022 após geada
Segundo o Cecafé, a plataforma já teve a adesão de compradores que representam mais de 70% do mercado, como exportadores e cooperativas, e começou a ser pensada no primeiro semestre, antes da geadas, que elevaram os temores sobre uma maior redução do potencial da safra brasileira em 2022.
Apesar das preocupações sobre cumprimento de contratos diante de safras menores do que o esperado este ano e em 2022, o diretor-geral do Cecafé, Marcos Matos, minimizou o tema, dizendo que o setor não tem registro de defaults.
“Não temos casos de inadimplência, o que sabemos é de alguns movimentos lá na base”, disse à Reuters Matos, citando que há apenas algumas falas de integrantes do setor produtivo de que, diante da forte alta dos preços, os cafeicultores deveriam buscar renegociação.
O preço do café arábica subiu cerca de 70% no acumulado do ano e atualmente está sendo negociado a mais de R$ 1.000 a saca de 60 kg, segundo dados do Cepea, conforme a expectativa sobre a produção brasileira diminui.
O sistema, disseram o Cecafé e a Serasa, visa preservar a solidez dos contratos futuros e a termo de café –neste último caso, quando os agricultores se comprometem a vender a safra antes mesmo da colheita, por meio de alguma antecipação de pagamento ou mesmo via barter, na qual o agricultor brasileiro comumente acerta o recebimento de insumos em troca do compromisso de venda futura.
As informações incluídas na plataforma, que será operada exclusivamente pela Serasa Experian, serão fornecidas por associados do Cecafé que aderirem ao projeto, atendendo, de maneira rigorosa, a legislação, especialmente a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), segundo os idealizadores do projeto.
Com essas informações, os compradores poderão saber, por exemplo, se eventualmente um produtor vendeu mais do que tem capacidade de produzir ou de ofertar, reduzindo riscos nos negócios para a cadeia produtiva.
Segundo o diretor do DataLab e responsável pelas ações voltadas ao agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta, o sistema garante o segredo comercial, mas ele compartilha informações “para que se possa criar uma reputação do produtor rural frente ao mercado”.
Sistemas semelhantes envolvendo os setores de soja e milho do Brasil já foram anunciados mais cedo neste ano, com parceria da Serasa, e estão funcionando.
“Para o segmento de agro, essa é uma invenção brasileira”, comentou Pimenta, à Reuters, explicando que o sistema de vendas antecipadas e “troca” por insumos é um esquema nacional pouco visto em outras nações.
Segundo ele, na soja e no milho, os volumes de whashouts (em que há uma renegociação do contrato mediante o pagamento de uma multa) e de contratos inadimplidos se reduziram “significativamente”, após a implantação das plataformas em 2021.
“Se pensar no benefício que isso trouxe, se comparar este ano ante anos anteriores, podemos dizer que reduziu bastante”, declarou Pimenta.
ARBITRAGEM
O Cecafé, disse Matos, quer passar uma mensagem de profissionalismo e trabalha na linha de que contratos têm que ser cumpridos.
Ele disse que a iniciativa se integra dentro de um contexto de modernizar o setor e de dar transparência aos negócios.
Entre outras iniciativas, ele citou que o Cecafé estuda a implantação de uma câmara de arbitragem, que poderia resolver contenciosos entre vendedores e compradores, agilizando os processos e evitando disputas judiciais.
“Quem busca o entendimento, vai ser sempre muito bem-vindo”, disse, ressaltando que mesmo os agentes financiadores do agronegócio, e o produtor em última instância, poderiam ser beneficiados em um ambiente com menores riscos.
“Queremos que o sistema financeiro também nos olhe positivamente”, disse Matos, acrescentando que a plataforma da Serasa Experian poderá ser útil para acompanhar negócios da safra atual, cuja colheita está no final, mas com grandes volumes ainda para serem entregues.
O representante do Cecafé disse que a entidade está preparada para agir, caso produtores questionem o mecanismo, ressaltando que tudo está sendo feito dentro das regras e leis.
O valor do contrato do Cecafé com a Serasa Experian não foi divulgado. (Com Reuters)
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.